As perspectivas eleitorais de Lula, o programa para tirar o Brasil do atraso com a integração socialista da América Latina
As pesquisas de opinião pública, sobre o processo eleitoral como sabemos, expressam o grau de descontentamento da maioria do povo brasileiro com a política econômica-sanitária, com a agressividade política governamental e a decadência cultural a que o Brasil se reduziu com Temer e Bolsonaro no pós-golpe de 2016 contra os governos do PT. Por isso, os números indicam que, se as eleições fossem hoje, aumentariam as possibilidades de Lula se eleger ainda no primeiro turno das que ocorrerão em outubro deste ano. Com 45% e 44% como apontam as pesquisas dos Institutos Quaest e IPESPE, Lula aparece com uma vantagem de 20% sobre o segundo colocado, o presidente Bolsonaro, que derrete junto com seu governo apresentando apenas 24%; e as amostragens revelam também que Lula mantém à frente da corrida presidencial mesmo com a soma dos outros candidatos, sendo Moro 9%, Ciro 7% e Dória 2%. Importante destacar que Moro e Dória representam a chamada “Terceira via” tão cobiçada pelo mercado financeiro, pela grande mídia, e pela elite agrária que assistem à ridícula pontuação de seus pupilos.
A vantagem de Lula no cenário eleitoral emerge desse estado de crise da burguesia nacional e da classe média, e ao mesmo tempo, do reconhecimento objetivo da cidadania empobrecida sobre o papel de Lula como única saída para tirar o Brasil do atraso; esse gigante líder nacional, deu exemplo, reemergiu combativo, mesmo com os golpes e a perseguição política sofrida ao longo da sua trajetória como líder sindical, como Presidente da República, como vítima do lawfare, acusado nos processos do mensalão, petrolão e, mais recentemente, com a sua injusta prisão em Curitiba, comandada por um juiz a serviço da CIA, para impedir sua candidatura em 2018. O povo necessita dessa força, desse Lula que não perdeu o norte como queriam seus algozes do partido judicial-midiático, da Globo, das igrejas neo-pentecostais que afundaram o país na letargia e no apoliticismo. Ao contrário, Lula manteve a luz de suas ideias, a serenidade e a postura digna de um representante legítimo dos trabalhadores e dos excluídos. Da prisão em Curitiba, Lula enviou mensagens de esperança e confiança de que voltaria para, junto com esse povo, retomar a luta pela democracia e pela reconquista dos direitos trabalhistas saqueados pelos ladrões da quadrilha neoliberal de Guedes.
Lula já deu o sinal ao sair da prisão, ao conceder o pronunciamento histórico em rede nacional agradecendo à militância, a todos os que se solidarizaram com sua causa; não poupou críticas à banda podre da Polícia Federal e da Justiça e de lá para cá não parou, mesmo confinado pela pandemia (ainda não havia vacinas); iniciou lives com lideranças dos trabalhadores, dirigentes sindicais, intelectuais, representantes do povo e políticos do Brasil e de outros países. Sua viagem a Cuba para encontrar o cineasta Oliver Stone e preparar um filme sobre sua vida; o ato multitudinário na Argentina ao lado de seus parceiros, Alberto Fernandez e Cristina Kirchner na Praça de Maio para comemorar a volta da democracia; o encontro na Europa com importantes líderes do Parlamento Europeu como um verdadeiro estadista brasileiro defendendo a necessidade de uma governança global; e sua recente declaração de apoio ao governo de Ortega na Nicarágua, são todas expressões de um Lula presidente que o Brasil necessita e não pode mais esperar. Urge reconstruir a chamada Pátria Grande, independentemente da agenda eleitoral.
Há que ver como se compõem as forças progressistas e a esquerda, as alianças eleitorais em torno a um projeto de contenção da extrema-direita, mas centralmente de recuperação da democracia no que concerne à reconstrução do papel do Estado, de defesa da soberania nacional, de políticas públicas de emprego, garantias de direitos trabalhistas, sanitários e educacionais. O passo mais importante acaba de dar o PT, reiterado na declaração de Lula, por um projeto de revogação das reformas trabalhistas (adotadas por Temer e Bolsonaro após o golpe de 2016) e pela reestatização dos setores estratégicos da economia. Inclusive, diante de um país em que a inflação disparou em pouco tempo de 4 a 10%, e o preço da gasolina disparou ao impagável, Lula diz: “Qualquer pessoa séria mudará a política de preços da Petrobrás. Não faz sentido dolarizar os preços num país autossuficiente em petróleo”.
A população sente na pele e no seu cotidiano o plano macabro do governo cívico-militar de direita, dirigido por Bolsonaro/Guedes, que beneficiou e concentrou lucros abusivos nos bolsos de uma minoria que controla o mercado e que conduziu o país ao atraso extremo, com desemprego recorde, fechamento de várias indústrias, milhares de mortos por Covid 19, e outros milhares passando fome, comendo ossos e restos de lixo. É para essa população que Lula tem dirigido toda a atenção, deixando claro às forças externas e internas do PT, que não cederá nestas medidas em nome das alianças. Este também é um recado a um setor do mercado e especuladores financeiros que não vêem outra alternativa que apoiar Lula, e deliram ao cogitar que Lula abandonaria seu projeto de governo para apoiar um neoliberalismo que já se mostrou fracassado. Ao contrário, os vários encontros de Lula com o padre Lancelotti e os catadores de papel, dão mostras de que os excluídos serão ouvidos no novo governo para protagonizar um novo rumo no PT e nas forças políticas progressistas.
O que acontece para a angústia dos neoliberais é que a “Terceira via” não decolou e cada vez mais aumenta a adesão popular à candidatura Lula devido à sua firmeza e sensibilidade no trato com as questões sociais, sempre apresentando propostas e saídas para solucionar a crise que adquiriu enormes proporções; adesão dos evangélicos, do funcionalismo público, que tem ameaçado abandonar seus postos em protesto contra a política do governo (como recentemente tentaram os funcionários da Anvisa, da Receita Federal, do Banco Central e do Itamarati).
É preciso levar em conta as ameaças de Bolsonaro de não aceitar o resultado eleitoral e não está excluído um novo golpe do tipo fechar as instituições contando que uma parte dos militares, que integra o governo, e a milícia armada até os dentes, estariam dispostos a se lançar nessa aventura. Neste sentido a campanha eleitoral deve ser acompanhada de um amplo debate com a sociedade, organizando, como propõe o PT, os 5000 comitês eleitorais. Porém, é essencial que esses comitês se ampliem e se estendam para os bairros, universidades, escolas, fábricas, aos acampamentos do MST e se mantenham organizados mesmo após o processo eleitoral, convertendo-se em Comitês populares em defesa da democracia e de um projeto econômico e social popular! A comunicação popular (jornais de bairro, TVs e rádios comunitárias, blogs e redes sociais) junto a casa por casa, corpo a corpo, tornam-se instrumentos essenciais! A entrevista do jornalista Conde na TVT ao economista, Marcio Pochmann, presidente do Instituto Lula, é um termômetro importante do nível de discussão dos quadros, assessores de Lula, sobre os prováveis projetos do novo governo, onde o aprofundamento das relações econômicas com a China e Rússia serão inexoráveis, baseado num nacionalismo mais avançado que os progressismos da década passada, retomando o melhor das eras Vargas/Lula.
A frente ampla eleitoral de esquerda que está se formando deve se apoiar nessa vontade do povo de trazer Lula de volta. Trata-se do retorno de um projeto de desenvolvimento da economia que traiga emprego aos trabalhadores, o investimento nas pequenas e média empresas e comércios, na economia popular, numa verdadeira reforma agrária, na recuperação das estatais, na retomada da plena soberania nacional, dos investimentos públicos em saúde e educação, da recuperação do pleno funcionamento das universidades federais, do projeto “ciências sem fronteiras” capacitando jovens para a pesquisa, ciência e tecnologia; e estender o debate nas ruas sobre a importância que esse projeto significa para o crescimento do Brasil e para a retomada da unidade anti-imperialista da América Latina.
Este não é um momento de baixar a guarda! O arrogante império do norte já aponta seus canhões para a América Central e Sul, para conter a unidade e os avanços dos governos progressistas que retomam a política de crescimento, junto às potências da Eurásia emergente, desde a China à Rússia, que estão dispostas a manter relações e acordos comerciais sem interferir nas políticas internas de cada país. As relações de forças na América do Central e Sul serão consequência da agudização do enfrentamento dos EUA e OTAN contra a Rússia e o CSTO, expressas nas últimas reuniões (EUA-Russia) relacionadas aos acontecimentos no Kazaquistão e Ucrânia. Cuba e Venezuela vivem sob ataques e ameaças dos Estados Unidos. Já a extrema direita bolsonarista que ocupa o governo mostrou desde o início não ter nenhum compromisso com o Brasil e muito menos com os brasileiros. Eduardo Bolsonaro, é quem faz a política do leva e trás as ordens e orientações ao governo Bolsonaro, que vem dos setores mais reacionários da política norte americana ligados a Steve Bannon, especialista em derrubar governos progressistas, e da CIA. Caberá a Lula recuperar junto aos governos da Argentina, Chile, Bolívia, Peru, Nicarágua, Venezuela e Cuba, os instrumentos de integração continental como Mercosul, Unasul, Celac, Brics e o Conselho de Defesa do Sul, os laços estabelecidos com a África e países árabes; política que significou na década passada o fortalecimento regional da América Latina e que marcou um momento importante de peso do anti-imperialismo na geopolítica mundial.
Comitê Editorial
17/01/2022
Crédito da foto de Destaque: Instituto Lula