Discurso de Vladmir Putin na Assembleia Federal da Rússia


Discurso de Vladmir Putin na Assembleia Federal da Rússia

(Publicado no Sputnik Brasil)

APRESENTAÇÃO

Leiam acima o discurso do presidente da Rússia, Vladimir Putin, pronunciado no dia 21 de fevereiro perante a Assembleia Federal da Rússia, ignorado ou combatido pelos grandes meios de comunicação do mundo, merece um destaque especial. O texto em português foi publicado na íntegra no Sputnik Brasil.

Um discurso dirigido ao exterior e interior da Rússia. Putin atua como estadista e líder político nacional e mundial; sintetiza a decisão da Rússia enfrentar preventivamente, o bloco do império capitalista sob mando dos EUA e da OTAN; estes, em fase de colapso e barbárie total, prestes a detonar uma 3ª. guerra mundial com armas letais e atômicas contra a humanidade. Fala-se numa guerra entre um mundo unipolar e multipolar. Na realidade, é entre dois sistemas antagônicos: o do capitalismo e o da união dos regimes soberanos e socialistas. É o fim de uma era. Socialismo ou barbárie.

Putin, deixou claro. Usou o tribunal da Assembleia Federal Russa para desmascarar ao mundo o que a ONU não faz, deixando passar: a ruptura dos EUA-Otan aos acordos internacionais de paz, do pós-guerra (1945), do pós-caída da URSS (1990), dos SALT, de Minsk; a fermentação do neo-nazismo nas regiões de Donbass, Donetsk e Lugansk, Crimea e Sevastopol como pré-invasão à Rússia. Putin, reativou a memória histórica: Hitler, como Zelensky são executores da ponta de um iceberg que se solidificou anos antes da deflagração das guerra. 1930 foi a Alemanha, 2014 (Maidan) é Ucrânia.

Porque a obsessão de invadir a Rússia? Somente pelo gás e recursos naturais? Ou mais que isso? Destruir o que resta da URSS: a Rússia que hoje, protagoniza uma união histórica com a China, a maior potência econômica (com bases socialistas) e antagônica aos EUA capitalista decadente. Este prepara uma guerra atômica com grandes contradições com a burguesia europeia e os trabalhadores. Isso não ocorre no campo socialista; não há antagonismos entre a Rússia e a China. Há problemas de direção política a resolver, mas não estruturais dos países.

O discurso de Putin vai no sentido da recuperação das conquistas da União Soviética, sobreviventes na Rússia atual.

“A Rússia é um país aberto e, ao mesmo tempo, uma civilização original. Não há qualquer pretensão de exclusividade e supremacia nesta afirmação, mas esta civilização é nossa, isso é o principal. Ela nos foi transmitida por nossos antepassados, e temos que preservá-la para nossos descendentes e passá-la adiante.

Desenvolveremos cooperação com os amigos, com todos aqueles que estão prontos para trabalhar juntos, adotaremos o melhor de tudo, mas antes de mais contaremos com nosso próprio potencial, com a energia criativa da sociedade russa, com nossas tradições e valores.”

O discurso é contundente, dirige-se a preparar a consciência do povo russo, diante do parlamento, do exército, de figuras religiosas para o enfrentamento com o imperialismo na Ucrânia. Sinaliza não só a preparação militar russa, mas dirige-se a organizar a emulação social, patriótica, como nos tempos da guerra da URSS contra o nazismo. Putin não faz uma defesa aberta do socialismo e do comunismo, mas se movimenta para reconstruir o Estado operário e faz uma ação real de enfrentamento com o imperialismo anglo americano, tendo como base a estrutura, a história, a ideologia socialista comandada por Lenin e Trotsky.

A política exterior pesa e incide nas mudanças internas. Os governos da Otan, conduzem à fome, à degradação social, racismo e violência; à política interna de privações econômicas, trabalho e saúde, e a uma massiva oposição social à guerra que já começam da desbordar as praças europeias.

A política exterior russa, de guerra preventiva, de defesa patriótica de uma sociedade mais justa e igualitária, com co-participação e conscientização, terminará pesando nos avanços da economia socialista e correções burocráticas interiores. O apoio do Partido Comunista Russo à política exterior de enfrentamento à Otan é um sinal. A unidade do Exército, corroborada nas comemorações da vitória em Stalingrado, são exemplo de solidez não de um “invasor”, mas de defensor de povos que deram milhões de vidas à revolução contra ditaduras nazistas.  Putin, de origem militar, como foi Chávez na Venezuela, não se esquece que a “revolução é pacífica, mas não desarmada”.

“Quero repetir: foram eles que começaram a guerra, enquanto nós usamos a força e a usamos para parar”.

… “Segundo a avaliação dos próprios especialistas americanos, como resultado das guerras, quero chamar a atenção para isto: não fomos nós que inventamos estes números, são os próprios americanos que os dão, as guerras desencadeadas pelos EUA desde 2001 mataram quase 900 mil pessoas, mais de 38 milhões se tornaram refugiados. Agora eles só querem simplesmente apagar tudo isso da memória da humanidade e fingir que isso nunca aconteceu. Mas ninguém no mundo esqueceu e não vai esquecer.”

“As elites do Ocidente não escondem seu objetivo, infligir uma derrota estratégica à Rússia. O que isso significa para nós? Significa acabar conosco de uma vez por todas. Ou seja, eles pretendem transformar o conflito local em um confronto global. É assim que entendemos tudo isso, e vamos responder em conformidade, porque neste caso já se trata da existência do nosso país.”

… “Nesta situação, o Ministério da Defesa da Rússia e a [empresa estatal russa] Rosatom devem garantir a prontidão para testar as armas nucleares russas. É claro que não seremos os primeiros a fazer isso, mas se os EUA as testarem, nós também o faremos. Ninguém deve ter ilusões perigosas de que a paridade estratégica global pode ser destruída.”

Putin, alerta para a guerra midiática. O chamado Ocidente, países capitalistas dominantes nos EUA e Europa, sentindo-se derrotados militarmente de antemão pela contestação social interna, apelam ao poder midiático, às fakenews, instaladoras da “russofobia”.

“O alvo são, naturalmente, os jovens, as gerações jovens. E aqui, novamente, mentem constantemente, distorcem fatos históricos, não param de atacar nossa cultura, a Igreja Ortodoxa russa, outras organizações religiosas tradicionais do nosso país.”

A hipócrita mídia ocidental não deixa de alimentar em parte da juventude, incluindo os movimentos identitários de esquerda, a “russofobia”, desrespeitando as diferenças religiosas que redundam em diferenças culturais. Assim, instigam atos de revoluções coloridas contra o uso do véu islâmico no Irã, ou a “russofobia” devido às reticências da Igreja Ortodoxa (de peso social na Rússia) ao casamento Lgbt. Mas, Putin, trata de usar a mídia pública para instalar o respeito mútuo às diferenças de credo e culturas e não às controvérsias.

Comunicação pública frente às massas, das dificuldades e logros econômicos, não obstante a guerra. Esse é o exemplo que deu Putin, em pleno campo de batalha, com todas as consequências. Oxalá as positivas não sejam poucas. A mídia independente, enquanto a pública não existe no “Ocidente”, deveria fazer escola com este discurso de Putin. As lideranças sindicais e dos partidos de esquerda na Europa deveriam ouvir este discurso, antes de manifestar-se pela paz, com o slogan anti-russo.

A guerra trará elementos de revolução política interior e recuperação da URSS

“Agora estamos juntos de novo, o que significa que nos tornamos ainda mais fortes. E faremos tudo para que a tão esperada paz volte às nossas terras. Nossos heróis estão lutando por isso, por nossos ancestrais, pelo futuro dos filhos e netos, pela restauração da justiça histórica e pela reunificação de nosso povo.”

Aproveitamos para resgatar o dito por J. Posadas quem há meio século previu a inevitabilidade da guerra imperialista. “O capitalismo prepara a guerra, mas o mundo capitalista não pode dirigir as consequências da guerra. Pelo contrário, os Estados operários (países socialistas) já estão preparados. A guerra vai ser muito curta e será o fim dos principais centros do sistema capitalista. O capitalismo não vai ter as forças para se recompor. Os países socialistas, sim, se recuperarão naturalmente. A guerra de 1870 trouxe a Comuna de Paris. A guerra de 1914-18 trouxe a União Soviética. A guerra de 39-45 trouxe 20 novos Estados operários. A guerra que o imperialismo está desatando trará o fim do capitalismo e da burocracia. Não será algo automático, mas este é o curso da história.” (J. Posadas, 06/12/79)

Comitê de Redação

22/03/2023

PS: Recordamos que no dia 20, não obstante conversações de Lula nos EUA, clamando por negociações de paz na guerra da Ucrânia, Biden, aterrissou em Kiev onde encontrou-se com Zelensky, prometeu uma ajuda bilionária e envio de grande armamento de defesa aérea à Ucrânia. No dia seguinte, na Polônia, após este discurso de Putin, Biden afirmou que a OTAN não deverá se dividir e anunciou mais sanções à Rússia.

Foto Destaque (crédito: Embaixada Russa)

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