A intervenção do imperialismo norte-americano, através de Trump e seus aliados, da Inglaterra e França, bombardeando a Síria redundou momentaneamente num grande fracasso: dos 100 mísseis disparados 73 foram destruídos, antes de atingir os alvos, pelos mísseis sírios adquiridos da Rússia. Fato comemorado como vitória pelo povo siriano numa suprema coragem e serenidade, conscientes do que é a defesa do Estado Revolucionário da Síria contra o monstro imperialista de pés de barro. A falsa escusa de armas químicas que justificaram o criminoso ataque e a guerra contra o Iraque, funcionam menos agora perante a opinião pública mundial, sobretudo após a confissão dada pelo próprio governo dos EUA sobre a mentira montada que levou ao massacre de milhões de iraquenos. O momento histórico atual é de crise final do capitalismo improdutivo, a níveis irreversíveis no século XXI. O elemento novo é a política exterior de Putin e a decisiva unidade China-Rússia que não admitem mais nenhuma intervenção imperialista dos EUA e da Otan que redunde na mesma destruição da Síria como foi à Líbia de Kadaffi. Há que ver quais serão os desdobramentos da crise interior do imperialismo e das burguesias europeias, e como se reforçará a unidade anti-imperialista, após este ataque à Síria. Putin já alertou sobre a gravidade deste ataque e as consequências que virão. O ataque do EUA mostra o fracasso da utilização das suas crias terroristas do ISI, EI e Daesh, derrotados totalmente pelo governo de Bashar Al-Assad. O imperialismo se encontra em estado de desespero de classe para uma guerra mundial, expresso na pseudo-loucura de Trump (por razões internas ou não), que podem levar a um desfecho imprevisível. O certo é que o imperialismo não consegue decidir como, quando, nem onde lançar a Guerra Mundial, como já dito pelo dirigente revolucionário J. Posadas que inclusive previu que a inevitabilidade da Terceira Guerra mundial e atômica, intrínseca à crise final sistêmica do capitalismo. Os riscos de uma terceira-guerra mundial de grandes proporções não estão descartados. O Conselho de Segurança da Onu rechaça a posição russa, e a Otan insiste em mostrar músculos, declarando apoio ao ataque norte-americano. Publicamos algumas considerações e reflexões, prévias ao ataque de 14 de abril, como suporte à análise conjuntural deste contexto de enfrentamento global.
A resposta da Rússia a pretensa hegemonia bélica dos EUA
O Governo da Rússia mais do que qualquer outro governo tem tido uma postura extremamente importante ao buscar pacificar conflitos internacionais, com constantes diálogos diretos com os governos dos EUA, da Europa, do Oriente Médio, da África e da Ásia, inclusive no Conselho de Segurança da ONU.
Diante desta busca permanente de conciliação, como interpretar então a demonstração de superioridade bélica apresentada recentemente pelo Presidente da Rússia Vladimir Putin? Trata-se de um novo míssil balístico intercontinental Sarmat que pode voar por cima do Polo Norte e do Polo Sul além de ter a capacidade de atingir alvos em qualquer lugar do mundo e poder carregar mais ogivas nucleares. Segundo Putin eles (o Ocidente) não foram capazes de segurar a Rússia. “Agora, eles têm que se inteirar de uma nova realidade e entender que o que estou dizendo hoje não é blefe” disse Putin.
São várias as hipóteses de porque Putin fez este pronunciamento mas foi uma demonstração de força diante da pretensão dos EUA e da OTAN de lançarem um ataque unilateral contra a Rússia. Putin se antecipa e manda um recado: temos superioridade bélica, não se aventurem que sairão derrotados. Busca conter a ala guerreira do governo Trump.
Pensar assim não é nenhuma abstração. Durante a Crise dos Mísseis, Curtis LeMay, chefe do Estado-maior da Força Aérea, que comandou o bombardeio de Tóquio com bombas incendiárias e chefiou o lançamento das bombas atômicas sobre Hiroshima e NagasaKi, apelou para que Kennedy destruísse a União Soviética “agora”; disse: “antes que ela fique muito poderosa”.
Desde aquela época para cá já existiram momentos em que os sistemas de defesa e ataque, tanto da Rússia como da China, se colocaram em alerta contra possíveis pretensões dos EUA de lançarem ataques unilaterais contra a Rússia e a China. Fizeram ensaios com a derrubada de aeronaves para sentir a disposição daqueles países reagirem.
“O regime no Irã precisa ser derrubado o mais rápido possível e na Coreia do Norte, há duas opções: acabar com o regime – com a reunificação ou com um golpe de Estado – ou eliminar as armas”.Essas são algumas das opiniões de John Bolton, o novo conselheiro de segurança de Trump. Bolton sempre foi um entusiasmado defensor dos “ataques preventivos”. Durante o governo George W. Bush (2001-09), ajudou a turbinar as parcas indicações de que Saddam Hussein teria armas de destruição em massa para justiçar a invasão americana no Iraque, em 2003. Anos depois, informação desmentida pelas próprias autoridades dos EUA.
Como se chegou a situação atual de uma possível guerra global? Já vivemos hoje várias guerras mundo afora desde a derrubada das Torres Gêmeas nos EUA – a cada dia vão se confirmando que a derrubada das Torres Gêmeas contou com a participação de organismos do próprio governo norte-americano com o pretexto de desencadear uma guerra no Oriente Médio e um falso combate ao terrorismo. Caso venha a ocorrer uma guerra a nível mundial, seguramente, será uma guerra atômica por mais absurdo que seja esta hipótese.
Existem ações articuladas pelas forças imperialistas anglo-americanas para aprofundarem o boicote ao governo russo. Este é a bola da vez. Na realidade sempre foi desde a Revolução Bolchevique de 2017 e em especial com a invasão nazista a URSS na segunda guerra mundial A geopolítica dos EUA privilegia sempre nominar um inimigo para justificar os enormes orçamentos em gastos militares que atualmente beiram 600 bilhões de dólares, 10 vezes maior que o orçamento da Rússia. A busca da hegemonia política no mundo, implica na terrível situação dos povos do Iraque e da Líbia e agora, na Síria.
Com o apoio do Governo Mundial Autoritário, do pequeno ciclo financeiro internacional e da mídia, armaram o envenenamento de cidadãos russos na Inglaterra, e na sequencia acusaram Putin de assassino. E logo depois, expulsaram os diplomatas russos daquele país. O roteiro já estava escrito: adesão de vários países com expulsão também de diplomatas russos e reação no mesmo patamar por parte do Governo Russo pois não poderia ser diferente pois trata-se de um país que mantem controle sobre sua soberania nacional.
Na sequência, Trump anuncia mais medidas políticas e econômicas contra o Governo Russo e econômicas contra a China. Há uma constante tensão de confronto internacional. Toma medidas reacionárias no Oriente Médio com a abertura de embaixada dos EUA em Jerusalém, capital sagrada dos palestinos, ocasionando confrontos que levaram a mais assassinatos de palestinos pelo governo de Israel.
Podemos inclusive prever que irão buscar boicotar a capa do mundo na Rússia. Por quê tudo isto ocorre? Em primeiro lugar, realmente o imperialismo anglo-americano está numa profunda crise política e econômica. Esta guerra contra a Rússia busca unificar as forças do campo da Otan. A unificação da Europa está fracassando. A saída da Inglaterra do bloco, fracionou o conjunto das forças. Vários países não se submetem ao boicote econômico organizado pelos EUA contra a Rússia. Há uma crise de desemprego em todo o continente e um baixo crescimento econômico.
No outro lado do mundo, a unificação da China e da Rússia muda a correlação de forças. Xi Jinping já declarou que vai defender os interesses da Rússia pois são parceiros confiáveis nos campos econômicos e no campo militar. Em comemoração a vitória da URSS sob o nazismo, o desfile militar contou com as presenças das Forças Armadas chinesas e russas. O exército chinês está disposto a proteger interesses comuns sino-russos, afirmou Ren Guoqiang, o porta-voz do Ministério da Defesa da China,
Fundamentalmente, como sempre, há uma questão econômica em jogo. Os EUA tem um dívida pública de 100% do seu PIB, enquanto a Rússia e China mantém um dívida pública na casa de 12% do PIB.Existe todo um jogo de interesses comerciais e de poder que nem sempre são explicitados em ações como o atual boicote a Rússia. Mas o certo é que o poder norte americano, mesmo com 800 bases militares espalhadas em 130 países não lhe garante ditar hegemonicamente o poder político no mundo como eles gostariam. Com novo míssil balístico intercontinental, o Sarmat, os russos colocaram em cheque todos todo o aparato militar dos EUA e da OTAN.
Há outros fatores que levam a uma “guerra quente”. Com o advento de novas tecnologias, da informática, da agilidade de transações de compra e venda de títulos o setor financeiro utilizou-se destas vantagens para transferir renda do setor produtivo para o capital financeiro improdutivo em volumes nunca visto antes no desenvolvimento do capitalismo. Em determinados países capitalistas o rentismo sobrepôs ao setor produtivo, destruindo cadeias de produção e consumo de forma catastrófica.
A concentração de riqueza no setor financeiro possibilitou ao longo destes anos que fossem criadas estruturas que podemos caracterizar como um Governo Mundial Totalitário. Governo Mundial Totalitário que criou instâncias para lhe dar sustentação. Governança que conseguiu cooptar a maiorias dos governos com o compromisso de destinarem parcela significativa dos seus orçamentos para o pagamento dos juros e da rolagem da dívida pública. O orçamento da União do Brasil de 2018 destinou 37% para pagamento dos juros e rolagem da dívida pública.
Some-se a tudo isto, o poder desta governança de controlarem os parlamentos e a mídia. Aprovam leis que lhes garantem privilégios fiscais. Para não pagarem impostos destinam seus dinheiro para os paraísos fiscais. A globalização está a serviço de destas pessoas. Oito (8) pessoas do mundo são donos de mais riquezas do que a metade da população do mundo. O desastre ambiental do planeta terra está a serviço desta minoria.
Aos países que não se submete a esta lógica louca de destruição de suas riquezas e domínio financeiro, como é o caso da Rússia e da China, e também do Irã e da Venezuela, o imperialismo anglo-americano busca derrubar seus governos. Mas são países que sabem seu lugar no mundo e defendem com unhas e dentes a própria soberania.
Pequim está pronto para intensificar o jogo. Em breve, a China lançará um contrato de futuro de petróleo bruto com preço em yuan e conversível em ouro. Isso significa que a Rússia – assim como o Irã, o outro nó principal da integração da Eurásia – podem ignorar as sanções dos EUA ao negociar energia em suas próprias moedas, ou em yuan. Nessa jogada está contido o verdadeiro ganha-ganha chinês; o yuan será totalmente conversível em ouro nas bolsas de Xangai e Hong Kong.
Tudo isto provoca ações de desespero do governo norte-americano. Não há unidade dentro do governo Trump que a principio buscava se desvencilhar da política anterior mas com o passar do tempo vai demonstrando que o setor guerreiro vai ganhando espaço dentro do seu governo.
A tão debatida criação da Frente Única Antimperialista acaba se constituindo com a unificação da China e da Rússia, com a reconstrução da antiga Rota da Seda possibilitando relações políticas, econômicas e militares com outros países e a construção de uma concepção diferente das direções do países como os EUA que buscam uma relação de ganha e perde a seu favor. Não é a Rússia e a China que estão desestabilizando governos na América Latina como ocorreu com o golpe contra a Presidenta Dilma no Brasil, vergonhosamente patrocinado pelos EUA.
Esta frente em torno da Eurásia, da Rússia e da China e com ramificações pelo mundo, não é um organismo político a impulsionar a revolução socialista no mundo mas diante das circunstâncias impostas pelo imperialismo, vai se protegendo contra a barbárie que o Governo Mundial Autoritário quer levar a humanidade. E vai buscando servir como modelo de desenvolvimento que possibilite tirar milhares de pessoas da miséria em base a construção de infraestrutura, de hospitais, escolas, desenvolvimento industrial e da agricultura e não através da guerra como é a norma dos EUA. Guerras que retrocederam à barbárie países como a Líbia e Iraque que tinham elevado índice de desenvolvimento humano.
01 de abril de 2018