A importância histórica da intervenção militar russa na Ucrânia


Esta guerra na Ucrânia expressa o confronto global entre o sistema capitalista concentrado na OTAN e seus associados contra a Rússia e a China. E também contra processos revolucionários e governos progressistas que defendem uma alternativa ao regime capitalista. A intervenção militar da Rússia na Ucrânia é uma reação determinada à expansão maciça da OTAN destinada a estrangular a Rússia.

Atualmente, a OTAN reúne 30 estados europeus e norte-americanos liderados pelos Estados Unidos e está associada a um número muito grande de países em todos os continentes, incluindo até Colômbia, Israel ou Austrália. Os membros e associados da Aliança Atlântica participam da constituição de uma gigantesca frente militar na fronteira do que a OTAN chama descaradamente “seu território”. A Ucrânia está praticamente integrada neste dispositivo que visa apertar ainda mais o cerco à Rússia e se estende do Ártico ao Mar Negro.

Nada nesta guerra tem a ver com a luta dos povos da Ucrânia por sua liberdade, sua integridade, sua soberania ou sua democracia. Desde 1997, e mais especificamente desde 2014, existe um programa especial da OTAN para desenvolver relações militares com a Ucrânia. O exército ucraniano foi completamente reestruturado para atender aos critérios da OTAN.

Este exército ucraniano não é “o povo armado”, é instruído por conselheiros americanos e britânicos, foi limpo de todos os seus elementos ligados ao seu passado soviético, incorporou milícias pró-nazistas. O orçamento militar da Ucrânia aumentou 12 vezes entre 2010 e 2020, chegando a quase 5% do PIB do país, superando as próprias exigências da OTAN para cada país membro em 2% de seu PIB.

O exército ucraniano tem 209.000 soldados ativos, incluindo 102.000 paramilitares e 900.000 soldados de reserva. Muito antes do início da intervenção militar russa em fevereiro de 2022, vários países membros da OTAN e da União Europeia já estavam enviando milhares de armas. Desde 2021, um fundo europeu, hipocritamente denominado “European Peace Facility”, já ofereceu 5 bilhões de euros à Ucrânia, aos quais se somam 450 milhões para comprar equipamentos militares “letais”, além dos Stingers terra-ar, mísseis, munições, sistemas antitanque e alguns países da UE prometem caças para apoiar a defesa aérea do exército ucraniano.

O contexto da guerra e a expansão da OTAN

O Pacto de Varsóvia – uma aliança defensiva formada em 1955 entre a URSS, a República Democrática Alemã e as Repúblicas Populares da Albânia, Bulgária, Hungria, Polônia, Romênia, Tchecoslováquia – foi dissolvido em julho de 1991. A OTAN, ao contrário, passou de 9 países em 1949 para 30 em 2022. A URSS, composta por 15 repúblicas – Armênia, Azerbaijão, Bielorrússia, Estônia, Geórgia, Cazaquistão, Quirguistão, Letônia, Lituânia, Moldávia, Rússia, Tadjiquistão, Turcomenistão, Ucrânia, Uzbequistão – foi dissolvida em dezembro de 1991.

Já em 2007, o governo russo denunciou o caráter provocativo da ampliação da OTAN para as fronteiras da Rússia e exigiu o respeito aos acordos sobre a redução de arsenais nucleares estratégicos, esperando que os Estados Unidos fizessem o mesmo. Nem a União Europeia, nem os Estados Unidos responderam a essas demandas russas; pelo contrário, redobraram sua pressão sobre a Ucrânia para atraí-la. A intervenção militar da Rússia em 24 de fevereiro de 2022 é, portanto, uma resposta lógica e anunciada a essas provocações da OTAN.

A expansão da OTAN rumo ao Leste

A “revolta de Maidan” de 2014 não foi uma “revolução”, mas um golpe promovido por milícias de extrema-direita organizadas na Ucrânia, apoiadas e preparadas pela OTAN. Este golpe orquestrado pelos EUA forçou Yanukovych a renunciar e ir para o exílio. Vários governos se sucederam e aprofundaram as relações com a União Europeia e a OTAN.

Diante dessas mudanças de governo na Ucrânia e da incorporação da extrema direita, a Rússia promoveu um referendo pela independência da Crimeia em que a população decidiu por 91% dos votos aderir à Federação Russa. Foi uma decisão muito importante porque nesta península fica a base de Sebastopol, porto fundamental para a frota russa.

O Protocolo de Minsk (capital da Bielorrússia) – foi assinado em 5 de setembro de 2014 por representantes da Rússia, Ucrânia, França e Alemanha. O exército ucraniano prometeu encerrar sua guerra contra o povo do leste da Ucrânia com a condição de que a Rússia não envie tropas. Em 12 de fevereiro de 2015, é assinado o acordo de Minsk II, no qual a Rússia se compromete a não intervir militarmente, se a França, a Alemanha e a OSCE (ver nota) conseguirem pôr fim aos ataques do exército ucraniano contra as populações de Donbass que reivindicam a autonomia e o reconhecimento das duas repúblicas populares de Donetsk e Lugansk.

O agravamento das contradições entre os países membros da OTAN

A intervenção do exército russo em fevereiro de 2022 respondeu à forte ofensiva que o governo Zelensky estava preparando contra o Donbass, violando mais uma vez os acordos de Minsk que, aliás, nunca pretendeu respeitar. Após a reunificação da Crimeia com a Rússia, o exército ucraniano liderado por batalhões neonazistas iniciou uma guerra onde mataram 14.000 pessoas na República Popular de Donetsk e Lugansk.

A OTAN desenvolveu a corrida armamentista, na qual a Alemanha assumiu a liderança com o investimento de 100 bilhões de euros para modernizar o armamento. Outros exemplos: a Finlândia abandona sua neutralidade e compra 64 F-35s da Lockheed Martin, para participar do cerco à Rússia. Suíça e Suécia estão seguindo o mesmo caminho.

Essa corrida armamentista afetará os investimentos nos serviços públicos, na previdência social, na educação, na saúde, na melhoria do meio ambiente, na construção de moradias dignas para todos, em uma justa redistribuição da riqueza em todos os países da OTAN, e destruirá as conquistas sociais e os direitos da classe trabalhadora.

As sanções econômicas que os membros e parceiros da OTAN aplicaram à Rússia são as mais duras já impostas a qualquer nação. Mas eles se voltarão contra seus criadores. Muitos desses países precisam de exportações russas. A escassez de trigo, potássio, gás, petróleo, paládio, níquel e outros minerais prejudicará as economias europeias e norte-americanas.

Por outro lado, a Rússia é praticamente capaz de lidar com as sanções. Esta situação irá acelerar a necessidade de a Rússia aprofundar a intervenção estatal na economia, livrar-se dos “oligarcas”, exercer maior controlo sobre o setor bancário, superar a dependência do dólar. O fim da “era do dólar” será considerado pelos Estados Unidos como uma declaração de guerra. Mas que argumentos encontrarão se forem eles que lançaram as sanções!

Lutar pelas transformações sociais radicais

A OTAN está usando a Ucrânia como ponta de lança para dividir e desmembrar a Federação Russa. Este confronto faz parte da preparação do imperialismo para a guerra e é mais um passo para o acerto definitivo das contas das massas como um todo com o sistema capitalista.

Esta guerra também é um choque para toda a esquerda global, partidos, sindicatos e movimentos sociais. Trouxe à tona um grande debate e despreparo para organizar um confronto global após essa crise de desintegração e falta de perspectivas para o capitalismo.

A mídia queria impor o pensamento único do imperialismo, mas parte da vanguarda se informava por outros canais, não convencionais, das verdadeiras causas e consequências desse conflito. Deve-se ter em mente que a resolução de conflitos não é apenas militar, mas também social e política. É importante convocar o povo a se organizar, como os trabalhadores portuários da Itália, Grécia ou França que se recusaram a carregar navios com equipamentos militares para a Ucrânia.

Manifestação em Nova Iorque contra a OTAN em 19 de fevereiro

A história nos mostra, com crescente insistência, que diante da crise do capitalismo não há outra saída senão a transformação social.

A próxima cúpula da OTAN em Madrid, em junho de 2022, discutirá seu novo conceito estratégico “OTAN 2030”, que se concentra principalmente nas tentativas de destruir a Rússia e a China. Devemos organizar a frente mais ampla para uma contra-cúpula com uma plataforma comum:

• Reduzir drasticamente os orçamentos militares de cada país,

• Eliminar as armas nucleares, assinar o Tratado de Proibição de Armas Nucleares da ONU,

• Rejeitar todas as entregas de armas e envios de tropas para o exército de Zelensky,

• Fechar todas as bases militares da OTAN

• Romper com a OTAN e dissolver esta organização.

Publicado: “Les Posadistes” e “PosadistsToday” – abril 2022

Foto de destaque: 2 soldados russos na frente do tanque limpando o terreno para poder semear as sementes.

Nota sobre a OSCE

Esta é a Organização para a Segurança e Cooperação na Europa, composta pelos seguintes 57 países: Albânia, Alemanha, Andorra, Armênia, Áustria, Azerbaijão, Bélgica, Bielorrússia, Bósnia e Herzegovina, Bulgária, Canadá, Chipre, Croácia, Dinamarca, Espanha, Estônia, Estados Unidos da América, Federação Russa, Finlândia, França, Geórgia, Grécia, Hungria, Irlanda, Islândia, Itália, Cazaquistão, Quirguistão, Letônia, Liechtenstein, Lituânia, Luxemburgo, Macedônia do Norte, Malta, Moldávia, Mônaco, Mongólia, Montenegro, Noruega , Uzbequistão, Holanda, Polónia, Portugal, República Checa, Roménia, Reino Unido, San Marino, Santa Sé, Sérvia, Eslováquia, Eslovénia, Suécia, Suíça, Tajiquistão, Turquemenistão, Turquia, Ucrânia.

Discurso de Putin na comemoração dos 8 anos da reintegração da Crimeia na Federação Russa (março de 2022)

Em seu discurso, Putin disse: “As sanções contra a Rússia nos fortalecerão em vez de nos prejudicar. Eles significarão um golpe para a economia global como um todo, uma economia sobre a que eles estão manipulando e lucrando. Desta vez, já não a controlarão totalmente, escapará das suas mãos, e agora serão sobretudo os europeus e os próprios americanos, os seus próprios cidadãos que serão afetados pelo aumento do preço do petróleo, da energia, dos alimentos, pela perda de empregos.”

“Cidadãos da Europa e dos Estados Unidos, não é verdade que seus problemas se devem a “ações hostis” da Rússia. Não! Devem-se às ações irracionais e irresponsáveis ​​de seus líderes, que afirmam pagar com seu próprio dinheiro, “a luta contra a mítica ameaça russa”. (…) O Ocidente está tentando semear a discórdia entre os russos apostando na traição, eles querem tentar nos pressionar novamente, tornando-nos um país fraco e dependente, violando nossa integridade territorial, desmembrando a Rússia; eles não vão conseguir nada, então o ocidente vai apostar na chamada quinta coluna em traidores, mas quem ganha dinheiro aqui, vai morrer lá.”

“A Rússia tem todos os recursos naturais, materiais e humanos que as nações emergentes precisam; o Ocidente não tem mais nada para dar a não ser o roubo, tudo foi saqueado, desperdiçado; ficam apenas com os benefícios e a necessidade de frear o crescimento dessas nações emergentes. É por isso que inevitavelmente começa um novo sistema econômico e comercial que prosperará, um sistema no qual o mundo terá a garantia de que sua riqueza não será saqueada arbitrariamente e onde poderá negociar e trocar de forma transparente, natural e segura maneira. A Rússia sempre contribuiu para o desenvolvimento da civilização humana; desta vez não será diferente, a Rússia sempre fez parte e sempre fará parte da história…”.

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