A unidade China-Rússia alimenta o multilateralismo, exacerba a crise do império capitalista rumo à guerra.
O colapso da hegemonia imperialista, a crise econômica no Ocidente capitalista e o acirramento da guerra Rússia x Ucrânia apontam para um cenário de alerta de que uma guerra nuclear se aproxima. É o que indicam as recentes provocações e os abusivos ataques pela OTAN, via Ucrânia na Operação Teia de Aranha, ultrapassando todos os limites suportáveis ao atingir a Tríade Nuclear da Rússia destruindo parte de seu arsenal estratégico.
Ações consideradas gravíssimas pelo governo russo, após uma semana de sabotagem e terrorismo por parte dos nazistas ucranianos. Foram dois seguidos atentados; uma ponte desabou descarrilhando um trem de passageiros causando a morte de sete civis e mais de 100 feridos. Coincidentemente às vésperas da 2a. rodada de negociações de paz em Istambul na Turquia. Ainda assim a Rússia diplomaticamente participou das negociações onde os resultados se resumiram apenas nas trocas de prisioneiros, dos soldados mortos envolvidos na guerra (não cumprido do lado ucraniano que sabota o acordo mais uma vez) e uma trégua para que a Ucrânia recolhesse suas vítimas. Não havia nem ambiente e nem confiança por parte dos russos para ampliar as negociações e legitimamente recusaram-se a discutir a paz após ter sofrido estes graves ataques que causaram danos e prejuízos materiais e humanos.
Dmitry Medvedev, vice-presidente do Conselho de Segurança da Federação Russa, emitiu um pré-aviso da comissão de guerra: a Rússia vai retaliar “inevitavelmente”. “É necessário preocupar-se, é da natureza de uma pessoa correta. O castigo é inevitável” (RT). Não disse nem como, nem quando, nem onde. Nem falou como o ex-presidente que não reagiu frente à derrubada da Líbia de Kadaffi. Emitiu a decisão alinhada com Putin, que sabe que as intenções do governo ucraniano sobre a paz não passam de um teatro e os ataques em Murmansk foram vistos como uma tentativa de minar o processo de paz em que se contrapõem os próprios setores imperialistas da guerra, entre a Otan e Trump.
Assim, na madrugada de 7 de junho, veio a reação e o ataque russo com armas de longo alcance contra oficinas de montagem de drones na Ucrânia, lugares de manutenção de armas, depósitos de munições e abrigos de mercenários e militares. A transcendência mundial da comemoração em Moscou nos 80 anos do Dia da Vitória da URSS contra o nazismo é um termômetro da memória do povo russo, cujo exército hoje sustenta a intervenção da Rússia contra o governo repressor de Zelenski na Ucrânia. Putin já anunciou que as Forças Armadas já estabeleceram uma zona de segurança ao longo da fronteira da Rússia com a Ucrânia, para defender o que resta do Estado operário soviético. Enquanto isso, durante as negociações em Estambul, a Rússia deixou um memorando que pede, entre outros pontos, o reconhecimento jurídico internacional da incorporação da Criméia, da República Popular de Lugansk e de Donetsk, além das províncias de Zaporozhie e Jersón à Federação Russa.
Todos os elementos da conjuntura apontam para uma possível escalada de guerra, com uma Europa, agora, querendo se armar, anunciando um gasto 800 bilhões de euros – novamente para alimentar sua indústria armamentista mesmo diante de uma profunda crise econômica. E que em última instância pode levar a uma guerra mundial e atômica. Se faz necessário que as massas na Europa acordem desta dissintonia cognitiva provocada pela mídia canalha e que se levantem contra estes governos que capitularam diante da história. E que se estenda uma Frente Antimperialista Internacional, essencial diante desta escalada de guerra do imperialismo. Há reações isoladas, como a dos portuários franceses organizados na CGT de Marselha, que têm se recusado a carregar componentes para metralhadoras destinadas a Netanyahu. Bandeiras palestinas irrompem em manifestações por todos lados, desde Andaluzia, Madrid, Roma, Londres; cobrem janelas de povoados históricos na Toscana italiana como Pitigliano. Em Haya 100 mil na rua condenaram o genocídio de Israel em Gaza. Frente a esse clamor social faltam direções políticas e de massas, e governos que contestem politicamente a russo-fobia e que superem o pacifismo abstrato e rompam com a OTAN.


O Ocidente europeu capitalista na sua obsessão anti-Rússia arruinou sua economia e suas indústrias, para impor sanções maciças e sem precedentes contra a Rússia. Cortaram as relações dos russos com os países da Europa. Mas a Rússia continua resiliente, também decorrente das suas características de Estado operário. Nesse contexto, aparecem contraditoriamente partidos conservadores de direita defensores de acordos econômicos energéticos com os russos na Alemanha, ou na Itália. Não por afinidade ideológica, mas por sobrevivência da economia capitalista. A Rússia penetra na crise inter-burguesa Europa-EUA, mantendo a defesa de seus interesses.
O período de desestruturação da ex-URSS e do governo neo-liberal pós 1990, saqueou o país levando a Rússia a decair economicamente e politicamente. Não fosse a sua base – com todas as idas e vindas, da Revolução Russa de 1917 e a vitória sobre o nazismo na segunda guerra mundial com o protagonismo decisivo da URSS, do exército e do povo soviético, a Rússia não retomaria o curso da história. Retornou enfrentando o imperialismo anglo-americano sionista; e a crise atual do capitalismo não tem pela frente as mesmas características das crises enfrentadas com a Grande Depressão de 1930, ou as guerras de 1914 e 1939, mas tem uma crise irreversível diante de dois potentes Estados operários (a China e a Rússia) que agora estabeleceram laços políticos e econômicos que mudaram a correlação de forças mundiais.


Num mundo hoje multipolar, as possibilidades de desenvolvimentos são infinitas, pois nesta multipolaridade estão países nacionalistas revolucionários como o Irã, o próprio Vietnã Comunista, a Coréia do Norte, Cuba, que com mais de meio século de boicote e sérias dificuldades, sobrevive. Os Estados Revolucionários da Venezuela, Burkina Faso (com Traoré seguindo Sankara), Mali, Niger, a luta dos palestinos, governos nacionalistas progressistas na América Latina e na África. A crise do capitalismo e do imperialismo anglo-americano sionista não é mais uma crise que será superada como as crises anteriores. Como nunca, a China é uma demonstração do desenvolvimento das novas relações e modos de produção com base na planificação da economia, do controle da governança do país (são 650 mil comitês populares espalhados pelo país desde a representação do partido comunista nas mais diversas localidades e nos mais diversos setores da economia), nos setores estatais das finanças, na educação, na saúde, na elevação dos salários e principalmente, no exuberante desenvolvimento tecnológico que só é possível na escala e dimensão atuais em um Estado Operário.


É verdade que a China está se tornando uma das maiores economias produtivas e tecnológicas do mundo. Mas sua conduta não repete a história das colonizações, nem a história das rapinas e assassinatos. Por um único motivo: a China de 2025 é fruto da Revolução de 1949. Pode-se caracterizar a China de várias maneiras pelos estudiosos: “China Socialismo do Sec XXI” de Elias Jabour, ou “China Tradição e Modernidade na Governança do País” Evandro Menezes de Carvalho ou “A Nova China Para Além do Socialismo e do Capitalismo” de Keyu Jin. Na realidade, a China tem todos os elementos descritos pela literatura, mas a China é um Estado operário. Estado operário caracterizado como a transição do capitalismo para o socialismo. Transição que traz avanços no campo do socialismo e contradições decorrentes da construção do socialismo que convive com elementos capitalistas. É um país que não faz guerra com outros povos. Sua relação é econômica, levando inclusive financiamentos e obras de infraestrutura, sociais, e desenvolvimento econômico. Fato consubstanciado pela Rota da Seda. Hoje a China comercializa com mais de 130 países do mundo. Com o Brasil, a China fez acordos de mecanização e tecnificação da agricultura familiar e aplicação de energia renovável.
Desde a Revolução Chinesa de 1949, partindo de uma base baixíssima da economia- foi um século de humilhação-, a China passou por períodos de profundas crises, como anos de mortes pela fome; teve que experimentar programas equivocados como a “Salto para Frente” e a “Revolução Cultural”; contou com o apoio da URSS por um período, mas soube superar constituindo as bases para o desenvolvimento do socialismo chinês. Uma das características da governança chinesa é não prometer o que não pode cumprir. Por um período, abriu-se para atrair capitais e tecnologia estrangeiros, praticou salários baixíssimos. Com o passar do tempo e com o desenvolvimento, consolidou, através da planificação do Estado, conquistas importantes: residência para todos; previdência social, segurança alimentar, saúde pública; mobilidade moderníssima com os trens balas e ferrovias, metrôs; elevação dos salários ao ponto de alcançar uma grande parte do país de uma renda média equivalente dos países chamados desenvolvidos, tirando 800 milhões de chineses da miséria, em 3 décadas, fato histórico da economia mundial. Para não dizer que tudo foram flores, no inicio da abertura houve muita corrupção, com os negócios privados em conjunto com as estatais se afirmando. Situação que é combatida hoje por determinação do Partido Comunista da China.

Marco Rubio, secretário de Estado dos EUA, admite o perigo potencial da China no enfrentamento global: “O Partido Comunista da China, que lidera a RPC, é o adversário quase-paritário mais potente e perigoso que esta nação (EUA) já enfrentou. Eles possuem elementos que a União Soviética jamais teve. Eles são um adversário e competidor tecnológico, um competidor industrial, um competidor econômico, um competidor geopolítico, um competidor científico agora — em todos os domínios.”
Por isso, como referido num artigo de Ben Norton, o vice-presidente dos EUA, JD Vance critica a orientação de gestões norte-americanas anteriores: “Em vez de dedicarmos as nossas energias para responder à ascensão de concorrentes quase-paritários como a China, nossos líderes perseguiram o que presumiram serem tarefas fáceis para a superpotência dominante do mundo”, disse Vance.“Nosso governo tirou os olhos da bola da competição entre grandes potências e da preparação para enfrentar um adversário de mesmo nível e, em vez disso, nos dedicamos a tarefas amplas e amorfas, como caçar novos terroristas enquanto construíamos regimes distantes”.
Vance, expressa a tendência que direciona a crise sistêmica norte-americana divorciando-se de ilusões integradoras na sua economia e comércio com a China. Não se iludem mais de que a China possa mudar o seu rumo socialista. Por isso, Trump oscila entre pacificador na guerra da Ucrânia, competindo com a Otan, agitando um nacionalismo norte-americano produtivo decadente, em contraposição ao capital financeiro especulativo aliado à indústria de armas preparando a guerra contra a potência socialista chinesa. E no meio se encontra a briga entre Elon Musk e Trump. Se digladiam e se entrelaçam diversas tendências de interesses internos do império. Trump, após desencadear a guerra tarifária contra a China, teve que telefonar ao Xi-Jiping para que reabra o proceso de licenciamento de exportação de terras raras e ímãs chineses essenciais para a montagem de carros, geladeiras e máquinas de lavar roupa nos EUA (e também na União Européia).
O preço altíssimo dessa crise é pago pelas despojadas massas norte-americanas (cuja única representação tem sido a enorme abstenção eleitoral) reduzidas ao desemprego atroz, à perda de casas, à acumulação de dívidas bancárias, à saúde privatizada, à desigualdade social, ao racismo, à violência e à instrumentação das guerras. Mas, as reações dos imigrantes em Los Ângeles mostram que a barbárie tem um limite. Assim como o peronismo histórico na Argentina colocará um basta ao delírio fascistóide de Milei. A humanidade não é suicida, nem estará parada diante de uma terceira guerra mundial contra o nazi-fascismo do século XXI. Isso, num contexto em que, entre outras, Xi-Jiping convida Putin para o desfile no dia 3 de setembro em Pequim pelo 80º. aniversário do final da segunda guerra mundial.
A conjuntura global hoje se baseia nos avanços da multipolaridade alavancadas por governos anti-neoliberais que priorizam o papel do Estado e a justiça social, sob as lideranças da China, da Rússia e do BRICs que tem um protagonismo importante neste momento com Lula liderando a ofensiva desta instituição e desafiando as maiores potências econômicas membros do G7. Segundo dados da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento, o bloco já representa 30% da economia Global, e a próxima cúpula do BRICs, que se realizará no Brasil em novembro, tem avançado em pautas visando a busca de soluções construtivas e de desenvolvimento do bloco que responde por pelo menos 40% da população mundial.
Sem dúvida que o progresso destes países não depende somente de organismos de integração de medidas econômicas (BRICS), CELAC e ALBA, mas de políticas públicas dos governos progressistas ou populares participantes que permitam avançar o funcionamento do Estado rumo a Estados revolucionários (J. Posadas) que impeçam a estagnação, a corrupção e o retrocesso. Cuba e Venezuela são exemplos de resistência e organização socialista interior que merecem não apenas solidariedade anti-bloqueio, mas seguimento político, para impulsionar na região centro-sul-americana, os governos populares de Claudia Sheibaum (México) e Gustavo Petro (Colômbia).
Comitê de Redação
PosadistasHoje
8/6/2025
Nota: Após a finalização desta matéria, se desencadeou, em 13 de junho, o ataque de Israel ao Irã, em nome da falsa justificativa de que este estaria produzindo armas nucleares (quando a realidade é que produz somente urânio enriquecido). Israel, portador da bomba atômica, promotor do genocídio em Gaza e Palestina, acionou o ataque a civis, cientistas nucleares e a altos comandantes da defesa iraniana. A resposta do Irã se encontra em pleno desenvolvimento lançando mísseis contra Israel. Os chamados de Netanyahu instigando uma reação do povo iraniano para uma derrubada de regime (como sucedido na Síria), reforçam possibilidades de apoio à revolução islâmica do Irã de países árabes como o Yemen, e os riscos de uma entrada direta da Rússia e China no conflito; portanto, de uma guerra mundial. O presidente Maduro (Venezuela) já declarou plena solidariedade ao Irã e chamou ao povo de Israel, como o único que pode deter a ação guerreira do seu governo.