Reino Unido: por uma vida digna e contra a guerra


Reino Unido: por uma vida digna e contra a guerra – a mesma luta

 

Diante da dramática queda nos padrões de vida no Reino Unido, a raiva da população em geral continua a alimentar greves e mobilizações. Nas eleições autárquicas de maio, essa indignação se manifestou nos 73% de abstenção e na eliminação quase total dos candidatos do partido governista conservador. Na Irlanda do Norte, as eleições locais em 20 de maio deram ao Sinn Fein o maior número de assentos.

Multiplicam-se as manifestações populares e sindicais contra a perda progressiva dos mais básicos direitos democráticos. A nova Lei de Serviço Mínimo forçará os sindicatos a nomear quais de seus membros devem continuar trabalhando durante certas greves, ostensivamente para fornecer ‘serviço mínimo’. Esta lei aumenta a bronca. Reforça a sensação de que o direito a uma vida digna não é mais acessível.

Nas greves, as intervenções constatam que os patrões e o governo não têm nenhuma intenção de proteger os salários contra o aumento do custo de vida. Denunciam as enormes somas que o governo “encontra” para financiar as indústrias armamentista e bélica, somas que resultam de um enorme endividamento e de cortes severos nos orçamentos sociais.

A luta para dar prioridade ao social, ao desenvolvimento humano e à proteção da vida no planeta, esta luta passa por aqueles que se recusam a aceitar orçamentos e despesas militares. A luta pelo progresso social exige agora a luta contra as medidas bélicas que agora estão sendo tomadas, como o emprego de armas atômicas na Inglaterra, para arrastar o país para a guerra.

A perda de força e controle do capitalismo global o leva à guerra

O primeiro-ministro (não eleito) Rishi Sunak é um ex-gerente de fundos de cobertura mencionado na lista de ricos do Sunday Times por sua riqueza pessoal. Seu entusiasmo pela OTAN e pela política americana só se compara pela sua determinação de ver Zelensky derrotar a Rússia militarmente.

O governo de Sunak apóia as políticas de extrema-direita e nazistas que acompanham a expansão da OTAN para o leste. Seu governo representa os interesses da pequena camada de oligarcas financeiros globais com um de seus centros mais notórios na cidade de Londres. A experiência recente mostra que quanto mais essas pessoas impõem seus pontos de vista e políticas, mais os oprimidos se afastam deles e mais tenazes se tornam os ataques contra eles.

Sobre a questão ucraniana, o primeiro-ministro Rishi Sunak está surpreso com o apoio que a Rússia está reunindo no mundo, ao invés de estar totalmente isolada. É por isso que, no G7, Sunak exortou seus aliados capitalistas a “aproveitar o momento” para ver a Rússia derrotada. A isso, ele acrescentou que a China não apenas representa o maior desafio para a segurança e prosperidade globais [do capitalismo], mas também tem “os meios e a intenção de remodelar a ordem mundial”.

Em uma tentativa de controlar a ‘ordem mundial’, os EUA, o Reino Unido e seus aliados se apegam cada vez mais às suas ‘forças de ataque’ capitalistas. Esses meios são financeiros, via regras do dólar, a dívida, o congelamento dos bens dos países sancionados. Essas saídas são principalmente militares, é claro, com suas frotas de submarinos nucleares SSN e SSBN e bombas nucleares controladas pelos EUA armazenadas em 5 ou 6 países europeus. Os EUA, o Reino Unido, a OTAN e seus aliados criaram plataformas internacionais como o G7 – do qual expulsaram a Rússia em 2014 – onde capitalistas autoconfiantes incitam outros a “aproveitar” o momento para garantir que a Rússia seja derrotada.

Conscientes de sua contínua perda de autoridade no mundo e em seus respectivos países, os Estados Unidos, a OTAN, o Reino Unido e seus aliados estão recuando em suas capacidades militares. Eles estão armando a Ucrânia com o objetivo de, como dizem, “garantir a derrota da Rússia”. Assim, os EUA agora concordam em permitir que Holanda, Bélgica, Dinamarca e Portugal enviem F16s para a Ucrânia. Quanto tempo levará até que Zelenski exija os F35s?

A guerra do capitalismo contra o povo britânico está fracassando

Desde o recente colapso de 5 Bancos nos Estados Unidos, vários Bancos britânicos tiveram que ser resgatados pelo Banco Central da Inglaterra. As estatísticas oficiais mostram que o crescimento econômico do Reino Unido esteve próximo de zero nos últimos 2 anos. As pessoas estão testemunhando o brilho sem sentido e os privilégios repulsivos dos chefes das grandes empresas, bem como da família real que ninguém deveria poupar. As pessoas descobrem que, por sua vez, trabalham todos os dias, sem que o Estado possa financiar os serviços públicos e os salários dos trabalhadores e empregados.

O crescente empobrecimento do povo é uma verdadeira guerra diária dos capitalistas contra a população. Arruinando e subjugando as classes trabalhadoras, eles querem acumular o poder e os meios para tentar salvar seu sistema podre de exploração, desigualdade e guerra. Sucessivos governos britânicos culparam a Rússia por causar a gigantesca inflação (especialmente de matérias-primas) que assola a Europa e o Reino Unido. A imprensa admite, no entanto, que são as sanções impostas à Rússia pelos Estados Unidos, a OTAN e seus aliados que são as causadoras.

A guerra capitalista contra a Rússia acaba sendo a guerra contra os povos. É notável que os britânicos, para não falar dos grevistas, não culpem a Rússia pelo aumento dos preços, como Sunak gostaria que fizessem. Pelo contrário, o povo questiona as prioridades do governo; culpa o governo pelos 4 bilhões de armamentos recentemente concedidos à Ucrânia. O povo está em greve não contra a Rússia, mas contra os governantes capitalistas e seus governos.

Depois de visitar um piquete, a enfermeira-chefe Pat Cullen voltou ao acordo que havia dado aos empregadores para um aumento salarial de 5%, quando ela havia exigido 19%. Ela então mencionou, com admiração, que “as enfermeiras têm energia e a determinação para continuar a greve nos próximos meses”. Esta mudança na liderança sindical não é incomum neste momento. Ocorre entre professores, ferroviários, maquinistas, sindicato dos serviços públicos (PCS).

Sem chegar a uma greve geral, as greves atuais provocaram grandes mudanças na direção sindical. Alguns líderes sindicais estão do lado dos trabalhadores como Pat Cullen. Outros se juntam à luta melhorando o sindicato, e aqueles que não querem lutar são destituídos e substituídos. Isso explica por que greves de tantos meses não se deixam ‘apodrecer’.

Irritada e preocupada com a tenacidade da classe trabalhadora na Grã-Bretanha, a classe burguesa está acelerando a legislação para paralisar o direito de greve e o direito de manifestação. Mas o fenômeno Corbyn deixou sua marca. Mostrou que os trabalhadores britânicos podem formar uma liderança política trabalhista de esquerda muito rapidamente, com base em um programa de oposição ao capitalismo que ninguém pode “extrair” do partido. Os trabalhadores britânicos estão sendo influenciados por mudanças nas relações internacionais, como a volta da Síria à Liga Árabe, por exemplo. A classe trabalhadora sente que uma mudança decisiva traz consigo a aproximação entre a Rússia e a China, assim como a inclinação desta última para com os oprimidos do mundo. É assim que a Rússia e a China se encontram na Organização de Cooperação de Xangai, nos BRICS e até no G20.

A campanha contra a Russia

Na Grã-Bretanha, a bandeira ucraniana tremula na sede do governo em Whitehall, bem como em inúmeras prefeituras em todo o país. Esta bandeira destaca a versão oficial e o único pensamento do Partido Capitalista Britânico contra a Rússia: Zelensky se reuniu com o Papa. Zelensky queria presidir o Festival Eurovisão da Canção em Liverpool. Zelensky no retiro rural de Sunak com um abraço caloroso. Zelensky e seu discurso à Liga Árabe, repetidamente ensaiados no rádio e na televisão, em toda a sua ignorância e malevolência. O mesmo vale para seu discurso no G7, onde comparou Bajmut a Hiroshima, provando assim que havia perdido o jogo nesta cidade. Ele participará do G20 em setembro, mas lá encontrará Rússia e China, e o anfitrião indiano bastante refratário às suas ideias. A campanha anti-Rússia do governo britânico é virulenta e, infelizmente, o mesmo se aplica ao Partido Trabalhista, que proibiu o uso da palavra “OTAN” em seus poucos debates políticos.

O medo e o ódio da burguesia britânica em relação à Rússia têm profundas raízes históricas, revividas em seu tempo pela proposta de Churchill – que os Estados Unidos rejeitaram – de continuar a Segunda Guerra Mundial em 1945 contra o Exército Vermelho. Deve-se acrescentar aqui que o próprio Partido Trabalhista protege o capitalismo, nunca tendo procurado mais do que humanizar o capitalismo. O resultado é o Partido Trabalhista de hoje colaborando servilmente nas mais nazificantes campanhas imperialistas britânicas como a demonização da intervenção russa na Ucrânia e o culto a Zelensky. A ausência de um jornal trabalhista nacional deixa a classe trabalhadora com poucos meios de analisar essas questões.

Para forçar os membros trabalhistas a glorificar Zelensky e envergonhar a Rússia, a liderança de Keir Starmer está usando os mesmos métodos covardes e obscuros de quando expulsou os cerca de 250.000 membros trabalhistas pró-Corbyn. Devemos acreditar que essa liderança trabalhista se daria ao trabalho de fazer tudo isso se já não houvesse oponentes do pensamento capitalista único nas fileiras? Deve-se notar que muitos sindicatos de base e até organizações trabalhistas apóiam o movimento anti-guerra, como a Campanha pelo Desarmamento Nuclear (CND) e outros, pedindo o desarmamento não apenas da Rússia, mas também da OTAN e do Reino Unido, e até mesmo a dissolução da OTAN.

A repressão não induz as pessoas à rendição

Novas leis ‘anti-greve’ exigem que os sindicatos mantenham alguns dos trabalhadores no trabalho durante certas paralisações de trabalho para garantir, diz-se, um mínimo de funcionamento “no interesse público”. A lei remove a imunidade de procedimentos legais que protegiam os grevistas contra a retaliação por parte dos empregadores após as greves. Os sindicatos também podem ser processados ​​ou multados em até £ 20.000 (por caso) por violar as regras do Serviço Mínimo. Os sindicatos em greve não se intimidam com essas leis, mas vão combatê-las como todos as outras.

O excepcionalismo supersticioso e feudal da monarquia reforça a glorificação e a santificação das relações sociais burguesas baseadas na arrogância colonial, na segregação, no preconceito, no privilégio e na desigualdade social. Por ocasião da cerimónia de coroação de Carlos III, no 6 de maio, a aparição pública dos membros do grupo “República” representou assim um grande acto de desafio e coragem. Seus cartazes “Not My King” ainda estão nas manchetes nas mídias sociais. O chefe da República e 51 de seus associados que haviam sido presos – supostamente ‘para evitar barulho e distúrbios’ – foram rapidamente libertados, presumivelmente para acabar com a enorme zombaria nas redes sociais que se divertiram enormemente com a situação absurda.

Logo após a coroação, artigos críticos apareceram na imprensa internacional dos países da Commonwealth. A Ministra de Assuntos Jurídicos e Constitucionais da Jamaica anunciou que queria uma República em seu país e era a favor da convocação de um referendo. Barbados declarou-se uma república em 2021, e agora Belize, Antígua e Barbuda estão falando em fazer o mesmo. Representantes da Austrália, Nova Zelândia, Bahamas e Canadá publicaram uma carta conjunta que haviam enviado anteriormente ao novo rei. Nessa carta, eles exigiam “a restauração dos direitos coletivos dos povos indígenas” e “seu direito de se recuperar de todos os séculos de colonização e escravidão”. A carta também pedia um pedido formal de desculpas e “iniciar um processo de justiça restaurativa”. A senadora australiana Lidia Thorpe denunciou “colonização britânica, genocídio, roubo de terras, difamação de nossa cultura”. Ela disse ao rei que cabe a ele “desculpar-se com as Primeiras Nações e os povos indígenas”. A isso o rei respondeu que iria investigar.

O forte sentimento de opressão do povo não tem voz parlamentar. Assim aumentam as ações diretas, principalmente dos jovens. As ações pedem que o dinheiro gasto com os militares seja usado para reorganizar o país para atender às necessidades sociais, proteger a vida humana, o mundo natural, o clima, o planeta. O comício da CND em Lakenheath em 20 de maio atraiu o apoio da Extinction Rebellion, da Assembleia Popular e até da Liga dos Jovens Comunistas (YCL). Falta uma liderança proletária consciente para transformar a sociedade, mas cresce o entendimento de que o estado capitalista precisa da guerra por sua situação econômica e, acima de tudo, pela sua tentativa de preservar o sistema de saques internacionais, crises assassinas, desigualdade e “injustiça”.

Reorientar o orçamento da defesa para os serviços públicos 

A guerra da OTAN e do capitalismo britânico para armar a Ucrânia ‘até a morte’ contra a Rússia é também a guerra da OTAN e do governo contra o povo britânico, para silenciá-lo e fazê-lo arcar com todos os custos. E como se isso não bastasse, o povo britânico também teria que arcar com os custos gigantescos causados ​​pelas sanções capitalistas contra a Rússia. A guerra contra a Rússia é uma guerra do capitalismo contra as populações, e em particular as da Europa.

Alguns camaradas trabalhistas pacifistas propõem o desarmamento de todas as partes envolvidas na Ucrânia. Mas a recente decisão de fornecer o F16 para a Ucrânia convida Zelensky a perseguir seu objetivo. Quando é a sua aplicação F35? A profunda disposição alemã e japonesa para o rearmamento sugere uma escalada cada vez mais difícil de conter, cujo centro se estende muito além da Ucrânia. É necessário, portanto, analisar o significado da aliança global representada pelos AUKUS contra a China, por exemplo.

O capitalismo faz de Zelensky um embaixador da guerra em todo o mundo. Por trás da ensurdecedora propaganda anti-russa no Reino Unido, o governo está silenciosamente travando sua guerra contra o povo, onde o desmantelamento do serviço de saúde é claramente responsável por milhares de mortes.

Os camaradas trabalhistas expulsos falam sobre a construção de um novo partido de massas. Mas um partido de massas não é inventado. Na Grã-Bretanha, o Partido Trabalhista de massas resultou do papel único desempenhado pelos sindicatos quando surgiram neste primeiro grande país capitalista. Os sindicatos ingleses não estão acostumados a aderir a uma ou outra corrente política. Qualquer organização alternativa ao Partido Trabalhista se encontrará em competição com membros do Partido, membros os quais é muito melhor querer apoiá-los do que suplantá-los.

Na base operária e sindical existem condições inéditas para a criação de correntes dispostas a vincular a luta contra a destruição dos serviços públicos com a luta contra a guerra do capitalismo. Vale a pena retomar algumas das palavras de ordem propostas pela União dos Jovens Comunistas: “Retirada imediata da OTAN e das alianças imperialistas. Retirada de todas as bases dos EUA e da OTAN do Reino Unido. Desarmamento nuclear unilateral do Reino Unido. Retirada das bases britânicas no exterior e repatriação de todo o pessoal militar. Uma política externa baseada na paz, na cooperação e no desenvolvimento internacional. E a reorientação do orçamento da defesa para os serviços públicos”.

São necessárias formas concretas de defender este programa. Existem as condições para transformar os comitês de greve em comitês anti-guerra permanentes. A variedade de organizações que aderiram ao CND em Lakenheath mostra que é possível e urgente criar frentes de solidariedade entre pessoas que lutam contra a escassez e a repressão, por um lado, e lutam contra a guerra, por outro. Os “posadiststoday” convidam à discussão dessas ideias.

PosadistsToday
Direto de Londres
24/05/2023

www.posadiststoday.com

 

Três notas:

– Existem 42 países na Commonwealth, com Austrália, África do Sul, Canadá, Chipre, Moçambique, Singapura, Paquistão, Malásia, Nova Zelândia, Sri Lanka e outros.

– A União de Jovens Comunistas participou com bandeiras vermelhas e foice-martelo na manifestação do CND na base britânica de Lakenheath (Suffolk). Esta base está à disposição exclusiva do exército americano e, portanto, da OTAN. Neste local estão dispostos silos subterrâneos para receber a bomba atômica B61-12. O Reino Unido será, portanto, o sexto país da Europa a armazenar esta bomba.

– Os outros cinco países europeus que estão armazenando esta bomba, desafiando o tratado NPT que todos assinaram em 1968, incluindo os EUA, são: Holanda, Bélgica, Alemanha, Itália e Turquia.

O Freedom of Information Request estima que 23.000 pessoas morreram na porta dos hospitais britânicos em 2022 – um aumento de mais de 20% em 2021 e quase 40% em 2020.https://www.theguardian.com/society/2023/may/19/more-than-23000-people-died-in-ae-in-england-last-year-labour-estimates

 

 

 

Total Page Visits: 11 - Today Page Visits: 1