A crise energética em São Paulo que em menos de um ano já provocou dois apagões, deixando uma parcela da população da região metropolitana de São Paulo, a maior cidade da América Latina sem energia, escancara, a falácia do sistema privado que diz garantir serviços baratos e de qualidade e a hipocrisia dos governos que administram o Estado e o Município de São Paulo, os reais responsáveis juntos com a empresa, por esta situação caótica. Uma excelente oportunidade para a candidatura de Boulos (PSOL) explorar, não apenas apresentando denúncias, mas, propondo um projeto real de transformação da cidade, começando pela reestatização dos serviços públicos como energia e serviços de abastecimento, Sabesp, que acaba de sofrer um duro golpe com a privatização pelo governo de Tarcísio de Freitas, que apoia a eleição do atual prefeito Ricardo Nunes (MDB), um personagem que, assim como o governador, até agora não expressou qualquer empatia ou compromisso com o povo paulistano. É o Estado de São Paulo nas mãos da direita privatista que vai deixando a boiada passar.
Os serviços públicos privatizados, significam mais lucros nas mãos das empresas e maiores danos para a sociedade. E os problemas causados neste apagão que entra no seu quarto dia, foram desastrosos, um cenário estarrecedor, falta de luz, semáforos apagados, mortes por quedas de árvores, hospitais sem energia, escolas sem aulas, além das famílias que perderam alimentos que dependiam de refrigeração. A empresa Enel, tem que ser responsabilizada pelo Ministério Publico e pela Agência Reguladora de Energia, Aneel, pelo descaso criminoso contra o povo de São Paulo. A Enel é uma empresa italiana, cuja estratégia política é investir em redução de custos, demitir, já demitiu 36% dos trabalhadores, para encher os bolsos dos acionistas estrangeiros e tem como referência ser uma péssima prestadora de serviços.
O presidente da Agência Nacional Reguladora de Energia, Sandoval Feitoza diz: “A Enel não cumpriu seu Plano de Contingência para eventos climáticos severos e acionou menos funcionários do que o necessário após a tempestade que atingiu São Paulo”. Importante recordar que a empresa de energia de SP, Eletropaulo, foi criada em 1981 no governo de Paulo Maluf, para atender a demanda da capital paulista, foi privatizada em 1998 na gestão Mário Covas, PSDB, o partido da privataria de FHC. De lá para cá, os preços da energia não só aumentaram como os serviços também caíram na sua qualidade. Segundo levantamento realizado pela Folha de São Paulo, o paulistano fica cerca de cinco vezes mais tempo sem luz que os consumidores de cidades italianas atendidas pela mesma empresa italiana de energia, Enel.
A indignação popular acentua após o presidente da Enel não apresentar um prazo para o reestabelecimento total de fornecimento de energia nas residências e comércio afetados. Manifestações de protestos começam a surgir como o panelaço que aconteceu no bairro pobre de Campo Limpo. Bairros inteiros, ricos e pobres foram atingidos pelo apagão e até o presidente da Câmara de vereadores, culpa o prefeito e já prevê um revés eleitoral neste segundo turno entre Boulos (PSOL) e o atual prefeito Ricardo Nunes (MDB). O governo Lula pediu à Controladoria Geral da União uma auditoria rigorosa no processo de fiscalização da Agencia Reguladora (Aneel), que tem como presidente um cidadão indicado por Bolsonaro. Investigar a agência e seu presidente é o mínimo que o governo e a CGU devem fazer, porém a questão de fundo é muito maior que a omissão da Reguladora e a péssima qualidade no cuidado com distribuição e manutenção de energia. O problema é, por que a Eletropaulo foi privatizada se apresentava bons resultados e a quem serviu e ainda serve a privatização deste serviço essencial?
As chances de Guilherme Boulos (PSOL), neste segundo turno, se ampliam porque parte do eleitorado vê com descrédito a continuidade do prefeito depois da tempestade que causou todo este estrago. Veêm em Ricardo Nunes (MDB) um político lerdo, incompetente e que não passa confiança para a sociedade de que novos apagões não irão acontecer. É necessário que este problema que afeta milhares de paulistanos seja debatido amplamente com a sociedade, que as organizações populares, partidos políticos, sindicatos, movimentos sociais e estudantis da cidade, pressionem os responsáveis por este cenário caótico em que vivem os paulistanos neste momento. Exigir que o governo Federal retire a concessão da empresa de energia de São Paulo das mãos da Enel e não privilegiar outra empresa privada para assumir o controle pela distribuição de energia, mas, entrar imediatamente com um processo de reestatização das empresas de energia de todo o país.
A questão energética é central para o desenvolvimento do país e a vida das populações. Aí está o exemplo do Equador onde Noboa (e todos os presidentes de direita do pós-governo progressista de Rafael Correa e da Unidade Cidadã) entregaram o país ao neoliberalismo, hoje paralisado pelo terror de apagões nacionais constantes; um exemplo que São Paulo não deve seguir. Da mesma forma, a Argentina de Milei, com distribuição de luz e gás privatizada, é vítima de apagões domésticos e industriais, com tarifas impagáveis aumentadas em 300% no arco de 10 meses. A energia é fonte de vida que deve ser controlada pelo Estado em toda sua extensão, sobretudo em tempos de destruição avassaladora do meio ambiente.
Marta Rodrigues Costa
Socióloga PT SP
São Paulo, 15/10/2024
Foto: Dilúvio em São Paulo (Crédito: InfoMoney)