Eleições, crise da Europa no avanço do mundo multipolar


A crise da Europa decorre de um processo histórico, de um outro mundo em construção, por hora chamado de mundo multipolar. Ocorre uma crise dos países capitalistas centrais que pode se estender por décadas, ou ser precipitada pelo surgimento de um conflito global. Some-se a isto, a configuração do polo dos países do BRICS, construindo uma outra moeda para transações comerciais, um outro sistema de transações financeiras em substituição ao swift. E a China transacionando com mais de 140 países no mundo através da Rota da Seda. A Rússia com todo bloqueio, desenvolveu sua economia e o setor bélico, e mais recentemente, se tornou a quarta economia do mundo. É mais provável que os EUA e países alinhados adotem uma estratégia de “guerra eterna”.

O resultado das eleições na Europa não decorre de um fator apenas – da debilidade da esquerda e da fragilidade da direita liberal –, mas da transformação do mundo que coloca em xeque o imperialismo anglo-americano. O genocídio em Gaza por parte do Governo assassino de Israel também contribuiu para debilitar esta direita liberal que, de uma forma ou de outra, apoia este genocídio. E a ultradireita, “inteligentemente” e de forma tática assume determinadas bandeiras nacionalistas para ocupar espaço transitoriamente, para num segundo momento, continuar a defender os interesses do grande capital, dos banqueiros que controlam para do mundo ocidental.

Manifestação em Londres pelo povo palestino
(EFE/EPA/ANDY RAIN)

O imperialismo anglo-americano fez um cálculo de que transferindo parte dos seus investimentos para a China, transformaria por dentro a China em um país capitalista. Se enganou redondamente. Acreditavam que provocaria uma crise por dentro como fizeram com a ex-URSS, ao colocá-la numa disputa bélica, consumindo seus recursos que deveriam ser utilizados para o desenvolvimento do país e consequentemente, provocando uma crise política com a implosão da URSS, que depois de ano 2000 renasce com toda sua história e estrutura de um Estado operário.

A disputa eleitoral nos EUA tem dois candidatos inaptos para governar que representam o nível de decadência do império americano. Como pode a “maior democracia do planeta” vivenciar um golpe de estado como a invasão do Capitólio? Um país hegemônico busca fortalecer os alinhados, como fez os EUA com o Plano Marshal depois da segunda guerra mundial, contra o fantasma do comunismo que rondava a Europa. Hoje os EUA buscam enfraquecer a Europa no bojo da guerra na Ucrânia contra a URSS, para salvar sua economia.

Agricultores da Polônia lançam slogan pro-Putin

A guerra da Ucrânia e da OTAN contra a Rússia é uma demonstração de que o capitalismo imperialista não suporta a unificação China-Rússia que mudou a correlação mundial de forças; situação que não se apresentava há muito tempo. J. Posadas desenvolveu uma análise sobre esta unificação como uma necessidade da história para a luta sistema contra sistema rumo ao socialismo. A guerra da Ucrânia serviu para debilitar a Europa, rebaixar o nível de vida de suas populações e os EUA venderem energia mais cara em relação ao preço que os russos vendiam para a Europa. O imperialismo anglo-americano está levando a uma crise profunda na Europa, com a anuência dos seus dirigentes. Seguramente, veremos uma reação a esta situação, pois o povo que está se levantando contra o genocídio do sionismo contra o povo palestino, irá se levantar contra o status quo da Europa.

A crise do capitalismo é decorrência das suas relações de produção, privilegiando a economia financista, com transferência do seu parque industrial para outros países, pouca inovação tecnológica e pouca capacidade de competir com países como a China que mudou as relações de produção, para um modelo Estado operário, superior às relações de produção do capitalismo clássico, neoliberal.

Não vivemos uma tendência inexorável do mundo ir para a ultra- direita como demonstraram as eleições para o parlamento Europeu, mesmo que hajam vitórias da ultra-direita no continente. A vitória eleitoral de Cláudia Sheinbaum para a Presidência do México é uma demonstração de que é possível dar continuidade a um governo progressista de esquerda, mesmo com os avanços e sérios problemas que vive o México. Há que destacar uma das marcas do atual Presidente Andrés Manuel López Obrador, a sua comunicação diária com a população, debatendo os problemas do país e prestando conta das realizações do governo. Isso, permitiu a conscientização e capacidade de mobilização popular, rebatendo as alienantes fakenews das redes sociais. Hoje se expressaram nas urnas; amanhã há que consolidar-se na real democracia participativa e organização de massas. Não se trata de importar um modelo mexicano para a esquerda no Brasil, mas tomar os aspectos positivos do da atuação do Presidente e líder Obrador que não abandonou os bairros e as ruas.

A nível mundial a mídia capitalista está toda articulada numa campanha internacional contra Putin e Xi Jiping. A fakenews bélica do império midiático será: “Ditadores! São países que não têm democracia!”. Vamos assistir a cada dia mais a vinculação da ideia de que a crise econômica chegou na China. Há quanto tempo os algozes dizem que a China pararia de crescer e viria o colapso? Agora, estão torcendo para que aconteça a morte de Putin para tentarem mudar a política soberana da Rússia. Estão dizendo que a Rússia perdeu a guerra na Ucrânia. Mentiras atrás de mentiras. Mas não podem esconder o genocídio dos sionistas contra o povo palestino. E as massas do mundo se mobilizam contra o genocídio, numa demonstração de que o jogo da ultradireita não se consolidou, mesmo com o resultado das eleições para o parlamento europeu.

A evidente derrota da OTAN na Ucrânia foi um dos fatores que incidiram nas eleições, já que as massas europeias, sobretudo os trabalhadores, vem sofrendo diretamente as consequências desta guerra que provocou uma crise econômica estratosférica na Europa. As manifestações contra a OTAN, a persistência no fornecimento de armas, jorrando dinheiro do orçamento público, a obrigatoriedade no serviço militar para a guerra, não tem surtido efeito a favor dos governos europeus. Apesar da campanha feroz contra a ameaça russa, a juventude rechaça o serviço militar obrigatório para servir a Zelensky. A derrota nas urnas, onde se inclui também a enorme abstenção, foi um instrumento de protesto contra a atual política que vem se arrastando, cuja prioridade são as elites comprometidas com os ataques para “por fim a civilização russa”, e com os nazistas que dominam a Ucrânia.

Foi um fiasco a Conferência da Cúpula de paz na Suiça, que teve o objetivo de debater um plano de paz e por fim à guerra na Ucrânia. O encontro que teve a participação de 92 países, mas, apenas 57 chefes de Estado que mandaram seus representantes, a ausência de líderes de peso como Lula do Brasil, e Xi Jin Ping da China e o não comparecimento inesperado de Biden, o maior interessado nesta guerra, indicam o aprofundamento da crise política do imperialismo e da OTAN  que tem seus alicerces abalados pelo avanço de um  novo modelo de mundo idealizado por China e Rússia. O apoio da maioria dos países à Ucrânia começa a esvaziar, o discurso de Zelensky já não convence nem os ucranianos. Importante destacar que todos os membros do BRICs, além de países como México, Arábia Saudita, Emirados Árabes, o Vaticano, etc… rejeitaram o comunicado conjunto final da Conferência em consideração à proposta de paz da Rússia a maior interessada na paz na região.

China, Rússia e Irã estão sendo o centro para a construção de uma nova correlação de forças mundial, e com Organização para Cooperação de Shangai, a Rota da Seda, a União Econômica Eurásia, a unificação no BRICS e outros polos de poder vão seguir em frente, com a tarefa de enfrentar os EUA, a Otan e criarem as bases para outro mundo que podemos chamar de socialistas, Estado operário, Estado revolucionário, Estado nacionalista fora do eixo do imperialismo anglo-americano. Se por um lado, fala-se que estão criando uma internacional de direita, por outro lado, a unificação China-Rússia e toda gama de surgimento de outros centros de desenvolvimento levam a uma nova ordem mundial, com uma unificação que inclui o desenvolvimento e a voz de todos os países.  Não há dúvidas de que há um mundo em transição e que esta não é indolor.

Comitê de Redação
PosadistasHoje

15/06/2024

Sugestão de leitura complementar: Reflexões de S. Bavar no Debate de Ideias.
A crise política e estrutural na Europa e as recentes eleições

 

 

 

 

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