Há algumas marcas importantes do governo Lula. Uma delas é relativa ao campo, apesar de não terem abarcado ainda a Reforma Agrária tão almejada e necessária. Desde o primeiro momento, acionou o aumento da verba per capita da alimentação escolar que tem um impacto positivo direto para a nutrição das crianças das escolas públicas. A reformulação do Bolsa família. No Campo do Meio (MG), Lula esteve assinando decretos de desapropriação de terras para vários Estados da federação. O Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) com compra simultânea que tem beneficiado milhares de agricultores familiares. Recentemente, o governo retomou três fábricas de fertilizantes da Petrobrás que estavam paradas.
Em contrapartida, o agronegócio se mantém isento de pagar imposto sobre exportações de soja, milho, café, algodão, carnes. O modelo da agricultura brasileira adotado há 40 ou 50 anos dependentes de insumos importados, muitos agrotóxicos (para o pequeno e grande produção) que têm impactado e contaminado o solo, as águas e as populações. A ruptura com este modelo de dominação depende de um planejamento econômico-agrícola que acabe com a dependência à monocultura de exportação, que coincida com decisões políticas do PT, do MST e da esquerda no governo, em promover uma reforma agrária de fato, e buscar as vias de independência política executiva e parlamentar para avançar rumo a um governo popular revolucionário.

Enquanto isso não ocorre, por ausência de condições subjetivas e de liderança política, não há que cair no criticismo, sem fortalecer a comunicação pública sobre medidas em andamento como, por exemplo, o programa “Arroz da Gente” recentemente lançado pela Conab para a produção de arroz pela agricultura familiar em várias regiões do país, com a importação de máquinas da China, num acordo com o BNDES, Embrapa. A discussão é porque não incentivar a produção destas pequenas máquinas através da indústria nacional, com a participação do BNDES? 100% das placas de energia solar (fotovoltaica) estão sendo importadas da China, dado que não há uma estratégia com participação estatal. Não é claro se isso está ocorrendo; e não se informa. Sem planificação estatal (o que não falta na China), não há um aproveitamento global das energias, inclusive da hidroelétrica; um gigante em riquezas naturais como o Brasil importa óleo diesel e gás liquefeito.
O governo peca e perde prazos ao não utilizar a comunicação pública e estatal para informar a cidadania, por exemplo, de temas importantes como os temas abordados ou concordados entre o Brasil e a China durante a visita oficial de Lula a Pequim em maio de 2025.
Eis os principais temas:
– Saúde e Biotecnologia
- Centro iBRID: memorando entre Eurofarma e Sinovac para criação do Instituto Brasil‑China de Inovação em Biotecnologia e Doenças Infecciosas e Degenerativas, visando vacinas avançadas, anticorpos monoclonais e terapias celulares e genéticas
- Expansão da produção de insumos farmacêuticos ativos (IFAs) no Brasil
- MoUs para aparelhos de imagem (ultrassom, tomografia etc.)
– Ciência, Tecnologia e Espaço
- Centro de Transferência de Tecnologia: MCTI Brasil e Ministério da Ciência chinês assinam cooperação
- Compartilhamento de dados espaciais: MoU para uso de informações obtidas pelos satélites CBERS‑5 e CBERS‑6, disponibilizando-os à América Latina e Caribe
- MoU em #InteligênciaArtificial para treinar LLMs, laboratórios conjuntos e troca de pesquisadores ().
– Agroexportações e Comércio
- Protocolos sanitários para exportação de carne bovina, aves, pecans, gergelim, sorgo e DDG (resíduo de etanol para ração)
- Acordo que permite a exportação de DDG, permitindo ao Brasil disputar o mercado chinês hoje dominado pelos EUA
- Modernização de certificações fitossanitárias e quarentena digital ().
– Infraestrutura, Energia e Tecnologia
- Iniciativa Cinturão e Rota + PAC: memorando envolvendo Casa Civil e CNDR para integrar projetos logísticos, infraestrutura limpa e tecnologia verde
- Engenharia portuária e aeroportuária: interesses chineses nos portos brasileiros (~R$5 bi) e no túnel Santos‑Guarujá (~R$6 bi)
- Projetos de energia renovável:
- Colaboração entre Electrobas Furnas e State Grid na Itaipu DC
- Investimentos de R$5 bi da Envision (eólica + SAF) e R$3 bi da CGN (energia renovável) .
- Semicondutores: R$650 mi pela Longsys ampliando produção no Brasil
– Finanças e Moeda
- Swap e clearing em RMB: ICBC Brasil atua como clearing bank em reais/yuan; BOCOM BBM entra no sistema CIPS
- Carta de intenções e MoU sobre cooperação financeira, economia digital e moedas locais
– Infraestrutura & Telecom
- ZTE + Unifique: reforço do 5G no Sul do Brasil
- CITIC + ETERC: projetos de habitação social e infraestrutura no Brasil
– Contexto e impacto
- 20 acordos bilaterais firmados para cooperação pelos próximos 50 anos
- Em investimento direto, foram mobilizados ≈R$27 bi em intenções de investimento chinesas
- Os pactos reforçam o multilateralismo e a defesa do livre comércio diante das turbulências globais
– Considerações finais
Essa visita reforça a estratégia do Brasil de diversificar e robustecer suas parcerias, com foco no agronegócio, tecnologia, saúde, infraestrutura e finanças, além da transição energética. A cooperação com a China se estende de curto a longo prazo, buscando transferências tecnológicas e atração de investimentos em setores estratégicos.
Fala-se em tecnologia verde. Cabe lembrar que o setor sucroalcooleiro que produz etanol, energia renovável (apesar do criticável modelo concentrador do latifúndio) foi nacional e, durante os dois primeiros mandatos do governo Lula foi comprado pelas multinacionais ADM, Bungue, Cargil, etc. É real que houve aumento na produção de biodiesel, mas tendo como matéria prima a monocultura da soja.
C. Redação
Minas Gerais
10/07/2025
Foto destaque: Programa da Conab “Arroz da Gente”