As bancadas do PT no Senado e na Câmara felizmente começam a adotar uma posição mais afinada e mais firme após encontro com Lula e Haddad em uma Live onde debateram crise política, pandemia e qual posição o PT deve assumir para contrapor à política cada vez mais perversa de Bolsonaro e de seu governo no trato da crise na saúde agravada pela pandemia e de uma economia devastada pela excessiva incapacidade de comandar os destinos País. De outro lado, a resistência já faz eco em um setor bastante forte da classe média e rica que também está sendo atingida em cheio por esta crise e se juntam à campanha pelo Fora Bolsonaro, grito que já vinha das manifestações sociais de rua e que agora acontece nos panelaços diários.
O encontro que teve apenas a participação dos parlamentares, foi publicado após o seu encerramento com a fala de alguns parlamentares, da deputada e presidente do PT, Gleisi Hoffmam, e dos líderes das bancadas que por meio de uma videoconferência apresentaram os resultados deste importante momento com Lula. Também será levado e debatido com a executiva nacional do partido para uma avaliação e posicionamento, sobretudo quanto à principal questão que tem mobilizado os movimentos de esquerda, as oposições e grande parte da militância, que é o impeachment ou “Fora Bolsonaro” e sobre propostas de ajuda à população desempregada e os mais pobres neste momento de isolamento social.
Importante observar que quando as oposições se unificam numa mesma pauta o resultado é quase sempre vitorioso. Por exemplo, na votação da Renda Mínima de 600 reais para algumas categorias e 1200 reais para as mulheres com filhos o resultado foi a significativa vitória das bancadas de oposição contra a proposta do governo de uma renda mínima de 200 reais proposta pelo banqueiro ministro Paulo Guedes.
É urgente aprofundar sobre o que fazer diante desta gigantesca crise sanitária e de saúde pelo COVID19 que ataca fortemente o Brasil que já conta com mais de 43 mil casos confirmados e quase 2800 mortos, sem contar as mortes não notificadas. Considerar ainda sobre o perigo de manter um governo que em nenhum momento se mostrou sensível às milhares de mortes no mundo, e que, ao contrário, quer afundar o Brasil numa crise onde morram os idosos e aqueles mais vulneráveis e não produtivos; o mesmo governo que desmontou o ministério da saúde que ao menos passava as informações da crise e defendia o isolamento como medida para evitar a propagação da doença e já admitia a importância do SUS e que na troca do ministro da saúde nomeia um que defende um alinhamento completo com a política genocida de Bolsonaro que adota o discurso de suspender a quarentena e o retorno imediato ao trabalho para que empresas e bancos não sejam afetados pelas perdas em seus lucros. Então, a prioridade a esse debate do que fazer não pode ser adiada nem por mais um dia sequer. O PT e a oposição deveriam seguir adiante na antiga proposta de uma Frente Ampla para enfrentar, junto com os governadores e demais setores democráticos da sociedade esta situação caótica causada pela crise do COVID19, ou seja, uma frente que neste momento assume as rédeas desta crise com propostas de medidas emergenciais, pressionando o Congresso a colocar na pauta a votação de medidas urgentes de combate à pandemia e a de abastecimento da população neste momento de quarentena, de contratação de médicos para percorrer as periferias, (neste sentido é importante pressionar para que voltem os médicos cubanos que já conhecem o histórico de muitas famílias que antes nunca haviam passado por uma consulta), de criação de quantos leitos forem necessários em UTI’s, colocar as empresas para a produção de máscaras e investimento nos laboratórios de pesquisa da vacina contra a doença, importação ou ampla produção de testes para detectar o coronavírus, discutir com as embaixadas da Rússia e da China a importação de medicamentos como fez Flávio Dino governador do Maranhão. Ou se concentra nessa perspectiva ou o sistema de saúde entra em colapso colocando o País na mesma estatística de mortes da Itália, Espanha e agora os EUA. O Brasil com esse governo que esculhamba as instituições, com uma economia que afunda, uma pandemia a ser administrada e uma oposição apática, se continuar assim, em duas semanas será a maior catástrofe já vista neste país.
Em contrapartida vê-se uma população muito unida e solidária nos parcos recursos que tem. Contudo, essa solidariedade está longe de ser o suficiente e não resolve a questão principal de garantir que não correm o risco de contaminação. São várias as iniciativas de ajuda que se manifestam principalmente nas comunidades mais pobres onde seus moradores passam pelas dificuldades da ausência dos governos nestes locais. Paraisópolis a maior favela de São Paulo com mais de 100 mil habitantes, encravada no meio de luxuosas mansões de muros altos, sem saneamento básico, problemas graves de segurança, extrema pobreza, está enfrentando a pandemia com a organização dos próprios moradores, que contrataram dois médicos, dois enfermeiros e duas ambulância para fazer as vezes de um Estado ausente. Os moradores vão se ajudando uns aos outros. Exemplo de Paraisópolis é seguida por muitas outras comunidades pobres de São Paulo e Rio de Janeiro, estados epicentros da pandemia. É assim que a população mais pobre tenta driblar a doença, sem assistência, sem esperança, sem políticas públicas e sem governo.
A ausência do maior e principal Partido de esquerda, o PT, no debate político sobre este dramático momento de crise no País, tem incomodado não apenas a sua militância, mas também vários de seus aliados políticos de esquerda que diante desta apatia passam a buscar soluções individuais. E este, definitivamente não é o momento para saídas isoladas, pois o País corre um gravíssimo risco de ruptura constitucional, de um profundo retrocesso na democracia que é o que quer impor Bolsonaro e sua gangue desde que assumiu o governo. Bolsonaro não quer governar, quer ter as rédeas do poder e implantar o fascismo com uma atuação permanente e eficaz de seu gabinete do ódio dirigido por seus filhos e com uma assessoria externa orientados provavelmente pela inteligência americana. E isto está mais que evidente, quem não percebeu ainda seu excessivo desrespeito e desprezo pela democracia e pela sociedade? E age assim porque conta internamente com o apoio de uma significativa fração das Forças Armadas instaladas no seu governo e uma robusta milícia que armada até os dentes tem a função de defender este projeto político. O atrevimento desta sanha bolsonarista tem como alvo principal abastecer os interesses americanos, as poderosas empresas multinacionais e o do capital financeiro global, que com a contribuição da Cia e da Lava Jato no Brasil vão passando e eliminando tudo o que tem pela frente sem qualquer escrúpulo. O objetivo é muito evidente, a entrega total da soberania com todas as suas riquezas.
Importante considerar que o desastre causado pela pandemia, aqui na região da América, tem a ver com as políticas neoliberais adotadas por vários governos na América Latina e no Brasil que destruíram suas economias e enfraqueceram o Estado que já vinha se fortalecendo pelo desenvolvimento alcançado na última década. Entender também a maneira como este processo foi sendo construído é importante para desenvolver a política de resistência e enfrentamento conjunto já que existe uma relação e semelhança nestes retrocessos que prosperaram quase que simultaneamente! Um novo modelo de golpe que foi minuciosamente estudado e testado para derrubar governos sem dar um tiro sequer, agora mantém essa guerra utilizando os instrumentos mais sofisticados da comunicação como as redes sociais, as fake news, os robôs que transformam muitos de seus seguidores em verdadeiros monstros. São os mesmos que incitados por Bolsonaro vão às ruas ou em carreatas com o único objetivo de defender o Mito e seu projeto entreguista e com ações agressivas e assustadoras somente comparados às manifestações fascistas e nazistas. Continua ainda a perseguição aos partidos de esquerda, aos movimentos sociais e a direções importantes como os ex-presidentes Lula, Dilma Rousseff, Evo Morales, Rafael Correa e Cristina Kirchner, e esta implacável perseguição é a expressão máxima do ódio que a classe dominante tem dos trabalhadores, e da população mais pobre, as mais beneficiadas nos governos que adotaram a inclusão social como prioridade. E essa articulação política muito bem sucedida entre os governos neste período atiçou a ira do governo norte americano porque além do desenvolvimento no campo comercial, a independência política passou a representar uma ameaça ao projeto americano de ocupação da Venezuela para usurpar suas riquezas.
A integração da América Latina foi uma obra grandiosa com a participação ativa destes governos e que por meio da construção de blocos regionais como Unasul, Mercosul, Alba, buscava o desenvolvimento sem a interferência política norte americana na região. Esse movimento explica muito bem o lawfare, que opera da forma mais obscura: uma guerra travada por meio da manipulação das leis para atingir alguém que foi eleito inimigo político. É o uso abusivo da lei como uma arma de guerra e uma estratégia para derrubar governos . Venezuela continua sendo o único país a resistir porque tem a a firmeza e unidade do exército em torno do governo Nicolás Maduro e a garantia de uma força interna inabalável que são as milícias populares, importante legado deixado por Hugo Chaves que nunca vacilou diante das ameaças do governo norte americano. É neste cenário que América Latina enfrenta esta pandemia, com o desmonte das estruturas e desenvolvimento alcançados anteriormente pelos governos populares e progressistas, hoje as desastrosas condições econômicas, social e política se aliam a mais esse desastre de uma doença frente à qual não existe ainda um remédio para a sua cura.
“O cenário pós-pandemia provavelmente será um cenário extremamente difícil e complexo. A maioria das economias ficará muito enfraquecida, com altas dívidas e alto desemprego. Portanto, será necessário um grande esforço internacional para a implementação de planos e políticas anticíclicas que visem promover o desenvolvimento sustentável. Além disso, serão necessárias medidas para enfrentar as principais vulnerabilidades que tornaram a atual pandemia tão perigosa e agressiva: desigualdade e fragilidade ou ausência de sistemas públicos de saúde. Por conseguinte, convidamos governos, organizações e povos do mundo a uma reflexão serena, quando a pandemia termina, sobre um Novo Modelo de Desenvolvimento, que coloca primeiro valores até então desconhecidos, como meio ambiente, inclusão social, redução de desigualdade, segurança alimentar, desarmamento militar, multilateralismo e progressividade fiscal. O mundo globalizado após esta pandemia deve ser o mundo da colaboração e ação coletiva nacional e internacional. Esperamos deixar para trás esta crise global da saúde em breve, para poder retomar a organização de nossas reuniões pessoalmente e, assim, poder continuar a debater e articular políticas progressistas que nos incentivem a criar uma melhor para agora e para amanhã.“ (Trecho da declaração final da III Reunião do Grupo de Puebla Progressismo é Humanidade Reunião Virtual, 10 de abril de 2020)
Marta R. Costa
Pelo Comitê de Redação
São Paulo, 20/04/2020