O significado profundo e os efeitos da Caravana de Lula pelo sul do Brasil


O bloqueio das estradas, os ovos atirados e até mesmo os tiros nos ônibus da caravana do Presidente Lula no sul do Brasil precisam ser entendidos no seu real significado. Lula ao visitar o Mausoléu de  Getúlio Vargas nos permite voltar politicamente na história com um grande sentimento de defesa da soberania nacional.

Mais do que ninguém Getúlio Vargas foi um nacionalista que com o passar de tempo adotou cada vez mais medidas anti-imperialistas para avançar no seu programa desenvolvimentista estado-empresa. Quando governador do Rio Grande do Sul, Getúlio criou uma estrutura estatal, com o Banrisul, que existe até hoje e a legislação de proteção ao trabalhador, herdando de Borges de Medeiros, que estatizou as ferrovias. Ele apoiou a criação da Varig, da Revista “O Cruzeiro”, e organizou a revolução de 30 dentro do Palácio do Piratini, como os revolucionários tenentistas. De certa forma, Lula é a continuidade de Vargas. Fernando Henrique Cardoso, o vende-pátria, declarou desde o seu primeiro governo que seu objetivo era desmontar a estrutura estatal da Era Vargas e o golpe contra a presidenta Dilma veio para tentar tornar isto uma realidade. A atual luta é  entre as forças em defesa da soberania nacional e o projeto de desmonte da nação brasileira tornando-nos um colônia do banqueiros. Getúlio denunciou a coação imperialista da história desde 1906. Em 1931 ele inicia a auditoria da dívida externa e anula as concessões para as multinacionais explorarem o petróleo ou o minério.

Criou o Ministério do Trabalho e o da Previdência Social, a carteira do trabalho e instituiu o salário mínimo e Lula fez questão de valorizá-lo com reajustes acima da inflação, possibilitando com isto o aumento do poder de compra da classe trabalhadora e consequentemente, o aumento do consumo no mercado interno. Os governos de Lula e Dilma reestruturaram a Previdência Social e incorporaram a empregada doméstica à Previdência Social. Apesar de algumas contradições, como ter aumentado a cobrança sobre os aposentados, pressionados por Berzoini e Marinho, favoráveis à privatização, mas Lula sempre fez questão de defender que um dos seus objetivos era que o povo pobre pudesse ter no mínimo três refeições por dia. Tirou 40 milhões da miséria. Como? Desenvolvendo a economia. Com o bolsa família, o programa habitacional “Minha Casa Minha Vida”, o programa de eletrificação rural “Luz para Todos”. Criação de universidade e escolas técnicas. Programa de Aquisição de Alimentos da Agricultura Familiar – PAA, todas medidas que distribuíam a renda em favor dos mais pobres.

Digam o que quiserem, diga-se que o petróleo está com os dias contados, mas na realidade ainda é motivo de guerras como vimos com a bárbara  destruição de países como a Líbia e o Iraque pelo seu controle. Vargas editou um novo Código de Minas, proibindo a participação de estrangeiros nas extrações minerais e metalúrgicas, e na sequência criou a Companhia Vale do Rio Doce e nacionalizou o petróleo ainda no Estado Novo e a criou a Petrobrás no segundo governo, quase privatizada pelo governo FHC numa ação de lesa pátria. Lula decretou o monopólio do pré-sal, com a prioridade de exploração pela Petrobrás e com obrigação de no mínimo de 60% de equipamentos para sua exploração fossem de fabricação nacional. Numa clara demonstração do seu programa de fortalecer a indústria nacional. Reconstruiu a indústria naval brasileira. Tudo a ser desmontado pelo governo golpista do Temer.

Não é pouca coisa. Vargas pegou um país agrário e deixou um país industrializado. Ele e sua equipe sabiam o que queriam. Para se industrializar era preciso aço e energia. Criou o Conselho Nacional de Águas e Energia Elétrica, a  Companhia Siderúrgica Nacional, a Companhia Hidroelétrica de São Francisco e a Eletrobrás.

Mas não bastava criar estas estruturas. Era preciso ter controle do setor financeiro e comercial. Criou a Superintendência da Moeda e do Crédito. Criou a Comissão Administrativa de Defesa da Economia (CADE), criou o Conselho Nacional de Fundo de Re-implementação Econômica. Decretou o limite de 10% a remessa de lucros para o exterior. E por fim criou o Banco Nacional de Desenvolvimento Social – BNDS que depois passou a chamar BNDES. Lula se apoiou nesta estrutura varguista por meio do BNDES para alavancar a economia, financiando empresas nacionais, sejam grupos econômicos, mas também pequenas e médias empresas. Não era impossível prever que o ideário de se constituir corretamente grandes empresas privadas – para atuar em parceria com o Estado, como base do desenvolvimento seria alvo de uma sabotagem do império, como de fato foi. Frustrou-se, pois na realidade foram empresas utilizadas como cavalo de Tróia, não só no Brasil, para a ação golpista da CIA e do FBI contra governos progressistas democráticos e populares. O juiz Moro, representante maior desta ação golpista, foi o homem treinado para fazer esta operação de sabotagem imperial disfarçada sob a falsa bandeira do combate à corrupção.

Porém, a construção da Era Vargas não foi um passeio em campos floridos. É preciso lembrar que Vargas derrotou em armas o golpe da oligarquia paulista em 1932, indevidamente apelidado de Revolução Constitucionalista.

Lula fez de tudo para realizar uma composição entre empresários, banqueiros, a classe média e os trabalhadores para construir uma nação com um programa desenvolvimentista estado-empresa, mas foi traído pelos interesses do poder mundial consubstanciado no poder do capital financeiro. Vargas suspendeu o pagamento da dívida púbica e fez a auditoria, dizendo que não pagava o que não tinha contrato e cortou a ingerência os bancos estrangeiros que tinham acesso à arrecadação de impostos.

Entretanto, há diferenças nas conjunturas das épocas de Lula e Vargas. É preciso destacar que vivemos hoje um período em que a riqueza do mundo – minérios, petróleo, alimentos -, produzida pelo trabalho é capturada pelos bancos e seus intermediários financeiros. A banca desenvolveu estruturas que muito se assemelham a governos para exercer o poder político diretamente e influenciar as principais decisões dos poderes públicos. O resultado não poderia ser diferente: esterilizam a riqueza produzida pela sociedade para multiplica-la somente em seu próprio benefício, por meio de investimentos financeiros que não criam novas tecnologias, nem geram novos empregos.

A bandeira da corrupção, que hoje se materializa na Lava Jato, também foi usada para derrubar Vargas e Jango: era o mar de lama. Mas na realidade os interesses eram outros. Para mérito do governo Lula, mas para desespero dos interesses do Governo Mundial Oligárquico o governo Lula se fez presente no cenário internacional. Para enfrentar a elite internacional é preciso ter parceiros fortes. A constituição do Brics era ou ainda é uma estrutura que nos possibilita somar forças com a Rússia e China, países que hoje desenvolvem políticas independentes do imperialismo anglo-americano e sendo mais claro, desenvolvem uma política anti-imperialista.

 A constituição do Banco do Brics tem uma importância muito grande, pois para sair das garras da banca internacional é preciso estar dentro de estruturas independentes. Prevendo um bloqueio financeiro por parte da Europa e dos EUA, atualmente, China e Rússia criaram um sistema financeiro independente do internacionalmente predominante no mundo, fortalecendo o rublo e o yuan e para dar estabilidade e poder a estas moedas, instituíram o lastro em ouro. Hoje, parte significativa do comércio já não utiliza o dólar como moeda nas suas transações comerciais o que provoca uma crise financeira sem precedentes para os EUA.

É necessário que façamos estas análises para, na discussão sobre a Caravana do Presidente Lula, demonstrar que a agressão física é para tentar impedir um possível governo Lula que retomará o fio da História com iniciada com Vargas. E o fio da História aponta para uma política anti-imperialista como única forma de defender o Brasil como um país soberano. Atrás da agressão e dos grupos fascistóides está a ação da elite nacional em decadência e o Governo da Oligarquia Mundial comandados pela Banca Internacional.  

Um terceiro governo Lula, pelas circunstâncias históricas não será o mesmo que de governos anteriores.  É o retorno do nacionalismo-popular-anti-imperialista de Vargas. A consciência aumenta no sentido de se adotarem estratégias mais consistentes para manter os governos democráticos e populares. A começar pela compreensão do papel das Forças Armadas. Querendo ou não precisamos responder à seguinte pergunta: é possível manter um governo popular e democrático sem incorporar as Forças Armadas num projeto de desenvolvimento estratégico de nação? Sem contar com a inteligência estratégica das Forças Armadas? “Ah, mas elas são de direita e golpista como foram em 1964”. Existe sim uma estrutura de direita. É uma instituição construída no modelo burguês com ferramenta de opressão, anticomunista e com espírito de casta, anti-petista e aristocrática, mas existem setores nacionalistas. Onde se encontram, e porque não se manifestam? Em primeiro lugar, nenhuma mentalidade progressista em qualquer organismo social se desenvolve se não há um debate de ideias e convencimentos. A hierarquia nas Forças Armadas cria uma dificuldade para que se manifestem abertamente; há manifestações que podem ser fortes indícios, como a do Comandante do Exercito, Eduardo Villas Boas, que recentemente, defendeu a criação do Ministério da Amazônia. Por quê? Porque vê que há interesses estrangeiros em se apoderarem de trilhões de riquezas da Amazônia e este setor do exercito é contra a entrega deste patrimônio nacional. Contra a entrega do Aquífero Guarani. Estas são manifestações indiretas, atenuadas. Mas à medida em que a crise política do país e o enfrentamento entre as classes tomem proporções maiores, isso exigirá um posicionamento mais claro entre as diversas correntes, principalmente considerando as claras violações da soberania nacional por parte dos golpistas.

O governo Lula foi um dos governos que mais investiu nas Forças Armadas, com equipamentos, reajustes salariais, compra de aviões, desenvolvimento da indústria bélica e tecnológica, o desenvolvimento do submarino movido a energia nuclear para defender a nossa costa marítima, o desenvolvimento dos satélites e da base da Alcântara. Tudo sendo desmontado pelo governo golpista do Temer vinculado ao Governo Mundial Oligarca. Crimes de lesa pátria cometidos com a venda da Embraer – uma empresa que demonstrou a capacidade nacional de desenvolver tecnologia, cuja base foi criada com  o apoio da Centro Tecnológico da Aeronaútica (CTA).

Uma das maiores lições que se pode tirar desta tentativa de demolir a era Lula e suas conquistas, é que não é suficiente possibilitar melhores condições materiais de qualquer setor da sociedade, e nem mesmo elevar a consciência política e a organização popular, coisas necessárias mas insuficientes frente às forças do inimigo: é preciso também desenvolver estruturas cívico-militares para garantir que o país defenda sua soberania nacional e o seu desenvolvimento em prol do seu povo e não de interesses internacionais lesivos à nação brasileira.

Os governos do PT foram profundamente ingênuos com a mídia oligárquica e monopolista brasileira, preferiram não enfrentá-la em nome de uma abstrata e surreal “liberdade de imprensa”, que jamais existiu: a história da mídia no Brasil é a História do poder oligopólico das elites, hoje com um alcance e capilaridade inimagináveis na época de Getúlio Vargas. Mesmo assim, o próprio Getúlio, vítima dos ataques mais atrozes, para defender o seu programa desenvolvimentista nacional estado-empresa junto às massas populares, instituiu a Voz do Brasil e estatizou a Rádio Nacional, criou a Última Hora, na época meios poderosos de integração nacional. Hoje as grandes redes de comunicação dominadas por meia dúzia de famílias, serviçais do grande capital financeiro internacional atuam abertamente promovendo o golpe, cuja expressão maior é a Rede Globo. Não é uma casualidade que o governo golpista “flexibiliza” a transmissão da Voz do Brasil: é mais um roubo do espaço público para uso e fins privados. Lula já sinalizou que a “questão da mídia”, da qual tem sido a principal vítima, será prioridade, embora sem precisar como vai tratar o assunto. Pois trata-se de tema vital e prioritário, para que o novo governo popular possa se comunicar com os 200 milhões de brasileiros em tempo real: golpear os oligopólios de mídia privados com um decreto de democratização dos meios de comunicação obedecendo aos ditados constitucionais já existentes, e sem deixar de processar e punir-se severamente todos os meios que conspiraram e conspiram, caluniam, promovem a demolição das reputações impunemente, cassar as frequências das cinco ou seis famílias que hoje dominam o panorama das comunicações, quebrar a sua espinha dorsal suprimindo qualquer subsídio estatal publicitário, legalizando a comunicação popular em todos os níveis, criando uma poderosa rede estatal de comunicação e mídia que cubra todo o território nacional do Oiapoque ao Chuí com total potência e eficácia, em que se produza bom jornalismo, boa informação, debates, cultura, cidadania, tudo o que se previu e jamais aplicou na Constituição de 88.  

Lula, para desespero da elite oligárquica nacional e internacional não se suicidou e não vai se suicidar, não fugiu do país e nem vai fugir. Corre risco de vida, mas cabe às organizações populares defenderem sua integridade física. Lula resiste. Faz caravana. É amado pelo povo por onde passa. Resgata a história com a homenagem a Getúlio Vargas o que permite que a consciência popular recupere os valores nacionalistas da Era Vargas. Valores que têm a força revolucionária no sentido amplo da palavra. A prioridade absoluta é a luta do povo nas ruas e nas praças, pois a democracia formal está em estado de coma. Em nenhum momento isso significa abandonar a luta institucional, pois o imponderável também pode acontecer como foi a vitória recente no Supremo Tribunal Federal – STF. Evidentemente, as fraturas no STF, refletem um estado de insegurança e de fracasso entre os golpistas, mas esta luta interna está longe de terminar, e não necessariamente em favor de Lula. A justiça brasileira se tornou palco de luta política, e luta fratricida, chegando aos atentados e assassinatos, insultos e atuação política aberta em redes sociais, assembleias, greves e movimentos, em sua maioria com sentido reacionário e fascista. Uma deformação absoluta da própria instituição burguesa, que deve ser contida e atacada por meio de uma Assembleia Constituinte que democratize profundamente a Justiça.

Lula é visto pela maioria do eleitorado como única alternativa de recuperação da democracia no sentido amplo da palavra, do Estado de Direito, da soberania nacional. Sobretudo, há uma consciência de que as conquistas sociais foram possíveis em seus governos. O desfecho significativo, combativo e de massas, das caravanas no sul, demonstram que é indiscutível a necessidade de defender a candidatura presidencial exclusiva de Lula, sem cogitação de plano B. Só há plano A de Lula até o fim. Lula de novo com o povo! Para convocar ao Plebiscito Revogatório das Medidas antinacionais do governo golpista Temer, e uma Assembleia Constituinte livre e soberana!

O desfecho da caravana em Curitiba foi um ato histórico de primeira derrota da intenção fascista do setor de direita de querer intimidar a esquerda, e desestabilizar, diante da sua derrota no STF. As forças do imperialismo, promotoras do golpe sem um candidato capaz de neutralizar Lula, podem até excluir Temer, impedir as eleições. A temperatura aumenta entre os golpistas ao extremo, chegando aos manipuladores externos; o projeto golpista, embora tenha raízes externas, pode não estar funcionando a contento. Tudo é possível na arquitetura nefasta do golpe. O atentado a Lula, a uma semana da execução da dirigente popular Marielle é gravíssimo e preocupante. O que sim, é seguro, que o exemplo de luta, resistência e mobilização popular em Curitiba, e a Frente Única Democrática aí estabelecida com um amplo leque das esquerdas e representantes dos movimentos sociais, é um patamar de resistência política fundamental e imprescindível. A participação decidida da corajosa imprensa alternativa, particularmente da militância do MST, nesta caravana do sul, merece um particular destaque. Pleno apoio a todas as iniciativas de mobilização da Frente Brasil Popular na defesa de Lula e do processo democrático no Brasil.

Comitê de Redação

Jornal Revolução Socialista

29.03.2018

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