Os grandes desafios do Lula como liderança política nacional e mundial


A viagem de Lula aos EUA expõe um grande paradoxo. Se por um lado, um dos pontos mais importantes do encontro foi a “defesa da democracia”, a ação do anfitrião-interlocutor, os EUA, é de ataque e ameaça à Rússia colocando mísseis atômicos nas suas fronteiras através da Ucrânia, num ato antidemocrático e terrorista de dimensões globais. Um ato em apoio ao governo de Zelensky fascista, antidemocrático, golpista e corrupto. Um conflito que está provocando uma crise econômica global, principalmente, nos países da Europa que se abasteciam do gás barato da Rússia, e hoje dependem de um suprimento de energia cinco vezes mais cara e em escassez. Evidenciam-se as fragilidades dos governos europeus, questionados por massivos protestos populares na Espanha e na França contra esta submissão descabida aos interesses do imperialismo anglo-americano.

A habilidade tática de Lula implica em aproveitar os holofotes do mundo que se voltam ao grande líder de massas que reentra no cenário internacional, para colocar na mesa “coincidências programáticas” que Biden não pode cumprir. Taxação das grandes fortunas. Fortalecimento dos sindicatos e do salário mínimo.  Re-industrialização do país. Desenvolvimento tecnológico. Defesa do meio ambiente. Sabendo que uma coisa é o discurso, outra coisa é a prática. Acordos que não são cumpridos pelo Biden, pela Europa, Otan e os EUA, como o acordo de Minsk que solucionaria o conflito entre a Ucrânia e a Rússia. Proteção do meio ambiente quando, a mídia norte-americana ocultava o descarrilamento e explosão em 3 de fevereiro, na cidade de East Palestine em Ohio (EUA), de um trem de várias dezenas de vagões derramando cloreto de vinila, material altamente tóxico e cancerígeno.

O documento conjunto fez uma crítica mais contundente em relação à intervenção especial militar da Rússia na Ucrânia, destoando da fala do Lula que critica a Rússia, mas contextualiza, e na sequência propõe a paz. Se recusa a enviar armas para a Ucrânia como proposto pelo chanceler alemão.  Ao contrário da fala e da prática de Biden que propõe a guerra, financiando e enviando armas ao governo fascista de Zelensky, Lula, propõe a constituição de um grupo para solucionar o conflito. É imprevisível o sucesso de uma solução negociada. A função que Lula pode cumprir depende de muita habilidade política, mas também da correlação de forças mundiais, pois o que está em jogo é uma disputa sistema contra sistema. De um lado, países que buscam manter sua soberania e criar um mundo multipolar. De outro, os EUA buscando se manter como um país hegemônico política, econômica e militarmente.

São muitos os novos elementos em jogo neste cenário mundial: •A ascensão da China como potência econômica, política e militar. • As parcerias econômicas entre China-Rússia, entre China-Irã, Rússia-Irã, China-Índia, Rússia-China, China-Arábia Saudita, a Rota da Seda, os acordos dos países asiáticos, à possibilidade do BRICS melhor se organizar. •A eleição de Dilma Rousseff como presidenta do BRICS que reforça o protagonismo que o Brasil pode assumir na integração dos países componentes (marcado na última Cúpula da CELAC com o retorno da presença de Lula e do Brasil). • Avança a formação de blocos com características importantes: relações entre nações soberanas. • A caminho um novo comércio internacional com a transação em moedas dos próprios países, fora da dominação do dólar. • Enquanto isso, o Brasil e os países da América Latina buscam chances de reindustrializar-se.  

É nesta nova configuração política, econômica e social que o Lula vai ter que navegar. Sabendo que os interesses econômicos dos grandes grupos transnacionais e das grandes finanças são o determinante nesta luta global. Mas com grandes possibilidades de virar este jogo, dependendo da nova postura política e econômica. A economia, de certa forma, está determinando a política. Mas, é hora de uma nova política incidir na economia; aquela que favoreça as demandas dos excluídos e trabalhadores. Uma política decisiva com Estado e menos mercado: • Combater a fome, a miséria, as grandes fraudes dos mega empresários como os donos das Casas Americanas. • Reindustrializar o país. • Reestatizar setores estratégicos para alavancar o desenvolvimentismo da economia. • Enfrentar a independência do Banco Central. • Enfrentar um Congresso mais conservador que o anterior.

O questionamento de Lula à independência do Banco Central é decisivo. Não pode se constituir num quarto poder da nação. A independência do Banco Central veio no bojo de uma política neoliberal do Governo Bolsonaro e do banqueiro ex-ministro da economia Paulo Guedes. A independência do Banco Central é coerente com discurso de Bolsonaro nas Nações Unidas, de que veio para desconstruir o Brasil.  Uma taxa de juros real, descontado a inflação, determinada pelo Banco Central deve ser no máximo de dois por cento, sendo que em muitos países chegam a zero ou até mesmo negativa. Lula resolve enfrentar um problema histórico, pois desde 1822 o imperialismo vem buscando manter o país na caracterização de “Brasil colônia dos banqueiros”. São recursos da dívida pública que chegam a consumir quatro por cento do PIB, tirando recursos para combater a fome. Veja o que diz Bresser Pereira.

O importante é o Lula acreditar no seu patrimônio político, sem criar falsas ilusões. Acreditar e contar com a organização social, sindical, e dos camponeses, que lhe darão sustentação para as futuras lutas. Dialogar com a população em cadeia de rádio e televisão nacional, explicando cada passo que o governo está tomando. Por tudo que Lula passou, condenação que lhe tirou o direito de se candidatar em 2018 e a prisão por mais de um ano, Lula saberá seguramente se mover nesta nova conjuntura internacional.

Comitê Editorial

Posadistas Hoje
18/02/2023

Foto Destaque (crédito: Revista Forum)

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