Aumenta a resistência popular na Bolívia contra o golpe fascista orquestrado pelo imperialismo



É preciso manter as mobilizações de solidariedade ao povo boliviano e rejeitar esse golpe de estado orquestrado pelo imperialismo com a cumplicidade da direita boliviana, da Colômbia, do Brasil e do governo de Macri na Argentina. Este golpe visa interromper um processo revolucionário com grande autoridade na América Latina, que tem favorecido a frente anti-imperialista e os processos de rebelião popular e a resistência aos golpes no Brasil, em Honduras, e particularmente a resistência da Venezuela ao imperialismo.

Evo Morales venceu a eleição com mais de dez pontos de diferença e seu rival, representante da oligarquia, Carlos Mesa, denunciou fraude antes que os resultados fossem conhecidos. A OEA, em vez de pacificar a situação, falou de irregularidades em 0,22% dos resultados e, sem qualquer fundamento, convocou uma segunda rodada de eleições. Desta forma, o papel desestabilizador e unilateral da OEA foi novamente desmascarado, como também a atuação do nefasto agende do imperialismo Almagro. Na intenção dos golpistas não havia nenhum interesse em fazer qualquer acordo, mesmo frente ao chamado a novas eleições feito por Evo Morales, e finalmente, a própria demissão, porque os “Comitês Cívicos”, especialmente os de Santa Cruz, liderados por Luis F. Camacho e quadrilhas paramilitares, compostas por mercenários, lançaram-se a intimidar a população com violência, perseguições, incêndios e assassinatos.


Isso foi sem mais nem menos, um golpe de estado brutal da direita oligárquico-financeira servidoras dos EUA para impedir o avanço do Estado Revolucionário da Bolívia e a coordenação anti-imperialista latino-americana (incluindo o Grupo de Puebla) que renasce do México, da resistência da revolução bolivariana da Venezuela, da vitória eleitoral de Alberto e Cristina Fernández na Argentina, e da libertação de Lula no Brasil. É um golpe das forças mais retrógradas e fascistas, tentando finalizar o novo Plano Condor na América Latina, diante do fracasso do neoliberalismo evidenciado na eclosão social das massas no Chile, Colômbia e Equador. É a cara verdadeira dos golpes jurídicos-midiáticos, despojando-se da sua máscara.

As medidas tomadas durante os governos de Evo Morales e Álvaro García Liñera recuperaram a riqueza da Bolívia para colocá-la a serviço das massas bolivianas. Os hidrocarbonetos foram nacionalizados, em maio de 2006, o que aumentou a arrecadação do Estado e estabilizou um crescimento médio de 4,9% nos últimos anos. O salário mínimo passou de US $ 55 para US $ 308; A pobreza moderada e extrema caiu e a última pesquisa registrou uma taxa de desemprego de 4,2%. O investimento em educação e saúde cresceu e, em 2008, o território da Bolívia foi declarado livre de analfabetismo. A dívida externa diminuiu e foram construídas importantes obras públicas, entre as quais se destaca o teleférico que liga La Paz a El Alto.

Mas quais são os interesses econômicos e políticos por trás desse golpe liderado pelos Estados Unidos? Em primeiro lugar, a Bolívia possui a maior reserva mundial de lítio necessária para trabalhar com vidro e cerâmica e na construção de baterias para carros elétricos. É um grande produtor de gás e possui depósitos significativos de minerais que foram recuperados pelo governo de esquerda.

Do ponto de vista político, o Estado Revolucionário Boliviano cumpriu um papel muito importante ao participar, com outros países, da ALBA (Alternativa Bolivariana para América Latina e Caribe), criada na Venezuela em 2011 para atuar em conjunto e combater a pobreza e exclusão social Esta organização rejeitou a demissão de Evo Morales e agirá, dentro de seus meios, para reverter esse golpe de estado

O governo de fato criado conseguiu apenas o apoio de Trump, Bolsonaro, Duque e o derrotado Macri, enquanto a União Europeia se recusa a qualificá-lo. As medidas adotadas para se retirar da ALBA, demitir 80% dos embaixadores, qualificar os setores de esquerda como sediciosos, ordenar a retirada de 725 funcionários cubanos da cooperação médica, e o reatamento das relações diplomáticas com Israel e com os EUA, não terão sustentação de longo prazo. O golpe fascista necessita perseguir as testemunhas da repressão e agressão desencadeada contra a população, e aniquilar os líderes populares que resistem. Por isso, jornalistas que denunciam a situação são silenciados e estrangeiros banidos violentamente do país.  Já de início, a resposta das massas indignadas não demorou a chegar, e está longe de ter cessado. Um enorme Cabildo em El Alto rejeitou esse golpe, exigiu a substituição de Evo Morales e marchou para la La Paz. Os mineiros estão mobilizados e setores do movimento trabalhista fizeram várias marchas rumo à capital. O movimento dos plantadores de coca se mobilizou, salvou a vidas de Evo Morales quando este teve que se exilar, e Potosí se levantou contra o pseudo-governo dos golpistas.

Foi a resistência heroica do povo trabalhador, das populações indígenas, mineiras e camponesas, das mulheres e dos jovens, que forçou o respeito parcial à legalidade institucional que perdura até o momento. Os golpistas não puderam fechar a Assembleia Nacional, Câmara e Senado, tiveram que respeitar 2/3 do poder do MAS no parlamento e no Conselho Eleitoral para convocar as eleições; eleições estas, que se preveem por si fraudulentas, com todas as imposições e manobras que levaram à demissão violenta de Evo Morales e de todo o seu governo. É preciso ver para onde vão estas eleições, em que Camacho se postula como candidato; tentarão dar uma roupagem legal ao golpe, com armas apontadas contra o MAS e os manifestantes.

Já houve manifestações em solidariedade à luta do povo boliviano na América Latina e em algumas cidades europeias, bem como o apoio dos governos do México, Venezuela, Cuba e do presidente eleito da Argentina, Alberto Fernández, que organizou a saída com vida de Evo Morales e García Liñera para o México, superando o fechamento dos espaços aéreos vizinhos. É o início de uma resposta à ameaça direta aos governos progressistas da região e àqueles que serão constituídos. Reativar as forças políticas e o papel da UNASUR e da CELAC está na ordem do dia. Diante do terrível apagão midiático ao qual está submetido o povo boliviano pelo governo de fato, uma delegação argentina de líderes sindicais, movimentos sociais e advogados, visitou a Bolívia, sob ameaças e repressão, e retornou com graves denúncias exigindo investigações sobre denúncias de agressão aos direitos humanos da população boliviana. . Leia relatório inicial e as declarações ao retorno da delegação na Argentina denunciando crimes de lesa humanidade.

 Os partidos de esquerda, sindicatos e movimentos sociais devem continuar e ampliar as mobilizações, pronunciar e condenar essa usurpação da vontade popular expressa nas últimas eleições e a repressão brutal contra o povo boliviano. Nem os crimes nem os assassinatos que a polícia e as milícias fascistas estão cometendo podem impedir a vontade das massas de defender a conquista que o Estado Revolucionário significa.

É preciso analisar com cuidado o papel do exército e das forças armadas: embora cúmplices do golpe, pois referendaram a posse dos golpistas e coadjuvaram as operações de contenção das manifestações feitas principalmente pelas forças policiais, e tendo feito algumas operações de ameaça e intimidação, sobretudo a aeronáutica; não todo o exército se envolveu abertamente na repressão. É um impasse que historicamente não pode durar muito: a população se dirigiu aos militares clamando constantemente por “motim” em favor da legalidade. Os comandantes não aderiram abertamente à repressão, embora, como relata o próprio Morales, alguns dos mais altos graduados tenham aceitado subornos altíssimos para não oporem-se ao golpe. Ledo engano: os fascistas que assaltaram o poder estão mudando os comandos por fidelíssimos, logo estes oficiais estarão no ostracismo. Nesse ponto a revolução pacífica e democrática de Evo Morales, como o próprio admite, falhou, e é uma lição a ser aprendida e discutida em toda a América Latina, principalmente entre os governos progressistas: Evo Morales e seu governo não modificaram com a devida profundidade as estruturas do exército enquanto instituição profundamente  atada e moldada ideologicamente nos interesses históricos das oligarquias e do imperialismo. Hugo Chávez, justamente por provir da caserna e conhecer seu espírito profundo, viu muito mais longe este problema, introduzindo na Constituição os conceitos de aliança cívico-militar e criando as milícias populares orientadas, treinadas e armadas pelas forças armadas. Além disso, trabalhou profundamente na formação e conscientização dos soldados, oficiais e estruturas militares, o que explica o fracasso de todas as tentativas de corrupção da oficialidade venezuelana até o momento. Evo, e de certa forma, Lula no Brasil, dedicaram-se a armar e prestigiar as forças armadas, sem trabalhar a fundo as suas estruturas, sua formação, sua identificação com os projetos transformadores. Não viram, como no caso do Brasil, que a alta hierarquia militar brasileira poderia se comportar como verdadeiros vende-pátrias, sendo cúmplices da maior desnacionalização jamais vista na história do país, com o desmanche e venda da Petrobrás, a entrega da Base de Alcântara aos americanos, a venda a preço de banana das reservas petrolíferas e a venda da Embraer à Boeing.

As forças armadas são assim, hierárquicas, e somente um trabalho em todos os níveis pode mudar o comportamento do soldado e da oficialidade, que com as armas nas mãos devem poder entender – e decidir – quando os interesses maiores do seu povo são violentados. Fez bem Lopes Obrador iniciar seu governo falando aos militares, frente a um exército profundamente contaminado pela influência norte-americana e envolvido na “guerra” ao narcotráfico; fará bem Alberto Fernandez em recuperar as relações entre o povo argentino e as forças armadas, elevando o seu prestígio e compromisso constitucional, sobretudo se dará a estas forças um papel social. Continuará na agenda das direções populares da Bolívia evocar a memória do nacionalismo revolucionário do período de Juan José Torres, e elevar a consciência cidadã do exército para que se transforme numa instituição em defesa do povo originário, da soberania e das riquezas nacionais.

Os fascistas bolivianos tentarão neutralizar este processo e por meio de mudanças no comando tentarão utilizar as forças armadas para aprofundar o golpe e esmagar o movimento popular. Já contam com a Polícia, mas aí também é preciso intervir, dissolver todos os corpos repressivos envolvidos com os massacres, punir severamente seus comandantes e cúmplices civis, reformar profundamente suas estruturas e formação ideológica. Mas o que está claro é que a direita ainda não conseguiu impor seu projeto, não se sente segura, vacila, e as filas populares se reorganizam, mas não se deve descuidar um só momento a questão militar.

Outra questão é a mídia, alvo principal e imediato dos fascistas: o seu controle é questão militar, não de “liberdade de imprensa”. A extrema direita não hesitou um segundo em apagar violentamente os meios de comunicação favoráveis ao governo legalmente constituído de Evo; não só, criminosamente, a mídia privada “apagou” as manifestações de milhões de indígenas e trabalhadores; mentiu, caluniou, divulgou informações falsas e continua a campanha ideológica e de terror; jornalistas foram perseguidos, expulsos, agredidos. Tarefa crucial de qualquer projeto progressista no próximo período é abater estas verdadeiras “centrais do terror” e da propaganda fascista em que se converteram os meios de comunicação, na Bolívia, na Argentina, no Brasil, na Colômbia, em todas partes. A violência nasce da mentira, este golpe ensina, a informação é crucial, e a “informação” da “fraude eleitoral”, reproduzida e amplificada, serviu de estopim para a conflagração do banho de sangue. Portanto, o jornalismo e os jornalistas têm a mesma responsabilidade que os soldados com as armas em mãos: se atiram contra o povo, são inimigos, e devem ser combatidos. Alberto Fernandez na Argentina não poderá governar se não recuperar plenamente a vigência da “Ley de los Medios”, anulada na prática por Macri, se deixar o grupo Clarín impune e livre para destruir reputações, mentir e secundar o judiciário corrupto do lawfare.

Tanto do ponto de vista militar, como midiático, o exemplo da resistência do Estado Revolucionário Venezuelano neste momento é dos mais avançados. Com tantas ameaças diretas de Trump e dos EUA, não obstante o fracasso político de Guaidó nas recentes manifestações opositoras, e a explosão social contra Duque na Colômbia, o governo bolivariano continua alerta e preparando a união cívico-miliar, as milícias (organizações populares de esquerda) na defesa do Estado Revolucionário, ao lado das Forças Armadas. O alerta faz sentido sobretudo porque a Colômbia convocou para o dia 3 de dezembro a reunião de cúpula do Tratado Interamericano de Assistência Recíproca (TIAR) contra a Venezuela. Nesse contexto, Nicolás Maduro, por meio de um regulamento militar, entrega 13 mil fuzis ao corpo de combatentes de  trabalhadores da Guyana, região pertencente à Venezuela e ameaçada de invasão externa.  Veja discurso de Maduro.  Hugo Chávez já deixou um recado: a revolução é pacífica, mas não desarmada. Um alerta para todos os governos e movimentos progressistas que acreditaram que as democracias constitucionais atuais podem suportar as transformações sociais profundas como as que propiciou Evo Morales para a Bolívia, sem que o povo esteja preparado e mobilizado em órgãos de poder popular independentes, controlando as instituições do Estado, para fazer frente a qualquer tentativa da extrema direita e do imperialismo.

30/11/19

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