Rafah, o calcanhar de Aquiles de Netanyahu


Eram outros tempos quando, no início da “Grande Guerra”, os otomanos esmagaram os armênios que não podiam escapar. Os otomanos passaram de derrota em derrota. Já tinham perdido o Egipto para os britânicos, o Líbano para os franceses e outros países e territórios. Com a economia em ruínas e a moral em baixa, agiram por desespero e pouco depois sucumbiram juntamente com o império czarista.

Moralmente, Israel está na mesma situação. Pessoas que o abandonam, outras que se desesperam, ou que são forçadas a afastar-se das fronteiras, colonos sancionados, líderes divididos, que atacam Netanyahu ou ameaçam abandonar a aliança, e Biden que rema no sentido contrário. Agora o jornal italiano Corriere della Sera também diz que Biden e Netanyahu estão em rota de colisão e a colisão ocorre em Rafah (*). Netanyahu blefa por desespero. É a última coisa que ele pode dizer para assustar enquanto propõe um plano, para testar como fazê-lo.

Manifestações em Israel contra Netanyahu
(Sputnik -14/01/23)

Há um milhão de palestinos em Rafah, na fronteira com o Egito. Os bombardeamentos massivos não seriam suficientes. Eles têm que empurrá-los para o Egito com a infantaria, por terra. Mas estão exaustos ​​e com a moral baixa. Eles retiram continuamente batalhões de Gaza. O “satanaz” propõe estudar “um plano” de deportação, para expulsá-los. Ele não sabe o que fazer e o Egipto mobilizou o exército. Israel chegou uma vez ao Canal de Suez, mas retirou-se em troca da desmilitarização do Sinai. Só a polícia podia estar. Mas eis que eles estão com tanques em frente à fronteira.

Biden pode acusar Al Sissi (**) pelo fechamento da passagem, mas a situação vai além de acusações absurdas e infundadas. O mundo é completamente diferente de 1915. Ali também ocorreu o genocídio porque o mundo estava meio destruído. Ninguém poderia ajudar a população armênia. Há muito que Netanyahu ficou sem cartuchos de vitimização. Possui aviação e energia nuclear. Militarmente poderia fazer uma terra arrasada, mas não estamos como em Dresden (***). Em Rafah há mais de um milhão. Não há proporção. Também lá, seguindo a ordem americana, os pilotos ingleses recusaram-se a bombardear Dresden durante dez dias. O Japão já estava derrotado quando Truman usou a bomba atômica. As ogivas nucleares israelitas, por mais “limpas” que sejam, destinam-se a ser lançadas para longe das fronteiras e não entre as próprias pernas.

Embora pareçam dois poderes e dois Estados diferentes, os sistemas entre pai e filho são vasos comunicantes. Se os americanos estivessem determinados, parariam a máquina de guerra. A verdadeira guerra está nos próprios Estados Unidos, mas mesmo aí, como irão os fomentadores da guerra permitir o uso da energia nuclear ou o bombardeamento massivo de Rafah? Não conseguirão convencer os egípcios, nem os palestinos. Eles chegam para cercar Rafah enquanto estão nos seus estertores finais.

Mesmo que não haja informações precisas e verdadeiras sobre a situação, que é demasiado móvel e contraditória, tomada em geral, Netanyahu está blefando e esta aposta vai contra ele. Israel acaba de sofrer uma forte derrota política ao ser condenada pela ampla maioria da Corte Internacional de Justiça por genocídio em Gaza. Os sauditas convocaram a reunião do conselho de segurança de emergência enquanto as bases americanas na Síria estão continuamente sob ataque e o Mar Vermelho continua a prejudicar as economias dos países ocidentais. A urgência existe apenas para pôr fim à loucura fanática do governo sionista de Israel.

S.B.
Correspondências
Itália

(*) Rafah é uma cidade palestina na Franja de Gaza, fronteira com o Egito, administrada pelo Estado Palestino.

(**) Presidente do Egito

(***) Dresden, na Alemanha, em 1945, sofreu quatro ataques consecutivos das forças aéreas britânicas e dos EUA antes da capitulação nazista. Dezenas de milhares de mortos.

Foto destaque: Palestinos abandonam o lugar de um ataque de Israel em Rafah, sul de Gaza, 12 de fevereiro de 2024 (Foto: Reuters)

 

 

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