Operação militar especial da Rússia na Ucrânia


 A operação militar especial da Rússia na Ucrânia é uma demonstração de que a única maneira de conter a ação do imperialismo norte-americano e da OTAN é através das armas. J. Posadas no seu livro “A função Histórica das Internacionais” defendia: “Os Estados operários devem se preparar para enfrentar a guerra, porque a decisão se resolve através das armas; a solução é política, mas os meios para aplicar essa resolução são as armas e os Estados operários devem se preparar para essa conclusão”.

Há muito que os EUA estabeleceram como fachada a defesa dos direitos humanos e a luta contra o terrorismo em substituição ao direito à soberania das nações. Através das armas têm destruído países como a Líbia e o Iraque que não tinham as armas para se defenderem e nem armas químicas como foi anunciado para fundamentar a intervenção militar naquele país. Utilizam a CIA e ONGs para promoverem golpes de estado em várias partes do mundo contra governos que praticam políticas contrárias aos interesses dos EUA, em defesa dos interesses das finanças internacionais e das transnacionais.

Os EUA estabeleceram como política de Estado o direito de intervir em qualquer país do mundo desde sempre, mas mais especificamente, depois que as correlações de forças mundiais foram alteradas com o fim da ex-URSS. Nas últimas três décadas agiram, com as mãos livres através das armas e de golpes de estado em defesa de seus interesses.

Desde os anos 2000, a Rússia passou por um processo de reestruturação da sua economia e da política depois do desastre que foi o fim da ex-URSS e a governança por parte de saqueadores do estado. Mas não havia ainda acumulado forças econômicas, militares e políticas para evitar o massacre na ex-Iugoslávia, na Líbia e no Iraque. Já na Síria pode impor uma derrota, junto com a China, o Ira e o Governo de Bashar aos EUA e os terroristas financiados pela CIA.

Putin e Xi-Jiping (Foto Reprodução Youtube)

A globalização levada pelos EUA e as transnacionais com o único intuito de defenderem um mundo sem fronteiras, com o predomínio do capital financeiro sobre os Estados Soberanos, se viu em desvantagem com a utilização desta globalização pela China e Rússia.

O mundo que por décadas se constitui como um mundo unipolar, vai se tornando um mundo multipolar. Neste processo, a unificação Rússia-China muda completamente a correlação de forças mundiais. J. Posadas desde sempre analisava que quando a Rússia e a China se unificassem, o mundo sofreria uma mudança substancial na capacidade de se desenvolver e enfrentar o imperialismo.

A China, baseada numa estrutura basilar de planificação estatal com funções socialistas, se torna uma potência econômica com capacidade de competir com a economia capitalista decadente norte-americana, e está se tornando também uma potência militar. A Rússia, resistindo ao retrocesso total do que significou a queda da Urss, consolida-se com certa autonomia econômica e como a maior potência militar. Vão avançando parcerias estatais além da China-Rússia, também parcerias entre a Rússia-Irã, Irã-China, China-India. A China e Rússia estabelecem uma nova relação com a África, com projetos estratégicos de construção de estradas, pontes, hidroelétricas, hospitais, infraestrutura. Finalmente, a grande África, região espoliada durante séculos pelas potências econômicas colonialistas, incorpora-se pela porta da frente ao mundo global. A economia alemã se torna a principal parceira econômica da China que hoje realiza comercio com mais de 150 países do mundo, como é o caso do Brasil. Consolida-se a Rota da Seda.

O bloco dos BRICS vai se expandir com o BRICS plus,  com a possível entrada de países como o Irã, países Sul Americano, países da África. Vai se formando a OPEC plus, com o acordo da Arábia Saudita com a Rússia ditando o funcionamento do mercado de petróleo. E China vai pagar o petróleo com yuan, num movimento dos países do Oriente Médio se deslocando da esfera de influência dos EUA. A tendência é o Brasil se tornar líder do BRICS na América Latina sob a presidência do Presidente Lula.  Vão avançando o Banco de Desenvolvimento do BRICS, o Banco de Desenvolvimento da Rota da Seda, Grandes parcerias Euroasiáticas, e a organização de Xangai. Putin está propondo a criação de uma moeda digital como alternativa ao dólar, com lastro em commodities e ouro.

Para dizer que os acontecimentos não estão se dando somente no campo econômico e militar. Putin, Lavrov, Xi Jinping têm realizado conversações no campo político há tempo com várias lideranças políticas do mundo.  Em 2013, Putin publicou uma carta política nos principais jornais do EUA argumentando o absurdo da intervenção militar dos EUA na Síria e chamando as massas norte-americana a se manifestarem contra esta guerra.

Em 2001, os líderes da China, Rússia, Cazaquistão, Quirguistão, Tajiquistão e Uzbequistão se reuniram em Shangai para a criação de uma organização intergovernamental voltada, inicialmente, para o fortalecimento e a segurança da região do globo que encobre Ásia, Ásia Central e Eurásia.

A estratégia chinesa mais visível e decisiva na África foi a organização do Fórum para a Cooperação entre a China e a África (FOCAC), que reúne os dirigentes africanos e chineses em cúpulas em que é traçada a cooperação, segundo as diretrizes chinesas.

Foto (John Lamb/ Gettyimages.ru)

A África é essencial no projeto chinês de reforma do sistema de governança global. Entre 1995 e 2017, os acordos comerciais firmados entre a China e países da África saltaram de US$ 3 bilhões para US$ 143 bilhões, colocando o país asiático acima dos Estados Unidos como maior investidor estrangeiro no continente

Recentemente, Putin inaugurou uma estátua de Fidel Castro, ato que traz em si um simbolismo importantíssimo em defesa do socialismo e de Cuba pelo que representa Cuba e sua intervenção de solidariedade aos povos e as revoluções no mundo. A luta contra o apartheid na África do Sul, o envio de médicos cubanos pelo mundo. Aqui mesmo no Brasil, a importante incorporação dos médicos cubanos para o Sistema Único de Saúde – SUS em regiões com dificuldades de atendimento pelos médicos brasileiros, nos governos do Lula/Dilma, após sofrer cortes do bolsonarismo, terá chances de renascer com Lula Presidente.

Voltando à questão da Operação militar especial da Rússia na Ucrânia. Há muito a Rússia vem realizando intervenções na ONU argumentando o despropósito da expansão da OTAN nas ex-repúblicas da ex-URSS, colocando em risco a soberania da Rússia. Ao contrário, a ação militar da OTAN foi aumentando nestes países. Por fim, a descoberta de laboratórios de armas biológicas na Ucrânia; o massacre das populações em Donbas por parte de milícias neo-nazistas ucranianas como batalhões Azov; e as declarações do presidente da Ucrânia Zelenski de renovar o seu programa nuclear não possibilitou outra alternativa a Rússia que não seja a realização de uma operação militar especial da Rússia na Ucrânia em defesa de sua soberania, defesa que não puderam acontecer na Líbia e no Iraque.

Zelensky é um fascista, que organizou tropas nazistas dentro do próprio estado ucraniano.  Tanto é assim que têm o apoio basicamente dos governos da Europa e dos EUA, e a discordância, talvez não explicita, de 80% das nações do mundo. Coloca-se como um “super star” da política, é um agente do imperialismo, criando uma situação de profunda deterioração da vida de milhares de ucranianos que certamente não estão de acordo com o papel  da Ucrânia nesta guerra dos EUA contra a Rússia. A recepção do Presidente Zelensky pelos congressistas dos EUA reforça a leitura de que os EUA estão utilizando a desgraça do povo ucraniano para fazer uma guerra contra a Rússia. Foi simplesmente ridículo o excesso de palmas ao fantoche Zelensky.

Analisando do ponto de vista da geopolítica foi, além de uma ameaça à Russia, uma ação dos EUA para enfraquecer economicamente ainda mais a Europa. A Alemanha recebia um suprimento de gás da Rússia a preço subsidiado e tornou-se o maior parceiro econômico da China. Hoje paga 5 vezes mais pelo gás proveniente de outras partes do mundo, tirando a competividade da indústria alemã frente aos produtos norte-americanos. O conflito na Ucrânia empurrou a Europa para uma crise econômica que já vinha de antes com a COVID e em decorrência da crise do capitalismo a nível mundial. A ação da OTAN – instrumento militar dos EUA–, deixou às claras a fragilidade da Europa subordinada aos interesses dos EUA. A ação dos russos tem por objetivo desmilitarizar a Ucrânia e sua desnazificação.

Vai caindo a ficha das populações do mundo e principalmente, dos europeus de que este posicionamento criminoso de um setor da Ucrânia só serve aos interesses dos EUA em esvaziarem seus estoques de armas, vendê-las e ampliar o domínio do setor financeiro transnacional. Trump rasgou o acordo nuclear com o Irã.

Setores da esquerda que questionam esta operação militar especial da Rússia na Ucrânia não entendem o que está em jogo. Não entendem a importante função da Rússia de demarcar limites a ação do imperialismo norte-americano e o quanto isto representa para um mundo multipolar. Não se trata apenas de um mundo multipolar de forma genérica, mas um mundo multipolar em que países como a China, a Rússia, o Irã, a Síria, a Índia vão criando uma relação política, econômica, cultural de tipo diferente, não só entre si, mas também com outras nações. Não se trata do antigo ou atual colonialismo, imperialismo. Mas de relações em que todos os países possam se desenvolver. Não se trata de relações coloniais de rapina. No fundo se contrapõem dois blocos de sistemas antagônicos, o do capitalismo financeiro usurpador e o do socialismo integrador.

É certo que a China tem interesse no petróleo, nos minerais, nos grãos da África, mas o faz numa relação comercial em que entram empréstimos estatais para estes países construírem pontes, estradas, ferrovias, hospitais. Empréstimos que são pagos com commodities.

O tão sonhado “Outro Mundo é possível” debatido no Fórum Social Mundial vai se tornando realidade, não pelos caminhos da privatização, mas do fortalecimento do Estado com projetos socialistas; infelizmente, através da força, pois não há outra forma de se contrapor às imposições dos norte-americanos, que são armadas. Não somos a favor de uma guerra nuclear, mas reconhecemos que ela pode ocorrer, não pela vontade da Rússia e da China, mas por uma ação do imperialismo anglo americano totalmente descontrolado e em crise de sobrevivência. 

A Rússia já alertou, se os EUA estão pensando em praticar uma ação militar de grandes dimensões contra a Rússia utilizando o território de terceiros, enganam-se os norte-americanos. Os russos já alertaram que a reação será dirigida aos países mandantes desta guerra, ou seja, prioritariamente aos EUA e na sequência aos países da Europa. Os russos desenvolveram armas supersônicas atômicas com capacidade de atingir estes países.

Qual os motivos dos EUA decretaram que seu principal inimigo é a China? Uma China que tem buscado se desenvolver, tem apresentado índices de desenvolvimento surpreendentes, com crescimentos até pouco tempo em torno de 10% ao ano e mais recentemente, com taxas de crescimento em torno de 4% ao ano, bem superior à média mundial. Realizou feitos inéditos na história, em três décadas tirou mais de 700 milhões de chineses da pobreza, avanços tecnológicos, registro de patentes, e até mesmo em desenvolvimento do “sol artificial” que possibilitará uma revolução da obtenção de energia renovável e limpa. Realiza comércio com mais de 140 países do mundo, e está se tornando um dos principais parceiros comerciais com a maioria dos países do mundo. É contra isto que os EUA se contrapõem?

J. Posadas caracterizou da seguinte forma o que poderia acontecer no mundo: o processo de regeneração dos Estados operários (denominação dentro do processo de transição de países do capitalismo para o socialismo). Países chamados socialistas que passaram por processos de retrocessos políticos, como foi o caso da Rússia com a desestruturação da ex-URSScomo decorrência de conquistas obtidas incialmente em suas revoluções socialistas, ressurgiriam das cinzas para dar continuidade à construção do socialismo e numa etapa futuro, ao comunismo. Não se trata de uma regeneração linear, mas com contradições que serão corrigidas, como a corrupção e a existência de milionários na China. Estão dadas as bases para os saltos necessários para a humanidade.

Comitê de Redação
PosadistasHoje

23/12/2022

Foto Destaque: Cerimônia de inauguração do campo de gás Kovýktinskoye e uma seção do gasoduto da Força Siberiana na província de Irkutsk. (Crédito: RT)

Total Page Visits: 19 - Today Page Visits: 1