A importância do BRICS e os efeitos da reunião no Brasil


O BRICS plus, com o Banco NBD, tem um peso determinante na integração do mundo multipolar para enfrentar a hegemonia do imperialismo norte-americano decadente e violento. Não obstante a participação duvidosa da Índia, o eixo determinante do BRICS é a aliança China/Rússia, como potências de economias estatais centralizadas que já atuam bilateralmente com vários países como Venezuela, Cuba e o Brasil. A reunião no Rio de Janeiro contou com ausência de Putin e Xi-Jiping, diferentemente da ocorrida em Kazan. O primeiro, por justificada questão de segurança (que o Brasil não garantiu) enviou um expressivo representante de alto-nível. O segundo, já esteve com Lula na sua visita a Pequim em maio de 2025, definindo expressivos pontos e acordos (vejam na matéria publicada no Debate de Idéias deste site).

Certamente, há que definir em breve período metas revolucionárias e de defesa da soberania dos países integrantes. Há participações polêmicas, tipo Índia no BRICS, ou União europeia no Mercosul, ou a não adesão protocolar do Brasil ao programa chinês da Rota da Seda, o que chama a atenção para uma maior pro-atividade do governo brasileiro. Os aliados, ditos centristas, são os que fragilizam a política exterior do Brasil: questionam a Venezuela de Maduro e se calam frente ao Equador de Noboa.

Um fato importante foi a elaboração da “Carta de Niterói” produto da reunião de jornalistas entre 6 e 7 de julho que realizaram o BRICS Press Meeting, defendendo a construção de uma Big Tech do BRICS a favor dos países mais pobres e menos desenvolvidos tecnologicamente. Os canais do YouTube da Rádio e Jornal Toda Palavra, da TV 247 e da TV Comunitária de Brasília transmitiram o evento.

A recente reação de Trump, dirigida pelo alto poder sionista-financeiro nos EUA, se apoia nestas contradições do governo brasileiro, para golpear o Brasil que, junto à Índia, são gigantes maleáveis no BRICS. O ataque tarifário de 50% sobre as exportações brasileiras, e a sua defesa de Bolsonaro, é compatível com o desespero do imperialismo decadente frente ao BRICS. O estopim da ira foi a declaração de Lula de que o BRICS tem direito de buscar uma alternativa ao dólar. Isso, alinhado com a recente posição brasileira no Mercosul a favor de transações bilaterais com moedas locais, exasperam os EUA-OTAN. Algo similar foi motivo de golpe contra o Estado revolucionário da Líbia, quando Kadafi falou em nova moeda na África. O acordo entre a Rússia e a China já tem a fortaleza da moeda comum, o renmimbi.  Lavrov conseguiu o apoio direto da Coréia do Norte na guerra contra a Ucrânia. Ao mesmo tempo,  Asean (Asociação de Nações do Sudeste Asiático) com apoio russo, e o BRICS, mudam a relação de forças no mundo global.

A reação de Trump é dirigida a meter-se na crise interna no Brasil expressa pela maioria parlamentar da direita (oligarco-evangélica) que votou contra o decreto presidencial pelo IOF. Este, bem como a necessidade da taxação do imposto de renda dos bilionários, da isenção do IRPF a quem ganha até 5 mil reais (e redução para quem ganha até 7 mil reais), e do fim das emendas parlamentares, têm sido detonantes da retomada das grandes mobilizações de rua no país.  Estas detectam o ar de golpe institucional (por enquanto) do qual Trump se aproveita para derrubar o governo Lula.

A resposta de Lula, firme e necessária, tem sido um tiro no pé dos EUA, com repercussão internacional (recebendo apoio de Xi-Jiping): “O Brasil não é uma colônia dos EUA, mas sim um país independente de propriedade de um povo soberano” (Lula). E com isso, o povo saiu a apoiá-lo nas ruas de várias capitais do país. É um Lula que, após 580 dias de prisão da “Lava Jato”, não deu só um abraço formal à ex-presidenta Cristina Kirchner, presa e condenada por outro “lawfare”. Mas, é um Lula que abraçou e juntou energias para lutar pela soberania de toda a região latino-americana, sem a qual, não se libera o Brasil.

Há que acompanhar este grito de independência, com medidas concretas de recuperação do Estado destruído pelo neo-liberalismo e aprofundados pelo bolsonarismo. Os donos das principais empresas privatizadas são donos da Companhia Siderúrgica Nacional, de parte da Eletrobrás, da Companhia Vale do Rio Doce, das ações da Petrobrás vendidas na Bolsa de Nova York, do rombo de 40 bilhões das Lojas Americanas, donos da Ambev, do setor bancário. Há uma ligação direta com os membros do Deep State nos EUA; os mesmos que estão cometendo o genocídio de Israel em Gaza, e provocando guerras no Irã e no Oriente Médio, assassinando jornalistas e cientistas iranianos.

Este é o poder que Lula enfrenta. Um país onde 45% do orçamento do Estado é para pagar a dívida pública, inclusive para remunerar o saldo de caixa dos Bancos, uma aberração mesmo em qualquer país capitalista de ponta; tem que enfrentar as benesses das desonerações tributárias que chegam à casa de bilhões (se bem que Lula tentou modificar isto no Congresso Nacional, sem sucesso). Esta é a luta de Lula para incluir o pobre no orçamento, mas é mais do que isto, é a dificuldade de desenvolver um verdadeiro programa de transformações sociais, num ambiente em que o Congresso Nacional está ocupado pela direita. Haverá setores da burguesia nacional e exportadora que reagem aos tarifaços de Trump e que se aliam ao governo Lula e apoiam o STF contra Bolsonaro. Aliar-se a esse setor industrial requer o desenvolvimento do mercado interno brasileiro, portanto, conceder maior poder aquisitivo e salarial às massas.

A reação mundial contra estes impunes ataques do imperialismo se manifesta a nível da América Latina. Apoiada pelo governo bolivariano da Venezuela, a importante I Cúpula do Grupo de Haia, promovida pela Colômbia e a África do Sul, se realiza em Bogotá contra o genocídio em Gaza. Participam ministros e representantes de 30 países, incluindo a relatora sobre o território Palestino da ONU, Francesca Albanese que já condenou veementemente Israel. O presidente colombiano, Petro, vítima de um novo lawfare, no seu discurso, denuncia o contexto atual de debilidade do capitalismo, mas de extrema agressividade: “capitalismo de papel, mas que tem a virtude de levar a humanidade à barbárie”. “Gaza é a experiência dos mega-ricos para ver como se extermina os inimigos”. Chama a conformar um exército mundial da luz; “não podermos admitir um exército que matem crianças”. “Não é hora de outra aliança militar?”. “Devemos sair da OTAN!”. “Não se pode falar de liberdade enquanto assassinam crianças na Palestina”. O documento final da Cúpula anunciou “embargo militar conjunto contra Israel pelos crimes cometidos em Gaza”. Leia mais.

Num momento em que a guerra mundial e o golpe de direita se acelera em resposta ao avanço do BRICS, a oposição já desencadeia a campanha eleitoral 2026 com Tarcísio. Há uma articulação da Faria Lima, do agronegócio e financistas para desestabilizar o governo e deixar Lula fora da disputa em 2026 no momento em que Lula mantém postura firme de que será o candidato que ganhará as eleições. É decisiva a mobilização popular: PT, MST, sindicatos e toda a esquerda unida nas ruas e nas redes sociais digitais. Comunicação pública e popular já! Na defesa da soberania nacional, do presidencialismo de Lula, contra qualquer tentativa de impeachment, contra a anistia a Bolsonaro e aos golpistas! Só o povo mobilizado pode dar segurança a Lula para radicalizar na recuperação do Estado e imprimir com urgência as transformações sociais. Só assim, Lula poderá manter um STF fiel à constituição e, se necessário, convocar os coronéis e militares nacionalistas na defesa do Brasil livre e soberano.

Comitê Editorial
15/07/25

BRICS 2025 no Rio de Janeiro (Foto VCG)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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