A vitória de Lula foi imprescindível para o Brasil


Um “Outubro vermelho”, foi a tão esperada eleição no Brasil que garantiu a vitória do presidente Lula no segundo turno com direito a uma das maiores e representativas comemorações populares na Avenida Paulista. Não foi fácil, mas uma das disputas mais acirradas e raivosas de todos os processos eleitorais para presidente do Brasil. Significou para a maioria do povo brasileiro um momento histórico importante e renovador de possibilidades de uma decisiva transformação social.

Para a sociedade objetivamente, a urna foi o instrumento para eleger Lula e a democracia, para impor um basta ao retrocesso causado pelo fascismo de Bolsonaro, mas fundamentalmente votaram por um projeto de mudanças e de resgate das enormes perdas sofridas ao longo de seis anos pelas políticas neoliberais que arrancou da sociedade seus direitos mais básicos como comida, moradia, saúde, educação e emprego, produziu a insegurança alimentar no Brasil que pela primeira vez ultrapassa a média mundial e somente a Lula cabe a tarefa da inclusão social por sua identificação e empatia com os mais pobres e de interditar a fome garantindo pelo menos três refeições diárias.

Foi uma eleição sui generis, que teve a participação corajosa de uma militância aguerrida com enorme disposição de enfrentar todo o tipo de violência provocadas pelo fogo inimigo, agressões verbais, físicas custando até mesmo a morte de vários militantes. Algo atípico para um Brasil avesso às guerras e à violência, mas que nos últimos quatro anos, com a entrada de Bolsonaro na cena política, vem reproduzindo uma extrema direita armada até os dentes dispostas a ir até as últimas consequências contra o Partido dos Trabalhadores e o presidente Lula a maior e mais popular liderança que a classe operaria brasileira produziu e amado pelos mais pobres.

Neste sentido a pré campanha organizada por Lula, sobretudo o contato com o mundo, contribuiu para garantir a legitimidade do resultado das urnas e da vontade popular. As visitas de Lula a vários países e o contato com estadistas e políticos democratas, de esquerda e progressista da União Europeia na busca de apoios à sua candidatura e a sua vitória nas urnas, foi estratégico, viu-se pelo reconhecimento imediato à sua vitória, isolando Bolsonaro de suas provocações e constantes ameaças de golpe.

Foi Bolsonaro quem abusou dos instrumentos para melar as eleições usando os mesmos truques de Trump no processo eleitoral nos EUA, com o argumento de fraude eleitoral nas urnas. Ação que escancarou logo no início das eleições, quando o ministro da Justiça autorizou à Policia Rodoviária Federal fazer vistoria nas estradas dos pequenos municípios e ameaças a eleitores de Lula impedindo-os de votar. O número de votos poderia ter sido muito maior para Lula que ainda assim, atingiu o número suficiente garantindo a sua eleição no segundo turno numa disputa contra a máquina do Estado que jorrava dinheiro para a campanha de Bolsonaro. Contudo, os seguidos ataques do governo com o apoio dos generais governistas que tem nas entranhas o DNA golpista e saudosos da ditadura militar não tiveram o respaldo de setores importantes da burguesia, do agronegócio e instituições democráticas, com destaque para as grandes mobilizações populares que paralisaram qualquer possibilidade de impedimento do processo eleitoral. Mais de 90 países imediatamente sinalizaram reconhecimento à vitória de Lula, incluindo América do Sul, Brics e mesmo de países aliados de Bolsonaro como Itália, Polônia e Hungria.

Mesmo com a derrota do governo alguns generais marginais insistem nos ataques a Lula, principalmente os que perdem a mamata dos altos salários e os privilégios, como o general Augusto Heleno do GSI, um exemplo do que há de mais escabroso e patife nesta terra arrasada. Assim o mundo dá as costas a um governo genocida que não apenas fracassou mas que destruiu todas as possibilidades de avanços na política interna e externa. Lembremos do fiasco que foi a participação de Bolsonaro no G20, onde ficou evidente o tamanho do isolamento que a sua política externa negacionista, obscurantista, inconsistente conduziu o Brasil.

Porém, não nos iludamos porque não será uma transição tão tranquila assim, serão dois meses de acentuadas tensões, o governo fascista mostrou que não pretende entregar a faixa presidencial de mão beijada e é preciso preparar para novos enfrentamentos. As mobilizações financiadas por empresários como a paralização dos caminhoneiros bloqueando várias estrada no país, as ostensivas presenças de facções bolsonaristas nos portões dos quartéis, as agressões e violências contra as polícias que estão cumprindo a tarefa de conter o movimento por meio de mandado judicial vão além quando, numa extrema falta de escrúpulos usam mulheres e crianças como escudo humano para impedir a ação da polícia para assegurar o caos nas estradas.

É bem verdade, também, que o fracasso da greve geral dos empresários bolsonaristas contra o resultado eleitoral convocados para, 7 de novembro, mostra que as intenções golpistas já começam a perder força. “Remover esse entulho rapidamente” está nos planos do próximo governo que terá Flávio Dino (PSB) na coordenação na área de Justiça e Segurança Pública. O novo governo e a esquerda não devem permitir, jamais, que o fascismo prolifere e é preciso combater esses parasitas a ferro e fogo.

O governo de transição ao contrário, já desenha um novo cenário na política nacional e internacional. Lula foi gigante quando governou e agora expõe de maneira objetiva, como pretende conduzir seu próximo mandato,  ao escolher a dedo sua equipe de transição, primeiro honrando o pacto com a sociedade assumido durante sua participação nos grandes comícios da campanha eleitoral, estabelecendo como prioridade  manter o auxílio emergencial de 600 Reais e um aumento real no salário mínimo já no início do seu governo. Em entrevista à Folha de SP, o senador eleito pelo PT Wellington Dias, um dos quadros mais respeitados por Lula e pelo Partido dos Trabalhadores, cotado para assumir um importante cargo no governo Lula, governador pelo Piauí por quatro mandatos seguidos, revelou: “que a nova regra deve considerar a média de crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) dos últimos cinco anos. A regra beneficiará aposentados do INSS, que têm no reajuste real do mínimo a maior expectativa em relação ao terceiro mandato de Lula. Isso porque o mínimo é também o valor do piso das aposentadorias e de outros benefícios assistenciais e trabalhistas pagos pelo governo.”  Os desafios a enfrentar no próximo mandato não são poucos e já se debruçam na busca de saídas para corrigir o imenso desmonte causado pelo governo Bolsonaro e Lula terá que contar com uma forte mobilização popular para garantir resultados, além do que é preciso buscar reforços para fazer frente às pautas bombas e sabotagens que serão inevitáveis pelas bancadas conservadoras eleitas no Congresso e que farão todos os movimentos para barrar a aprovação de medidas populares e sociais. Lula corre atrás para fazer maioria no Congresso, mas é fundamental ter o respaldo do povo nas ruas e nos debates. É preciso propiciar as condições para retomar as discussões de temas fundamentais como a soberania do País, a defesa das estatais, o papel dos militares.

Lula já assume a transição do governo brasileiro bailando no cenário internacional! Como convidado de honra pelo governo Egípcio para participar da COP27, Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, que acontece entre os dias 6 a 18 de novembro, Lula será a estrela mais aguardada do evento que terá a participação de mais de 190 países, 90 estadistas e o maior e mais importante encontro sobre mudanças climáticas. Uma excelente oportunidade para o Brasil resgatar seu prestígio no cenário mundial depois de um prolongado período de isolamento causado pela ausência de uma política nas relações internacionais do governo Bolsonaro, que perdeu a credibilidade e transformou o país num pária mundial especialmente pela catástrofe que significou a política ambiental.

O mundo vê nessa Conferência a importância e o peso do Brasil sobre o tema e essencialmente porque entende que um futuro mais verde, um planeta mais sustentável dependem de uma política de forte proteção ambiental no Brasil, política que foi invertida, ineficaz e criminosa neste governo que se aliou aos planos da agroindústria, dos grandes empresários ligados ao setor exportador de madeira, o garimpo ilegal, grandes mineradoras e investidores internacionais, ameaçando o futuro da Amazônia e os direitos das comunidades indígenas. A presença de Lula será reforçada por uma equipe de importantes e experientes técnicos ligados à área ambiental junto com a ex-ministra do Meio Ambiente do seu governo, Marina Silva, reconhecida por muitos como um símbolo de resistência, ao lado de Chico Mendes, na defesa da Floresta Amazônica. Um excelente começo para um governo cujo projeto é abrir as portas para o mundo, para atrair investimentos, gerar empregos, crescer a economia e o desenvolvimento social. Também para ampliar os laços e os interesses de integração regional com os governos da América Latina na perspectiva de retomar e fortalecer os acordos econômicos, comerciais e políticos. 

Marta R. Costa
Núcleo do DZ Saúde de SP

11/11/2022

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