Foi na destacada 16ª Conferência do BRICS que reuniu 36 países em Kazan, cidade histórica da Rússia, de 22 a 25 de outubro, que a decisão pela ampliação desta importante instituição foi determinada por seus membros desde 2009, (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), os novos desde final de 2023, Irã, Egito, Emirados Árabes Unidos e Etiópia, onde confirmaram a inclusão de Cuba, Bolívia, Turquia, Nigéria e Indonésia, como membros parceiros.
Enfim, um acontecimento histórico que alicerça um novo mundo multipolar, em contraposição à hegemonia dos Estados Unidos e da Europa da OTAN. Isso significa construir um mundo fora da hegemonia do imperialismo sionista anglo-americano com possibilidades de se estabelecerem relações políticas e econômicas que favoreçam todos os parceiros. Enfim, muda-se a relação de forças para a edificação de um mundo mais justo e igualitário.
Coordenam-se e se unem forças de um mundo que concentra riquezas naturais e energéticas enormes que abrangem mais de 3,6 bilhões de pessoas que integram o mercado dinâmico, 45% da população do planeta, 36% do PIB mundial. Abrem-se as comportas para um anti-imperialismo financeiro, social e político. A defesa dos recursos naturais e energéticos dos países do BRICS, em mãos de governos democráticos e soberanos que são donos da maior parte das riquezas do planeta entre petróleo, ouro, lítio, pedras raras, manganês e grafite. Nesta direção, o BRICS ganha atenção significativa por sua progressiva influência nas economias e políticas globais.

Estão sendo construídos outros paradigmas desde a segunda guerra mundial. Um dos paradigmas mais importantes é a substituição do dólar por uma cesta de moedas e a criação de um sistema de transações financeiras fora do swift. Um processo ainda em construção, mas viável. O imperialismo chegou ao desespero ao confiscar bens de seus inimigos políticos, como fez com o ouro da Venezuela e as reservas cambiais da Rússia. Desdolarizar é uma das medidas mais relevantes defendida pelo BRICs e pela presidente do NDB, Banco de Desenvolvimento, Dilma Rousseff, medida que altera substancialmente o tabuleiro do poder econômico global.
Mudanças que vêm no bojo de uma guerra aberta dos EUA e da Europa contra a Rússia através da Ucrânia. Vem no bojo do maior genocídio televisado contra o povo da palestina em Gaza. Vem no bojo da destruição do Iraque, da Líbia, da ocupação de parte do território da Síria, e agora da destruição de parte do território do Líbano; dos assassinatos de líderes palestinos, iranianos e libaneses pelo Mossad; da repressão de Zelenski contra a população da região do Donbass na Ucrânia; enfim, no bojo de 60 anos de bloqueio contra Cuba e agora, o bloqueio contra a Venezuela – revolucionária e bolivariana.
Como toda mudança, não se trata de rupturas de um dia para o outro, mas um processo em construção, de luta de classes, em que o imperialismo sionista anglo-americano busca desesperadamente uma saída através das guerras eternas, golpes contra governos democráticos, como foi o golpe contra a ex-presidenta Dilma, e agora, a tentativa de golpe contra Petros na Colômbia.
Como já previsto nos escritos de J. Posadas, a unificação China-Rússia era imprescindível e mudaria a correlação de forças mundial. E mudou. Classifique-se a Rússia e a China em várias opções: como comunistas, capitalismo de estado, socialista com características chinesa, mas são as estruturas de Estado operário que tem determinado o avanço destes países como países com capacidade de criarem uma nova sociedade, de enfrentar o imperialismo e criar uma nova ordem econômica e política mundial.Leia mais sobre a importância do papel da China no BRICS no artigo que publicamos neste site.

O significado político do encontro em Kazan e os pontos conclusivos do BRICS são um terremoto para imperialismo norte-americano, sobretudo o golpe à hegemonia do dólar e o incentivo às trocas com moedas locais nacionais. Um ponto decisivo a favor da soberania financeira dos países em desenvolvimento. Aspirações como esta custaram o fim da Líbia de Kadafi.
A união dos governos do BRICS e as conclusões econômico-políticas da 16a. Cúpula de Kazan, sob a supervisão de Putin e da enorme capacidade organizativa da Rússia, incluindo as posturas de Guterres da ONU, e Abu Abbas da Palestina, pondo freios à OTAN na Ucrânia de Zelenski, e condenando unanimemente o massacre contra Gaza, seria razão para mil bombas atômicas dos EUA contra o mundo multipolar. O único tempo de espera está sendo o resultado das eleições nos EUA. Porém, o imediato ataque de Israel ao Irã (dosificado pelos EUA) e o inesperado atentado da direita contra Evo na Bolívia após um discurso construtivo de Luis Arce em Kazan, é chamativo e desestabilizante.
É grave a posição do Brasil de veto à participação da Venezuela no BRICS. Já de antemão o seu não reconhecimento à legitimidade da eleição de Nicolás Maduro, é sem fundamento e um ato anticonstitucional no que se refere à ingerência na soberania de outro país. É lamentável que o veto do Brasil à Venezuela justificando o golpismo fascista de Guaidó e Corina Machado não tenha sido revisto pelo governo Lula e ter-se reafirmado no veto à participação no BRICS.
Este segundo veto também rompe com a constituição brasileira que diz que “A República Federativa do Brasil buscará a integração econômica política social e cultural dos povos da América Latina, visando a formação de uma comunidade latino-americana de nações”. Onde está o Brasil que apoiou a Celac, Unasul e Alba e a integração da América Latina? O veto à Venezuela, através do Itamaraty e seu Ministério das relações exteriores, a desfavor da coerência e estabilidade do governo Lula, sinaliza uma submissão a pressões internas aliadas ao império norte-americano; o mesmo responsável pelo bloqueio à Venezuela e Cuba, e pela ação genocida de Israel em Gaza.
O veto à Venezuela é um erro, um ato alheio aos princípios de independência e integração do BRICS. Putin, com atitude objetiva e construtora, criticou o veto brasileiro, defendeu a República Bolivariana citando a Hugo Chávez, na expectativa de uma revisão futura. Ao mesmo tempo apoiou a continuidade de Dilma Rousseff como presidenta do Banco NBD (com seus 33 bilhões de investimentos e projetos nacionais) que soube se diferenciar, apoiando a expansão do BRICS. Como opor-se à Venezuela, que oferece umas das maiores fontes petroleiras para o desenvolvimento energético do mundo multipolar?
Vários representantes de partidos e movimentos de esquerda, incluindo o PT, não se posicionam em conformidade e devem pressionar por uma revisão da política exterior do governo Lula. Não há como defender a paz na Palestina, mantendo o comércio e a exportação de armas a Israel; nem solidarizar-se contra o apagão em Cuba, exportadora de médicos cubanos para a saúde pública do Brasil; nem reconhecer a ajuda realizada pela Venezuela (via Amazônia) durante a pandemia, vetando a Venezuela no BRICS.
Estar alheio ao recebimento feito por Putin a Maduro, nesta etapa do mundo global é dar um tiro no próprio pé. Mesmo com todas as limitações, burocratismos não superados, é objetivo e construtor impulsionar o que a história nos oferece a favor da humanidade em tempos de guerra. As lideranças políticas, e os membros da diplomacia, assistem o que os meios de comunicação como Telesul transmitem? Vejam palavras, olho no olho, entre Maduro e Putin. Por outro lado, Putin em entrevista coletiva refere-se ao veto brasileiro, justifica seu apoio à Venezuela e envia uma mensagem crítica ao Brasil, mas esperançosa de revisão. Assim se debate e se constrói um mundo solidário, de paz e justiça social.
“Quanto ao Brasil, a avaliação que ele faz do que ocorre na Venezuela, já conhecemos. Nossa posição sobre a Venezuela não coincide com a do Brasil. Digo isso abertamente. Falamos disso por telefone, anteontem, como o presidente do Brasil, Lula da Silva, com quem mantenho relações que considero amistosas. Venezuela está lutando por sua independência e pela sua soberania. Lembro de uma vez quando o líder da oposição, depois das eleições anteriores, saiu na praça, levantou os olhos ao céu e disse, que se considerava presidente perante Deus. Tem graça? E nesse momento, discutimos essa situação com os dirigentes dos EUA. Apoiaram e continuam apoiando à oposição. Mas, guardaram silêncio modestamente, sorriram com satisfação, e isso foi tudo. É claramente ridículo. Não? Qualquer um pode sair aí fora, levantar os olhos para o céu e declarar o que quiser, incluído, o Papa. Não deveria funcionar assim. Há certos procedimentos de caráter eleitoral, ir às urnas e vencer. Cremos que o presidente Maduro ganhou as eleições, limpidamente e formou legitimamente o governo. E desejamos êxitos ao seu governo e ao povo venezuelano. Mas, espero que Brasil e Venezuela resolvam suas relações bilaterais em uma discussão bilateral. Eu conheço o presidente Lula. É um homem muito decente e honesto. E estou seguro de que abordará esta situação desde essa posição. Uma posição de caráter objetivo. E me pediu que lhe transmitisse algumas palavras ao presidente da Venezuela durante nossa conversação telefônica. Espero que a situação se estabilize.”(Vladmir Putin)
Como se vê, no Brasil, os meios de comunicação, não deram a devida repercussão à 16ª. Reunião de Cúpula do BRICS na Rússia, mesmo considerando seu papel na geopolítica, hospedando em novembro próximo um G20, e a perspectiva do mando presidencial do BRICS em 2025. Mas, uma grande importância foi dada por intelectuais e políticos da esquerda, através de vários blogs, seja de saudação ao BRICS, como de protesto pelo veto do governo brasileiro à Venezuela. O rechaço ao posicionamento do Brasil foi grande na República Bolivariana da Venezuela e na América Latina. Veja a Declaração da Rede de Intelectuais em Defesa da Humanidade.
É importante Lula rever a posição brasileira e retomar os alicerces e o programa do governo progressista do PT. As trabalhadoras e os trabalhadores brasileiros, que elegeram Lula, contra forças retrógradas da oligarquia financeira aptas a desestabilizar e golpear, contam com uma política mais audaz e eficaz do presidente e do partido que escolheram para ser seu representante.
Editorial
Comitê de Redação
PosadistasHoje
27/10/24
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