A vitória eleitoral de Lula e a defesa do direito à vida, à dignidade e à soberania nacional


A vitória eleitoral de Lula para a Presidência do Brasil adquire uma importância ainda maior porque se dá num momento de profundo embate internacional entre as forças que defendem um mundo unipolar, do atraso e da barbárie, representado pelos EUA e países integrantes da OTAN, em contraposição às forças que buscam construir um mundo multipolar, do progresso e da civilização representado pela Rússia e China. 

A vitória de Lula significou uma derrota para as forças da direita-fascista que avançaram em alguns países, sabidamente na Europa; e se junta, às eleições de governos progressistas e de esquerda na América Latina, do México ao Chile, incluindo a Bolívia, que derrotou o golpe fascista, a Colômbia que derrotou pelo voto uma sanguinária burguesia neo-liberal, o Peru e a Argentina que com vitoriosas frente amplas democrático-populares resistem ao lawfare das oligarquias e corporações financeiras. 

Lula derrotou eleitoralmente um governo de direita representado por Bolsonaro que utilizou todo o arsenal internacional e nacional contra Lula, o PT e a Frente Ampla; disseminou fake news para uma rede de internet atingindo 50 milhões de pessoas; comprou políticos no Congresso nacional através do orçamento secreto; copiou e criou programas sociais temporários cooptando votos; bloqueou estradas para o povão não votar. Facilitou a compra de armas por bolsonaristas. Enfim, dividiu o país disseminando o ódio. 

Majoritariamente, o povo pobre votou em Lula pelo que ele representa como ser humano, pela sua origem de classe, pela história de luta, pelas conquistas nos 8 anos de seus governos como Presidente da República, e apoiaram sabiamente a constituição de uma Frente Ampla partidária para derrotar Bolsonaro e a terceira via. 

Certamente, a direita acabou se dividindo e setores do empresariado, dos banqueiros, grandes produtores rurais, de comerciantes acabaram apoiando a candidatura de Lula. Amplos setores da burguesia nacional (agrícola e industrial) privados do mercado interno, não regem a concentração financeira e um Estado débil. A Rede Globo de TV que nunca perdeu uma eleição presidencial e derrotou Lula várias vezes, desta vez apoiou Lula diante da barbárie e dos cortes financeiros à Rede Globo por parte do Governo Bolsonaro. Boa parte dos juízes do STF que foram coniventes com o golpe contra Lula e Dilma, tiveram que virar página. A expressão mais contundente dessa crise de poder e revisão do Judiciário, é a firmeza do presidente do TSE, Alexandre de Morais, contra o golpismo eleitoral dos bolsonaristas. Esse é o contexto do conjunto de fatores que possibilitaram a vitória de Lula, unido à histórica intervenção da militância desde os centros urbanos mais desenvolvidos até as periferias do sertão nordestino.

O governo de transição apenas constatou o previsto: um governo totalmente arrasado. Prioridades deverão ser construídas: o combate à fome, a valorização do salário mínimo, um programa emergencial de vacinação contra algumas doenças que haviam sido erradicadas no país, uma política zero de desmatamento e garimpo ilegal, a segurança pública; o controle de empresas estratégicas, que foram doadas à iniciativa privada, entre outras medidas a serem implementadas pelo governo Lula, urgentemente, nos primeiros dias. 

A defesa da produção de alimentos em bases agroecológicas e orgânicas pela agricultura familiar para o abastecimento das escolas e centros de assistência de pessoas em estado de insegurança alimentar. Um programa nacional eficaz e decisivo de combate aos venenos (inseticidas e fertilizantes agrotóxicos) que têm destruído biomas importantes como o Cerrado, a Mata Atlântica, a Amazônia e os nossos rios e águas subterrâneas. Um programa que definitivamente consolide uma Reforma agrária em áreas improdutivas, possibilitando trabalho e renda para milhares de famílias com tecnologia apropriada e um Banco de créditos para financiar estes projetos. Um programa de descentralização da produção de etanol por pequenos produtores rurais, sustentado por um Ente estatal de Bioenergia. As forças progressistas da Frente Ampla eleitoral no Congresso devem intensificar já, em plena transição, a luta pela re-estatização nas diversas áreas da Petrobrás, e da Eletrobrás

Apesar do estado de profunda crise econômico-social do capitalismo, resultante neste pleito eleitoral de 2022, os interesses que levaram ao golpe contra Dilma e a prisão de Lula continuam pulsando no país e no mundo. E seguramente, se farão presentes. Tanto os republicanos como os democratas dos EUA não abrem mão de seus interesses estratégicos que resumidamente, podemos dizer que giram em torno do petróleo, dos minérios, do lítio e do gás, da privatização das empresas estatais, dos grãos, dos nossos minerais, dos nossos serviços públicos, e da preparação para a guerra.  

Se os EUA fomentam o conflito na Ucrânia, o que não estão fazendo e farão para manterem a América Latina e do Sul global como países fornecedores de matéria prima, desindustrializados e na pobreza. Não há que ter nenhuma dúvida de que esta será a postura do imperialismo. Por isto, a sobrevivência do governo Lula vai depender da sua capacidade política de constituir uma Frente Ampla em defesa da soberania nacional e formar uma consciência política e capacidade de mobilização independente das suas bases. A batalha no Congresso, onde o governo chega em minoria, exigirá debates decisivos, sobretudo expondo à cidadania (incluindo eleitores da oposição) via meio de comunicação pública todos os projetos e medidas governamentais. É momento da imprescindível democracia participativa.

Golpistas financiados por empresários e pelas ONGs nacionais e internacionais continuarão a defender um golpe de estado contra o presidente Lula. Veja-se o exemplo da Argentina, onde o lawfare, o poder do Partido Judicial-Midiático, está intacto, em pleno governo democrático e popular, acionando magnicídios (como no caso de Cristina Kirchner) e golpes de estado. A sociedade brasileira está dividida e as forças fascistas fermentadas no governo bolsonarista, emergem de um dia para a noite, saindo da sua hibernação. Partindo dessa premissa, é neste momento de transição que os melhores quadros políticos e técnicos devem ser apontados por Lula, para montar sua equipe de governo e é ele, Lula quem deve tomar às rédeas e o controle da equipe de transição que faz o diagnóstico do país. Qualquer vacilo  poderá ser fatal para seu governo e é nisso que os setores que apostam contra o Brasil estão de olho. O futuro governo Lula deve contar com a Frente Ampla e fundamentalmente caminhar com as frentes populares, sindicais, estudantis e progressistas que serão as bases que sustentarão um novo projeto de transformações sociais.

Somente medidas contundentes na área do Judiciário e das novas forças da Defesa nacional, civil e militar democrática, com apoio popular já expresso na campanha de Lula-presidente, poderão parar uma direita fascista que está bloqueando ilegalmente estradas, áreas de segurança nacional em frente às dependências do exército, estimulando assassinatos de pessoas e entidades públicas vinculadas ao PT, implementando uma base religiosa retrógrada e atrasada junto à população. Lula, com as prerrogativas de comandante das Forças Armadas deve buscar identificar setores progressistas dentro das FFAAs que não estejam ligados aos golpistas bolsonaristas, situação complicada depois da cooptação destes militares, com centenas de cargos dentro do governo. A nefasta experiência no golpe da direita contra Evo Morales na Bolívia e, sem ir mais longe, a virada do ex-general Villas Boas no Brasil, estão vivas. O governo Bolsonaro trouxe para o país o que pior tem os EUA: o golpismo de Trump com a ocupação do Capitólio, a disseminação de armas que o povo norte americano repudia conforme recente pesquisa, chegou para assassinar professores e crianças nas escolas de Aracruz (ES); a corrupção; as estratégias golpistas de Steve Bannon e a organização de golpes de direita no mundo, foram parcialmente derrotadas; parcialmente porque seguirão agindo para desestabilizar qualquer governo contrário aos interesses da indústria bélica, midiática e financeira dos EUA.

Há elementos importantes para o governo Lula se apoiar. Podemos destacar o apoio financeiro anunciado pelo Governo Chinês à Cuba. A inauguração por parte do Presidente Putin de uma estátua de Fidel Castro destacando a importância da luta do povo cubano em torno da dignidade e soberania nacional. O próprio BRICS que o PT ajudou a construir. A possível designação de Haddad a Ministro da Fazenda (ou Economia) tem a sua importância nacional e regional. A sua trajetória recente, atuante na Internacional Progressista e defensor de uma moeda única para o continente sulamericano, anti-dólar, como projetada anteriormente na UNASUL da década chavista, não é nenhuma garantia para o chamado “mercado”.

Tudo indica que Lula, figura proeminente na COP27, será o articulador central, junto a Lopes Obrador, da retomada da integração latino-americana com a proposta de intensificar as relações econômicas, incluindo a intensificação do BRICS e criação de uma nova moeda para o continente sul americano. As potencialidades do Brasil em todas as áreas da economia, lembrando que já fomos a quinta economia do planeta.  E principalmente, o apoio de uma parcela significativa dos pobres e excluídos que elegeram Lula. Lula sai destas eleições com um patrimônio político e moral ao ser recebido e saudado por vários governantes do mundo. 

Comitê Editorial
Posadistas Hoje

29.11.2022

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