A defesa da soberania e da institucionalidade na Venezuela para frear a ingerência imperialista na América Latina


A defesa da soberania nacional e da institucionalidade na Venezuela é decisiva para impedir a ocupação imperialista da América Latina. Não se trata de uma eleição qualquer, ou mais uma, após 31 eleições onde respeitadas as regras constitucionais, o governo bolivariano venceu (salvo em duas onde a direita não reconheceu); desta vez, ameaçado antes, durante e após o 28 de julho com um induzido e prévio anúncio (da direita) de fraude. Trata-se de um pleito eleitoral que delimita: ceder ao golpe fascista da direita e do império norte-americano e sionista no contexto de uma terceira guerra mundial, ou traspassar os limites da revolução democrática burguesa, e consolidar a revolução bolivariana. Ou seja, saltar do Estado Revolucionário ao Estado operário.

A Venezuela, desde Hugo Chávez, tem sua história, suas peculiaridades e trunfos sociais, econômicos e políticos. Apesar das 600 sanções e boicotes dos EUA e da Europa, do roubo do seu ouro e das suas refinarias nos EUA, 7 tentativas de golpe de estado da direita, vários intentos de magnicídio contra Chávez e Maduro, o governo bolivariano expropriou a oligarquia do petróleo (do maior manancial do mundo), estatizou PDVSA, estruturou um Estado popular, acabou com o analfabetismo, deu cultura universal, livros baratos à cidadania, construiu 5 milhões de moradias para uma população de 35 milhões, abasteceu alimentos (tornou-se autosuficiente e acabou com a importação). A exemplo de Cuba, com quem mantém excelente cooperação, produziu vacinas e, não há que olvidar, doou caminhões sanitários durante a pandemia ao Brasil (via Amazônia). Onde está a ditadura? A do poder popular e dos trabalhadores e camponeses? A das comunas, das milícias da cidadania organizada como extensão do partido PSUV, ao lado do exército nacionalista, defensor de um Estado revolucionário, construído pelo coronel Chávez? Nada a ver com o fascismo das “guarimbas” de Edmundo Gonzáles e Corina Machado.

Maria Corina Machado é uma golpista que no passado anunciou Guaidó como presidente da Venezuela e que, hoje, está foragido depois de se apoderar de recursos venezuelanos nos EUA. Edmundo González é um agente da CIA e atualmente desapareceu do mapa. Quando a Câmara de Justiça Eleitoral convocou os ex-candidatos dos respectivos partidos para comparecerem e apresentarem provas, ele recusou-se a comparecer, desacatando o STJ; e o seu indicado, na audiência, não apresentou nada. A farsa do PUD ficou evidente. Usaram a via eleitoral, infestaram com trolls a serviço da conspiração e do golpe de Estado!

É um equivoco de setores da esquerda caracterizarem a Venezuela como ditadura. E muitas vezes se referem à emigração. Perguntam: porque tantos venezuelanos migram para outros países? Não tenhamos ilusão, há uma ofensiva interna dentro da Venezuela que pratica terrorismo contra a população, assassinando chavistas, destruindo escolas e desorganizando políticas sociais, levando milhares de venezuelanos a emigrarem para outros países. Este êxodo não é uma característica dos venezuelanos, há milhares de emigrantes de países da América Latina e do Sul. E sobre o assunto fraude, por acaso o mundo cobrou as “atas” das eleições fraudadas nos EUA nas eleições de Trump, ou de outro país com suspeitas de fraude?

A posição do governo brasileiro, o mesmo que sofreu e continua sofrendo o ataque golpista de 8 de janeiro 2023 contra a posse de Lula no Palácio do Planalto, não só mostra ingenuidade, mas fere a Constituição federal onde consta a não ingerência nos assuntos internos de outros países. Diferentemente, a posição da direção do PT foi assertiva ao reconhecer, por unanimidade, imediatamente a vitória de Maduro. É preciso abrir e aprofundar a discussão no PT. O Partido deve manter uma independência do governo. O PT, em nome dos trabalhadores deve rechaçar a “diplomacia sem consulta popular”, impor o debate vivo em assembleias, rechaçar o funcionamento político limitado às redes de internet, e às fakenews, para restabelecer a verdadeira democracia que está acima do voto nas urnas.

É um absurdo e anticonstitucional acenar a bandeira da falsa democracia para meter-se nas questões internas de outro país como a Venezuela. Um erro e um tiro no pé do governo brasileiro, ceder à pressões das forças conservadoras internas do Brasil e favorecer a direita internacional. Além disso, porque propor um retrocesso de um Estado Revolucionário venezuelano, rumo a um Governo de coalisão burguesa com uma oposição fascista? A correta tática eleitoral da vitória de Lula com alianças com setores da burguesia, não significa que não tenha que avançar de um Governo popular a um Estado revolucionário. Mesmo que não explicite uma meta socialista, mas, um Estado inclusivo e revolucionário, livre do poder financeiro internacional e do saqueio e privatização das riquezas naturais.  Como diz o Stedile do MST, um dos observadores das eleições venezuelanas, “a luta de classes continua”. Isso o diz, este apoiador das inquestionáveis medidas de progresso do governo Lula, mas sempre atento a cobrar a Reforma Agrária e a luta da agricultura familiar contra o agronegócio.

Na Venezuela, o governo bolivariano tem uma maioria parlamentar para avançar. Pelo contrário, no Brasil, o PT e as forças progressistas sem maioria, põem em risco a estabilidade do governo. Isso, sem contar parte da base eleitoral que dá sustento às milícias armadas de direita para que Bolsonaro esteja impune provocando o STF e o ataque ao ministro e juiz Alexandre de Moraes; sem contar que a mídia hegemônica da Globo está vigente e o poder das redes de Elon Musk, o mesmo que impôs um Milei na Argentina e, através de “trolls”e “influenciadores” desestabilizantes, arquitetou e financiou o golpe contra Maduro, prolifera a olhos vistos. A debandada do “X” do Brasil, mostra que a guerra do Xadão e das forças progressistas tem peso e deve ser apoiada.

No seu programa periódico “Maduro Mais (+)”, na VTV, ao exemplo do “Alô Presidente” de Hugo Chávez, e do “Amanhecer”de López Obrador, o presidente se reúne com “comuneros”(dirigentes de base dos bairros e municípios), camponeses, cientistas e artistas para preparar a chamada “segunda grande consulta popular” do final de agosto. São 4 consultas populares ao ano. Algo no estilo “orçamento participativo”, que a esquerda no Brasil anunciou e pouco aplicou. Maduro reitera que “este é o momento de um avanço revolucionário”, e recorda as linhas de Hugo Chávez sobre as 5 metas do socialismo do século XXI: dimensão política, econômica, espiritual e moral (novo ser humano), social (missões) e a do socialismo aplicado nos territórios. Reitera a necessidade de passar da democracia representativa à participativa. “Frente ao fascismo há que avançar com mais poder popular”. Recordou também o Che Guevara (“Não se pode ir ao socialismo com as mesmas armas do capitalismo”), e chamou à democracia comunal contra o burocratismo.

A guerra midiática é parte do golpe contra o processo democrático e eleitoral na Venezuela

Além do erro político da posição do governo Lula pedindo novas eleições, há um injustificável déficit informativo na sua área de comunicação sobre os fatos na Venezuela e as ações golpistas de âmbito nacional e internacional nesse contexto eleitoral. A Telesur retransmitiu em vivo, a manifestação multitudinária de 1 milhão no último dia de campanha por Maduro. Na semana posterior, houve várias reuniões e comunicados do governo bolivariano expondo ao mundo a verdade dos fatos. Entre elas, a reunião e comunicado do CNE revelando várias “atas” falsas com as quais a oposição se considerou vencedora.  A oposição publicou artigos em seu site na categoria “atas”. “Atas” incompletas, pessoas mortas que votaram, falta de dados sobre os membros das mesas de voto, assinaturas rasas, “atas” incompletas e ilegíveis. Jorge Rodriguez, gestor de campanha do GPP, denunciou com provas em mãos, que estes papéis representavam apenas 10.000 “atas” das 30.000 que compõem os cadernos eleitorais, ou 30% do total.

1 milhão no dia 25 de julho encerrando a campanha do Grande Polo Patriótico (Fofo: Telesur)

O sistema eleitoral eletrônico, historicamente seguro, foi auditado previamente como sempre. Os 10 candidatos e partidos participantes verificaram o sistema e posteriormente assinaram o seu acordo com as máquinas. O “hackeio” não foi aí. O CNE (Conselho Nacional Eleitoral) denunciou ataques cibernéticos do tipo cibercrime, dirigidos desde Miami, que procuravam gerar um “apagão de informação”, invadindo as plataformas de divulgação dos resultados, incluindo as plataformas do Estado e os serviços de internet da República para consolidar um golpe de Estado.  Maduro denunciou a rede comunicacional manipulada pela direita, através de aplicativos, twitters, X, Tik-toks prévios de indução ao voto, assim como ameaças e convocação às chamadas “guarimbas”, incluindo um apagão elétrico total no dia das eleições.

O apagão informático continua. Nada disso é transmitido pela mídia hegemônica golpista, em mãos das finanças internacionais. A verdade não é transmitida. A maioria do povo venezuelano saiu às ruas no sábado, 17 agosto: um total de dois milhões em 100 cidades da Venezuela para comemorar a vitória de Maduro e defender a paz. Enquanto isso, a direita fascista, apoiadora do foragido opositor Edmundo González e Corina Machado, fracassa nas ruas: juntou nada mais que mil pessoas numa praça.

Outras reuniões e comunicados difundidos pela Telesul foram a do Conselho Nacional de Segurança, com membros das Forças Armadas, e órgãos da segurança pública, além das milícias cívico-militar organizadas, documentando com vídeos e provas as várias ações de “guarimbeiros”, grupos de jovens violentos financiados desde os EUA, destruindo escolas, hospitais, universidades, estações de metrô, aeroporto, derrubando estátuas históricas, ameaçando matar o presidente e líderes políticos chavistas, com arma pesada, aterrorizando o povo, causando a morte de 25 pessoas e 192 feridas. Estas mesmas ações terroristas continuam. Nem sequer a proposta de Lula por novas eleições foi aceita por Corina Machado e Biden (revelando que pouco se diferencia de Trump) que optam pela desestabilização violenta. Em tempos de guerra, ninguém freia as mãos de Israel em Gaza. A tentativa de aproximação de Lula ao Biden para discutir a Venezuela é perigosa. Lembremos que Obama disse que “Lula é o cara” e estava tramando contra o Brasil, a Petrobrás e a ex-presidenta Dilma. O imperialismo sionista não tem ética, não cumpre nenhum acordo, não respeita as leis. Certo fez o presidente López Obrador do México ao dizer que não conversava sobre as eleições da Venezuela e que respeita os resultados das eleições ditados pelo Conselho Nacional Eleitoral da Venezuela.

As eleições na Venezuela polarizam internamente em sintonia com o contexto mundial. No plano internacional, Maduro decidiu enfrentar o imperialismo norte-americano que está financiando um dos maiores genocídios da história humana, contra o povo palestino. O mesmo imperialismo que utiliza a Ucrânia para atacar a Rússia. E que destruiu Iugoslávia, a Líbia, o Iraque, ameaça a Síria e o Irã, arquitetou a derrubada de Dilma Rousseff, o lawfare contra Lula e, agora, contra Alexandre de Moraes e o STF, que tiveram que revisar erros e recuperar a democracia.

A polarização nacional e internacional que se expressa no processo venezuelano é reflexo da atual relação de forças mundial. A Rússia, a China, Cuba, Irã e mais de 50 países já reconheceram Nicolás Maduro como presidente eleito da Venezuela. A crise econômica e política do capitalismo mundial se expressa, no avanço do mundo multipolar, na crise do petrodólar como moeda hegemônica perdendo lastro, na extensão do BRICS reunindo os maiores produtores de petróleo do mundo, negociando com swift chinês; e a Arábia Saudita escapando fora do dólar, enquanto Putin convoca o Maduro, em vias de incorporar a Venezuela no BRICS.

Os membros do BRICS avançam no desenvolvimento de um sistema econômico próprio como alternativa e como parte de um movimento em direção à desdolarização. Quando Kadafi falou em romper com o euro e criar uma nova moeda, a Otan e EUA acabaram com a Líbia. A empreitada do BRICS enfrentará desafios, mas é imprescindível para garantir maior desenvolvimento, estabilidade entre as economias dos países emergentes. O nível do genocídio de Israel contra Gaza (40 mil palestinos mortos), e o ataque à Rússia na Ucrânia, com o apoio da Otan é sinal do desespero e da imprevisão do que pode ocorrer, rumo a um conflito nuclear. Putin seguirá na desnazificação da Ucrânia e na defesa da Rússia e da memória da URSS, que resistiu e decidiu o triunfo contra o nazi-fascismo.  Maduro, pondo a América Latina em sintonia com a Rússia e China, diz: “O nazismo nasceu frente ao avanço da URSS e do socialismo.”… “Estamos do lado correto da história. O fascismo não passará.”

A Venezuela tem a maior reserva de petróleo e gás do mundo, assumindo, portanto, o protagonismo na geopolíticia mundial. Os EUA, em busca deste combustível fará de tudo para apoderar-se desta riqueza (como já tentou com a Petrobrás, apoiando Temer e Bolsonaro), imprescindível para a sobrevivência dos países chamados desenvolvidos. A abertura de portas da próxima reunião do BRICS à Venezuela sob o lema “Construindo Juntos um Mundo Melhor” estremece a hegemonia do imperialismo. Por isso, este prepara a guerra e golpes de Estado na América Latina. O Brasil de Lula não deve cair na armadilha do imperialismo. A unidade Venezuela-Brasil, bem como o restabelecimento da UNASUL, são decisivos para os rumos da América Latina; e para debilitar títeres como o atual governo de Milei na Argentina. Fizeram muito bem Lula/Haddad de receberem o governador kirchnerista da Província de Buenos Aires, a mais populosa da Argentina, e possivelmente estabelecer acordos bilaterais autônomos das imposições do FMI.

O grande déficit das direções, partidos e movimentos revolucionários do mundo, continua sendo o não cumprimento de uma das metas históricas anunciada por Hugo Chávez: a construção de um instrumento de debate e coordenação e toda a vanguarda revolucionária dos países: uma V Internacional. No meio do grande ataque que sofre a Venezuela, Nicolás Maduro, reunindo as chamada Comunas dos bairros, citou um dito de Trotsky, que em março de 2006 Chávez também se referiu:  “Trotsky dizia: toda revolução necessita da chicotada da contrarrevolução. Lancem chicotadas que nós aguentaremos. E a cada chicotada, nós responderemos com o aprofundamento da revolução”.

Enfim, esta rica experiência, não só eleitoral, transmitida pela Telesul, de resistência e construção do Partido Socialista Unificado da Venezuela – PSUV e de organização do poder popular para defender a Revolução Bolivarana, e avançar o Estado Revolucionário em transição rumo à construção do Socialismo do Século XXI, tudo isso, deveria ser pauta para uma V Internacional. Não uma ONU, mas V Internacional. Putin, Xi-Jiping, Diaz Canel, Maduro, Lula, Obrador, Claudia Sheinbaum, Cristina Kirchner, Xiomara, Petro, Arce-Evo, Rafael Correa, líderes da África (Mali, Níger e Burkina Faso), do Vietnã, do Irã, da Palestina, da esquerda europeia, enfim, a vanguarda mundial dos movimentos sociais e sindicais e camponeses, necessitam unir-se e discutir táticas, e estratégias e programa na luta pelo socialismo para enfrentar fases decisivas da guerra global.

Comitê de Redação
PosadistasHoje
20.08.2024

Foto destaque: AFP

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