A demissão de Moro: mais um passo de Bolsonaro em direção ao abismo


Bolsonaro não poderia ter escolhido momento mais equivocado para dar a estocada final em Moro, seu fiel escudeiro e principal cabo eleitoral. Sem Moro, Bolsonaro não teria sido eleito Presidente. Era a peça perfeita, o engano arrasador, a base da construção midiática do herói salvador da Pátria contra a corrupção e a criminalidade, que vestia com o véu da castidade a pornográfica família miliciana. Os unia o antipetismo justicialista obsessivo e a subserviência à pátria imperialista norte-americana.

O pequeno juiz acreditou na “carta-branca” prometida, arriscou, renunciou a 22 anos de carreira de magistrado – e respectivos privilégios – embora não tenha confessado que aspirava, sim, a um cargo no STF – e seus outros respectivos privilégios–, e que a carreira de ministro seria somente uma pinguela para lá chegar.

Num exagero retórico, chegou ao ponto de ter que elogiar Lula e Dilma por terem respeitado a “autonomia” da Polícia Federal – embora passe longe da “imparcialidade”, palavra que o assusta e da qual foge qual diabo da cruz.

A algum Deus serve a PF, senão, a quem? Mas enfim, enquanto serviu para criminalizar o PT, tudo perfeito, para Moro, Bolsonaro e aliados. Mas a PF não pode incomodar a seus chefes atuais, nem muito menos às milícias. O estrabismo antipetista da PF era bom enquanto durou. Mas que não ouse colocar lentes corretivas. Precisa de um cabresto. Pena que o PT, num excesso de “republicanismo” – admitido, ironicamente, por Moro – tenha dado liberdade total à PF e ao Ministério Público, e ainda uma sopradinha para avivar as chamas da fogueira que haviam instalado em seus próprios pés durante a Santa Inquisição, deste os tempos do “mensalão” até os da Lava Jato.

No fundo, Bolsonaro tem razão, não deve haver “autonomia” em nenhum órgão policial – porque é um mero órgão repressor –, como também não pode haver nenhuma “autonomia” de juiz contra a constituição nem contra as leis. A Lava Jato na verdade é um Currículo de monstruosidades. Moro teve ainda a petulância de justificar a suposta “autonomia” da PF que, por ordem (ilegal) sua, impediu a libertação anterior de Lula por ordem do Desembargador federal Rogério Favreto em julho de 2018. O “admirável mundo novo” de Moro é uma utopia reacionária, talvez pior que a de Bolsonaro e de Paulo Guedes.

A sua defesa da “pureza” da Polícia Federal choca-se, entretanto, com a realidade política que assume um viés de paroxismo autoritário, onde prevalece o arbítrio, o desrespeito às leis, à Constituição – já em frangalhos – e às instituições – dominadas pela prevaricação generalizada – frente à obrigação de cumpri-la.

Como se resolve então a equação? Com a Política com “P” maiúscula. É a luta de classes. As chamadas instituições democráticas são ferramentas a serviço dos grupos de poder dominantes. Se por hipótese o povo estivesse no poder, a ele deveriam servir. Mas não é o caso, os grupos de poder hoje estão aferrados a uma plataforma de destruição dos direitos dos trabalhadores, da lucratividade máxima e da entrega do país ao Capital internacional. Estas são as placas tectônicas que se movem e determinam os movimentos aparentemente erráticos de Bolsonaro.

Este procura se defender, tão iludido quanto Moro, acreditando que determina os processos. Mas não tem respostas aos problemas, no meio da  gigantesca pandemia do Coronavirius e de uma crise econômica mundial e arrasadora, que precede a Pandemia, arriscando a vida de 220 milhões de habitantes de uma Nação gigantesca, fazendo proclamações insensatas, substituindo o único ministro (o da saúde) que prestava algum serviço por um gaguejante serviçal, apresentando-se a uma manifestação de um punhado de fanáticos seguidores, para no dia seguinte chamá-los de “infiltrados”, alguns episódios da série infinita.

Mas chegar ao ponto de humilhar e demitir o seu principal aliado no meio da batalha, indica descontrole profundo.  Já havia feito outras, entre elas, desconhecer e abandonar à própria sorte o partido que havia criado, o PSL, além de ter fracassado rotundamente em inventar outro, e não satisfeito, tentando reconstruir o chamado “centrão” no Congresso até então considerado por ele um antro de corruptos defensores da “velha política”, buscando consolo com Roberto Jefferson, o emblema mais abjeto de todas as corrupções (e traições). Nem os mais fanáticos seguidores dão conta de entender estes movimentos. Por isso perdeu sistematicamente os aliados mais radicais, a Hasselman, o MBL, a Janaína Pasqual, Alexandre Frota e uma infinidade de outros não tão ilustres personagens, que saíram disparando contra ele no tom habitual que os caracteriza, além do mais recente caso dos governadores aliados Doria, Witzel e Caiado, assediados por terem que dar respostas à crise do Coronavírus, frente à condução genocida do até então aliado Jair Bolsonaro. 

O que se prospeta, então? Que o cerco dos ex-aliados de direita e centro-direita vá  se fechar, acelerando os movimentos em direção a qualquer forma de impedimento. Que o círculo militar vá apertar Bolsonaro como o abraço da Sucurí, ditando cada vez mais suas agendas – outro capítulo a ser analisado à parte, porque envolve a remoção de Paulo Guedes. Que a população – afogada pelas restrições do isolamento social – perca a paciência e comece a se movimentar com maior vigor para além dos panelaços constantes e dos protestos nas redes sociais.

Que – este sim, um fato relevante – a esquerda encontre um rumo unificador numa Frente Ampla na emergência sanitária, com o apoio de Lula – a maior  liderança de massas do país–, para construir uma saída pelo menos no campo democrático, para depois fazer uma reflexão sobre os seus erros que conduziram a este pesadelo institucional e político, e a colocar a Nação à beira da barbárie. A reflexão sobre a “autonomia” da PF, o pivô da crise atual, é só a primeira. Em todo caso, é uma janela de oportunidade: os reis estão nus, e suas imundas intimidades, expostas. Definitivamente, esta grande Nação não pode mais suportar tão humilhante espetáculo. Fora Bolsonaro!

Comitê Editorial
Posadistashoje.com
24 de abril de 2020

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