Os rumos da Nação no caos do governo Bolsonaro


O Brasil já passou por governos capitalistas de corte neoliberal com consequências danosas profundas contra à economia social, retrocessos, privações e privatizações, desde Collor de Melo, F. H. Cardoso a Michel Temer. Mas, o fato é que Bolsonaro encarnou o ápice da crise profunda do sistema, o pior, a sua face neofascista. O poder hegemônico financeiro internacional, requer nesta fase figuras como Bolsonaro que encontram respaldo e crescem no meio de cultura adubado previamente por anos de fakenews, lawfare, injeção de aculturamento e despolitização pela Globo e mídia hegemônica, desorganização social, sindicatos e meios de comunicação alternativa debilitados. A grande vantagem, neste processo desigual e combinado, é que o Brasil, foi capaz de criar um Lula, concentrou o melhor da consciência social e a esperança de reverter e transformar não só a sociedade brasileira, mas a América Latina.

Mas, eis que com Bolsonaro, o caos se instalou em todos os setores da política, da economia, da vida social, cultural, do meio ambiente, do mundo do trabalho, das empresas, do Estado, das empresas estatais, para não falar da saúde, com todas as políticas equivocadas e criminosas do governo que levaram a mais de 600 mil mortes pelo coronavírus e agora, com o retorno do Brasil ao Mapa da Fome da FAO e a inflação, além da taxa de desemprego desastrosa. Tudo isso não é produto de uma política equivocada adotada pelo governo Bolsonaro. É fruto da crise final do capitalismo. Como Piñera no Chile, Lasso no Equador, além do golpismo latente da direita na Bolivia, dos Fujimori no Peru e de Macri na Argentina. O pano de fundo é a crise do capitalismo a nível mundial que poderia ser mitigada com políticas desenvolvimentistas, de defesa nacional conduzidas pelo Estado, da chamada Terceira Via. Nada mais que mitigadas, para adiar a explosão social.

Obviamente há que combater sem tréguas o governo Bolsonaro com grandes manifestações populares, promovendo um debate qualificado, dando valor e importância à CPI da Covid-19 que vai ser enviada ao Ministério Público, ao Congresso Nacional, às entidades de Direitos humanos a nível internacional; agregar denúncias contra 66 pessoas, além do Presidente da República autor de nove crimes contra a população. Mas, é essencial, além de avançar no “Fora Bolsonaro”, explicitar os motivos desta crise, denunciar os agentes econômicos, a concentração financeira, o poder das corporações midiáticas, a conivência da Justiça, do Congresso Nacional com o poder de fato. Eis aí a prova cabal que dá o banqueiro André Esteves sobre as interferências na Câmara (com a cumplicidade de Arthur Lira), no Banco Central e no STF. Há que desmascarar todos os agentes políticos, judiciais e midiáticos da privatização dos Bancos, do Banco do Brasil e Central. Os sindicatos devem levar batalha contra a privatização dos Bancos, o desemprego e levantar a bandeira da soberania nacional, como fazem os petroleiros na dura batalha contra a privataria da Petrobrás que levou à insuportável subida de 7% o preço da gasolina

A política do Ministro da Economia, Paulo Guedes, é o braço do desmonte da sociedade brasileira. No Brasil, um dos maiores produtores de alimentos do mundo, o povo passa fome! Um dos maiores produtores de petróleo e gás possui um dos maiores preços de combustíveis do mundo; e uma boa parcela da população volta a cozinhar com lenha. Um país com uma das maiores diversidades ambientais do mundo, vê suas matas serem queimadas e devastadas; suas terras contaminadas por agrotóxicos, reduzidas a uma concentração fundiária brutal. Os centros de pesquisas retrocedem criminosamente por falta de verbas. O país sucumbe à beira do colapso, com o racionamento de energia, apesar de ter uma matriz energética das mais limpas do mundo; energia proveniente dos reservatórios e das suas hidrelétricas; energia renovável, solar e biomassa. Entretanto, a nação continua a pagar uma dívida púbica duvidosa e não auditada, como se nada estivesse acontecendo. Há que martelar, insistir, via comunicação pública, denunciando claramente o poder destrutivo do sistema financeiro internacioal que pisoteia há anos o orçamento da nação.

A prática golpista da Globo vai continuar, pois sua razão de ser vem de dentro e fora do país. Bolsonaro será descartado pela Globo para refinar sua política golpista. Leia-se na máxima da Terceira via, nem Bolsonaro e nem Lula:  “Procura-se um representante mais confiável dos interesses do capital financeiro especulativo e das grandes fortunas, capaz de pacificar e conter as massas”. Mas, ao mesmo tempo, o fato é que o desgaste de Bolsonaro não vai ser facilmente substituído por uma terceira via qualquer. O povo percebe que foi enganado, muitos pobres que votaram contra o PT e no Bolsonaro já estão entendendo de onde veio a pancada.

O PT e as esquerdas não devem apostar só na perspectiva eleitoral

Todas as pesquisas dão uma margem de vantagem eleitoral ao Lula nas eleições presidenciais de 2022. É preciso ter cautela com estas pesquisas, pois Bolsonaro não está morto. O cenário político nacional mudou muito. A direita se articula com força junto às igrejas neopentecostais, ao tráfego de drogas, às polícias militares e às milícias, nos moldes da direita colombiana. Em boa parte, o uso da religião tem servido para formatar um fascismo moderno; não há que esquecer os danos causados pelo ISIS e o terrorismo islâmico instrumentalizado pelo imperialismo no Oriente Médio.

A disputa pela venda de drogas no território é uma realidade, gerando mortes e um clima para a intervenção de esquadrões que poderão também camuflar perseguições a lideranças políticas. O caso Marielle (PSOL) está presente. Este caso elucidou que as milícias têm um projeto político da direita de ocupação, financiadas com dinheiro sujo e do exterior.   Estão organizadas para desestabilizar as instituições, disputar o Estado, os parlamentos, as prefeituras, os territórios e se consolidarem mais com a reeleição de Bolsonaro. As fakenews, as redes sociais operam para conquistar territórios (drogas e milícias) e mentes das pessoas, santificadas pelas igrejas neopentecostais que funcionam a todo vapor, 24 horas por dia. A igreja católica perde a corrida: fica fechada durante a semana e só abre nos finais de semana. A situação não é igual em todo o território nacional, mas o Rio de Janeiro e Bahia, para citar alguns estados, já têm esta estrutura montada: cartel-milícia-neopentecostais. Há muito que as associações de bairro destes locais não são disputadas por petistas. O PT não pode viver da nostalgia dos anos 80 em que os núcleos de base do Partido e as comunidades eclesiais de base, os orçamentos participativos eram centros de debate e organização popular. É preciso atuar já, como se vê em algumas iniciativas interessantes no PT Periferia de Belo Horizonte, expostas neste vídeo da TV247. Esse é o clamor de Lula na sua reentrada em campo. Não se pode viver em função das eleições de 2022, nem esperar que a vitória eleitoral seja a única meta das transformações sociais no país. Conscientizar, mobilizar e apoderar o povo no campo e na cidade. Reativar os sindicatos.

Estas mesmas pesquisas eleitorais que dão vantagens ao Lula, não podem induzir o PT a negligenciar com a comunicação de massas. Por ora, o partido político, TV Globo, se posta numa disputa com Bolsonaro. Entretanto, o jogo deve mudar rapidamente, e cabe ao PT se preparar para esta disputa. Além de dever enfrentar um parlamento totalmente submisso aos interesses financeiros, à bancada da bala (das milícias), do boi (da oligarquia rural), e das indústrias farmacêuticas terá que enfrentar a influência das igrejas neopentecostais, as milícias nos territórios controlados pelo tráfico de drogas. É louvável o chamado do PT aos seus militantes para voltarem ao trabalho de base, mas é essencial que a militância tenha ferramentas de luta, sobretudo a mídia popular: rádios e tvs comunitárias. A participação contínua de Lula nesses meios de comunicação tem sido uma guia. O alerta para constatar estas regras do jogo pesado não é nacional, é internacional.

Lula e o contexto mundial

Lula tem percorrido o país, defendendo um programa de retomada do desenvolvimento econômico, inclusão social, investimento nos setores dinâmicos da economia como na construção civil, na agricultura familiar, reiterando a meta de que cada brasileiro possa consumir no mínimo três refeições por dia. O polo de desenvolvimento econômico dinâmico mundial se transferiu em parte para a Ásia e corretamente, Lula tem defendido consolidar a parceria do Brasil dentro do BRICS, particularmente com a Rússia e a China numa perspectiva de reindustrialização do país. Aos EUA cabe sua postura histórica, sistêmica de articular golpes e mais golpes para impor seus interesses estratégicos, como é o caso de impedir uma maior articulação do Brasil com o BRICS, destruir a preservação estatal das reservas de petróleo do pré-sal e, logicamente convocar, por boca de Bolsonaro, a entrega do Brasil a bases da Otan.   

A avaliação das relações de forças internacionais que incidem nos ritmos e prazos das perspectivas de resolver o impasse brasileiro, deve contar com o que diz o presidente de uma das potências decisivas no embate econômico-militar com os EUA: o presidente russo, Vladmir Putin, recentemente no encontro do Fórum do Clube de Valdai, na cidade russa de Sochi, disse: “O modelo existente do capitalismo se tem esgotado, não tem forma de sair do emaranhado de contradições”. Denunciou que os governantes se utilizam da retorica da solidariedade, mas que com a Covid-19, ficou claro que esta solidariedade fica apenas nas palavras. Prosseguiu Putin: “A distribuição desigual dos bens materiais conduz a uma crescente desigualdade, especialmente a uma desigualdade de oportunidades tanto dentro das sociedades como a nível internacional”. 

Evidentemente, Lula, como Celso Amorim, têm consciência deste processo e deverão preparar-se para enfrentar novas situações num futuro governo do PT (e aliados) que serão de maiores enfrentamentos globais. A direita não deixa o campo por uma simples derrota eleitoral. Esse é o exemplo das corporações financeiras que através de Macri e da grande mídia na Argentina, não cessam de ameaçar o governo peronista-kirchnerista atual da Frente de Todos; além das tentativas golpistas constantes contra o governo de Luis Arce/Evo Moráles na Bolívia e de Pedro Castillo no Peru. A polarização de enfrentamento sistema contra sistema é evidente, e a submissão das direitas nacionais aos interesses geopolíticos dos EUA é cada vez mais descarada. Restringem-se as perspectivas econômico-sociais de um nacionalismo estritamente burguês, sobretudo sem Estado, e avançam as possibilidades e necessidades para constituição de Estados Revolucionários como Cuba e Venezuela. Os limites dos governos populares da década anterior, são indicativos: ou alinha-se à esquerda numa saída econômica integrada com a China, Rússia e os BRICS, a CELAC, a UNASUL, com participação popular e exércitos dispostos a defender a soberania nacional, ou vai-se num beco sem saída dentro do capitalismo cada vez mais sem capacidade de desenvolver as forças produtivas e a inclusão social, com riscos a saídas violentas e explosivas.  

Comitê de Redação

Outubro de 2021

Crédito Foto: Roberto Parizotti

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