No dia 14 de junho, em Teerã, 3 milhões de pessoas participaram das manifestações pelo aniversário do feriado religioso de Ghadir*. O povo iraniano, expressa seu apoio ao líder supremo Khamenei para enfrentar os ataques terroristas e os bombardeios do governo sionista. Na euforia dos ataques com mísseis contra as cidades de Israel, não se deu a devida atenção ao anseio popular, que é a base de toda ação militar.
Vale ressaltar que, ontem, manifestantes de Teerã já haviam saído às ruas, mesmo antes da reunião do Conselho de Defesa Nacional e da reação iraniana, pedindo para atacar Israel. A reação da população é o mais importante e, juntamente com os militares, eles estão preparando a limpeza interna das redes de espionagem espalhadas por todo o país. Entre os documentos secretos que o Irã capturou de Israel, está um que demonstra a colaboração entre Rafael Grossi e o Mossad. Grossi, diplomata argentino, é o Diretor Geral da Agência Internacional de Energia Atômica desde 3 de dezembro de 2019, instigador da guerra de Israel contra o Irã, acusando-o de produzir urânio para a bomba nuclear. É improvável que este espião retorne ao Irã para medir a radioatividade em Natanz.
Esses são os elementos que avançam combinadamente, mesmo com atraso; e não poderia ser de outra forma. Há muitas críticas, inclusive no parlamento, contra a desativação do terceiro ataque prometido na época. Dizem que “houve aqueles que impediram o terceiro ataque, que, se tivéssemos feito isso, não estaríamos nas condições atuais”.
As autoridades de segurança, após proibirem o tráfego de caminhões e vans fechadas, especialmente à noite, pediram à população que participasse e denunciasse casos suspeitos. Como no caso da Rússia, a primeira onda de ataques no Irã foi com drones montados no local e que chegaram por meio de transporte por terra. Quanto aos ataques militares, por enquanto o Irã poupou a usina nuclear de Dimona em Israel, apesar de ter sido atacado em seus centros em Natanz e Isfahan. Os ataques iranianos parecem limitados e em ondas sucessivas, segundo os israelenses.
Com o ataque de Israel às centrais nucleares em Natanz, a defesa iraniana foi pega de surpresa, como consequência da sua negativa de uma defesa mútua com a Rússia. O acordo apenas prevê, em caso de conflito, que a Rússia não ajudaria aqueles que atacassem o Irã. Os chauvinistas iranianos não queriam o Su 35 e os sistemas de defesa russos. Nesse contexto foi derrubado o anterior presidente popular e revolucionário, Raissi, com cumplicidade da inteligência turca, abandonando ou entregando seus aliados da resistência, pensando que seriam poupados ao se isolarem em casa. Mas, não. Netanyahu atacou, e conclamou o povo iraniano a uma derrubada de regime no Irã, como na Síria. Shamkhani, o ex-oficial de segurança nacional, mortalmente ferido, era um dos mais ricos e corruptos entre muitos, e o próprio General Salami era um dos chauvinistas sempre na defensiva, em forte contraste com Qassem Soleimani, general da Guarda Revolucionária Islâmica, morto num ataque dos EUA no Iraque, em 2022. Ali Khamenei não interviu a tempo e deixou livre os comandantes militares a responder.
A decapitação das forças militares no Irã levou à difusão das lideranças e do protagonismo das organizações que se reorganizaram e decidiram atacar. Isso significa que, se, como pretendem os sionistas israelenses, o líder aiatolá Khamenei for morto, a resistência e as capacidades de ataque não faltarão nem serão afetadas. Enquanto isso, a diplomacia da rendição, da demagogia e da entrega fracassou. Em vez do ministro das relações exteriores Araghcì e da amplitude de suas viagens e falsas declarações sobre passos positivos, juntamente com o apelo de Trump, agora falam os mísseis e a consolidação popular, que bloqueiam os conciliadores e afundam os derrotistas. Então, a seu tempo, também virá o confronto interno.
No decorrer dos acontecimentos desta matéria, com ataques e contra-ataques, desde o início da guerra (13 de junho), o massacre de Israel avança contra a população civil do Irã (90% dos mortos são civis), sob o mando de Netanyahu, com as mesmas intenções de desmantelar a Síria, e características genocidas contra Gaza; atinge casas, hospitais e a TV estatal (IRINN); esta, mantém sua transmissão com a resistência dos comunicadores iranianos. Diante do avanço do ataque sionista e das gigantescas mobilizações de apoio crítico ao governo iraniano, e do rechaço à guerra de Israel (por parte da Rússia, China, Brasil, Venezuela, Cuba, e Nicarágua, junto aos países árabes do Iémen, Turquía, Arábia Saudita, Paquistão e Sudão), o presidente do Irã, Pezeshkian, teve que sair da moderação e falar de “legítima defesa da soberania” frente à “inesperada” invasão israelense.
Desta vez o plano de Netanyahu e do imperialismo de acabar com o regime revolucionário de Irã (aproveitando-se das contradições internas do governo iraniano), pode não funcionar. Se Netanyahu levantou mais um bastão de guerra para entreter e fortalecer-se frente ao desgaste interior do governo de Israel, se equivocou. A figura de ayatolá, e a mobilização popular no Irã são incalculáveis. E provavelmente nem a Rússia e China vão deixar acontecer desta vez a destruição do Irã como a da Síria ou Líbia. O imperialismo está à beira de provocar um confronto mundial. Este ataque terrorista de Israel sionista contra o Irã, não é apenas uma guerra contra o Irã anti-sionista, mas é uma guerra do imperialismo contra os BRICS. Seria pura ilusão pensar que o imperialismo norte-americano, ou anglo-americano-sionista ficaria parado diante do fortalecimento do BRICS, tendo agora como membro o Irã, um dos maiores produtores de petróleo do mundo, e um canal da Rota chinesa.
Não é novidade que o capitalismo vai tentar resolver sua crise através da guerra. Historicamente, sempre o fez. Não há que esquecer que a guerra é um ataque pela sobrevivência do capitalismo cada vez mais incapaz e decadente, contra os avanços dos processos revolucionários e a resistência da humanidade frente ao genocídio em Gaza.
A questão é mais profunda que uma disposição russa de apoiar ou não o Irã. A Rússia é a principal fonte de armas convencionais avançadas do Irã que incluem sistemas de mísseis hipersônicos, drones de combate, etc… Irã e Rússia são parceiros econômicos e membros do BRICs; portanto, a Rússia não pode ser indiferente a qualquer ameaça externa que venha a sofrer o Irã. Num aprofundamento da guerra, ainda que regional, os principais atores da Nova Ordem Multipolar Global, como China, Rússia e demais parceiros do BRICs, deverão se posicionar contra o nazi-sionismo, representados pela OTAN, EUA e Europa Ocidental.
Trump não tem controle do processo, como nenhum presidente dos EUA, pois os EUA são controlados pelo sionismo, a começar pelo vice-presidente. Além disso, o Estado oculto (Deep State) governa os EUA, principalmente, os setores de fabricação de armas. Agora, tudo pode acontecer, inclusive utilização de armas nucleares por parte de Israel.
Atacar o centro de produção de energia atômica do Irã pode contaminar toda a região ao redor do complexo industrial. Depois do extermínio da direção militar dos Guardiões da Revolução do Irã e dos cientistas iranianos e os bombardeios contra civis, era lógico e inevitável que o Irã respondesse atacando Israel.
O genocídio em Gaza patrocinado pelo sionismo e o conflito na Ucrânia, é um prelúdio de que algo pior pode vir por parte do imperialismo. Quando atacam a TV estatal do Irã é porque querem impedir que o genocídio seja televisado e que a resistência popular se propague. É um sinal de que estão preparando coisa pior. A corda está esticando, uma hora vai arrebentar; o que significa guerra nuclear. Enquanto Trump fala em negociações, porta-aviões dos EUA e da Inglaterra já se aproximam e abastecem armamentos em Israel. A solidariedade ao povo palestino e iraniano deve também convocar o povo de Israel a rebelar-se contra o seu governo genocida.
Correspondências diretas do Irã
16/06/2024
(*) Eid al-Ghadir é um feriado religioso muito importante no Irã, especialmente para os muçulmanos xiitas. É celebrado como o dia em que o Profeta Muhammad designou Ali ibn Abi Talib como seu sucessor, um evento central na fé xiita. As celebrações incluem eventos públicos, visitas familiares e troca de presentes. Ghadir se refere a quando Maomé apresentou Ali, seu genro e companheiro de Fátima, como seu sucessor.