Dia 24 em Porto Alegre: Duvidosa a reação do Judiciário, mas certeiro e irreversível o salto organizativo e político do movimento de massas
Qualquer que seja o resultado do julgamento de Lula pelo TRF 4 em Porto Alegre no dia 24 de Janeiro, cuja sentença já é previsível já que o eixo central do golpe é sua condenação e prisão na tentativa de impedir seu retorno ao Palácio do Planalto, a principal conclusão é que o povo será protagonista decidiu que é quem vai dar o veredito final e já antecipa que Lula será absolvido nas urnas; por isso não abrirá mão da candidatura de seu maior líder político! Tanto é assim que o ano de 2018 começa com uma encorpada agenda de atividades e mobilizações em defesa da democracia e de Lula como jamais visto antes no período pós ditadura militar. Ainda que esta pauta popular não se manifeste na forma de grandes concentrações, está se desenvolvendo de maneira superior na forma de organização, através dos milhares de comitês criados “Eleição sem Lula é Fraude” em todos os cantos do país. Nas contas do PT já são mais de 6 mil até o momento. Sindicatos, diretórios partidários, entidades de classe, igrejas e diversas outras entidades tem disponibilizado seus espaços e os transformam em comitês em defesa da democracia e de Lula!
Centenas de outras iniciativas desta natureza, rumo à condenação de medidas impopulares do governo, de cobrança por um STF imparcial e sobretudo contra a absurda condenação sem provas de Lula, o maior líder de massas do país, vão brotando nos meios populares tão espontaneamente que o próprio PT e a esquerda só se dão conta quando já estão viralisando nas redes sociais, como as marchinhas de carnaval com seus blocos carnavalescos quase todas de conteúdo político, e várias outras manifestações artísticas como grupos de dança e de teatro com performances que traduzem o sentimento social, principalmente no nordeste onde a imaginação popular é cada vez mais politizada e consciente.
E não são só expressões artísticas; outras iniciativas buscam repetir o que já deu resultado em algum momento da história como, por exemplo, essa ideia que se concretiza hoje de resgatar a inédita experiência da Rede da Legalidade que a 55 anos atrás, sob a liderança de Leonel Brizola, teve papel de destaque na resistência que uniu civis e militares e barrou o golpe que impedia a posse de João Goulart e garantiu a ordem jurídica. Foi esta Campanha da Legalidade que permitiu a integração e união do país contra o golpe conservador que queriam impor as elites! E neste sentido valorizar investir e ampliar esta iniciativa é fundamental para que estas ferramentas de comunicação além de transmitir o julgamento de Lula se transforme em espaços de resistência ao golpe e pela imediata retomada da democracia.
Atos públicos já estão pipocando em vários países numa campanha cada vez mais forte para que o mundo acompanhe esse julgamento imposto por forças obscuras, seguramente ligadas à CIA. Amplia-se cada vez mais o apoio e a solidariedade à maior liderança mundial hoje, o presidente Lula. Recentemente numa importante partida de futebol na Alemanha a torcida do Bayer de Munique estendeu uma faixa com os dizeres “Furza Lula’! No Brasil também é muito comum manifestações de protestos nos estádios de futebol contra o golpe! Manifestações de advogados, juristas, intelectuais governadores e muitos políticos de todos os partidos, em adesão e apoio à candidatura de Lula cresce à medida que o golpe vai dando demonstrações de fracasso, ao apresentar uma economia cada vez mais em frangalhos com milhares de desempregados, indústrias fechando suas portas, sem falar no caos em que se transformou a educação e a saúde pública. O surto de febre amarela na maior cidade da América Latina, São Paulo, é o exemplo desta política macabra que os governos tucanos aliados ao golpe e a décadas administrando esta capital, querem implementar em todos o país.
Diante de tudo isso é normal que o povo entre, cada vez mais, num processo de radicalização para enfrentar estes problemas colocados por esta quadrilha encastelada no poder sem ser legitimado por ela. O povo que, até então estava anestesiado – como diz o Lula – por um complô liderado pela rede Globo, acreditava poder resolver esta parada nas urnas; agora, vê esta possibilidade escapar-lhe das mãos numa provável condenação de seu líder.
Crescentes segmentos populares dão fortes demonstrações de que não vão admitir, ao marcar presença no dia do julgamento em Porto Alegre no dia 24, maiores retrocessos no processo democrático, buscando formas mais politizadas de participação, seja no crescimento das filiações no PT, seja na formação dos comitês em defesa da democracia, seja na criação da Rede da Legalidade, seja na importante presença na recepção ao Lula nas recentes caravanas e seja nas mobilizações a acontecer até o dia do julgamento.
Este é o início de um novo processo de “renascimento” da militância, do movimento popular, que vai superar o período de letargia do PT e dos sindicatos por terem estado, em parte, submetidos à ilusão do poder, quando o poder é aquele real, das ruas, das lutas, da organização, ou, pelo outro lado, da repressão, porrada e imposição. Como se vê claramente hoje em Honduras, mobilizada e em resistência até dia 27, dia da “posse” do presidente-farsante. Mobilização massiva, contínua, e repressão brutal, sem que as massas se intimidem. Porque a História não permite mais atalhos. Tudo se canaliza para a luta de classes, e quando o momento é decisivo, não há alternativas que esta luta enorme e criativa do povo brasileiro; não é a “tomada da Bastilha” mas é o caminho da insubordinação geral, considerando que o Brasil é um continente inteiro, não é só aquela “Vila de Paris” que dez mil pessoas tomavam. Hoje precisamos de milhões, e isso não é fácil.
Não podemos ficar no delírio do PSTU que acha que Lula está levando o que mereceu, que é um problema “da burguesia” e que dane-se o PT. Se a revolução permanente previa passar do feudalismo ao socialismo, não está escrito em nenhum lado que este processo é automático. O Brasil, de certa forma, tem dificuldades em sair do feudalismo, que é de onde o Lula tentou tirá-lo. Por isso as tarefas são necessariamente democráticas, e se mandar às favas a institucionalidade burguesa, o que se coloca no lugar? Os sovietes não estão às portas. É um processo mais lento, mas não se pode arredar o pé de manter as brechas, conquistas, ainda que mínimas, para avançar depois. O certo é que este julgamento se transformou numa batalha campal e frontal e vai marcar as forças das partes em conflito: tudo indica que, qualquer que seja o resultado, o movimento popular vai sair mais forte, e o judiciário e o esquema golpista, mais desmoralizado ainda.
Com tudo isto, podemos já contar como uma importante vitória, até porque o resultado que as elites esperavam era a de um esmagamento sem retorno de Lula, do PT e das esquerdas. O que se vê é um fracasso das previsões da elite junto com o fracasso do golpe cujo governo na figura de Temer vem sofrendo seguidas derrotas no parlamento, sobretudo nas mudanças das regras na Previdência, em função, também, deste ano eleitoral. Temer também não está conseguindo a toque de caixa aprovar todas as privatizações pautadas pela burguesia internacional. Contudo é necessário estar atento e se preparar para novos golpes já que a burguesia não pensa em retroceder um milímetro sequer nos seus projetos de privatizações e de entrega dos setores estratégicos da economia ao capital estrangeiro. Não está descartado que diante de semelhante pressão internacional e mobilização quase inesperada das massas, a burguesia decida absolver Lula, e ganhar tempo para um novo golpe, o fraude eleitoral, como em Honduras.
Manter a sociedade mobilizada, a esquerda unida, impulsionar a Frente Brasil Popular, os chamados de João Pedro Stedile (MST) à formação de comitês populares, chamar os setores progressistas e nacionalistas com uma pauta unificada em defesa da democracia, contra este governo e contra a farsa deste julgamento é agenda principal neste momento cujos desafios já estão colocados e devem ser enfrentados em conjunto com a população e a classe trabalhadora.
Comitê Editorial
20/01/18